Menos de 24 horas após o anúncio de eleições a 24 de janeiro em Nampula, norte de Moçambique, para escolher o sucessor de Mahamudo Amurane, os partidos dizem-se prontos para ir às urnas. Falta anunciar os candidatos.
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Os partidos políticos pronunciaram-se logo após o anúncio, feito esta terça-feira (07.11), pelo Governo moçambicano, de que decorrerão a 24 de janeiro de 2018 as eleições intercalares em Nampula, a terceira maior cidade do país, para eleger o sucessor de Mahamudo Amurane, assassinado a 4 de outubro, quando faltava pouco mais de um ano para a realização das autárquicas, que estavam agendadas para 10 de outubro de 2018.
Os partidos dizem estar preparados para participar nos escrutínios. Alguns já cantam vitória antecipada, como o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), que governa a cidade de Nampula desde que venceu o pleito de 2013 com Mahamudo Amurane.
"Se as eleições fossem amanhã, eu diria que o MDM continuará a governar a cidade", acredita Luciano Tarieque, delegado político em Nampula do partido liderado por Daviz Simango. "Vamos ganhar, isso quer dizer que a saúde do partido a nível da base está bem", disse Tarieque, sem avançar, porém, se o MDM já definiu ou não que candidato irá concorrer.
Continuar os ideais de Amurane
Já o Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), que nas eleições passadas foi derrotado por Mahamudo Amurane, acredita que a corrida eleitoral desta vez é para vencer. "O partido vai concorrer às eleições intercalares. Temos candidato. Há trabalhos que estão a acontecer no terreno com as brigadas", disse Filomena Mutoropa.
Partidos preparam-se para eleições em Nampula
A secretária-geral do partido, que se candidatou à presidência do município em 2013, não revelou se vai ou não recandidatar-se em 2018, deixando a decisão ao critério do PAHUMO. Filomena Mutoropa diz que o seu partido vai se inspirar nos ideais de Mahamudo Amurane. "Ele fazia o trabalho que o partido PAHUMO, quando ganhar, vai fazer também", disse.
Mário Albino Muquissice, presidente do partido Acção do Movimento Unido Integral para a Salvação Integral (AMUSI), também está confiante na vitória. "Estamos preparadíssimos para vencer as eleições. Candidato ainda não temos, mas o partido, agora que se anunciaram as datas, vai se preparar no sentido de apurar o candidato", adiantou.
RENAMO volta à corrida
Quem também quer concorrer é a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que não participou nas eleições autárquicas de 2013 - um boicote para exigir a revisão do pacote eleitoral.
"O elemento que era um entrave já foi removido, agora não há razões para nos abstermos desse processo", sublinha Luís Trinta, o delegado provincial do maior partido oposição de Moçambique. "Já temos, em princípio, as pessoas indicadas, mas não temos um único [candidato] definido, explica Luís Trinta. "E sobre a vitória: o povo é que vai decidir", acrescenta.
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), através do porta-voz Caifadine Manasse, já se pronunciou no mês passado sobre a sua participação nas eleições intercalares no municipio de Nampula, afirmando que o partido vai vencer a corrida.
Com a marcação da data, o processo será agora liderado pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que deverá organizar um calendário de atividades para a realização do escrutínio no dia marcado.
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.