Paul Biya declarado vencedor das presidenciais nos Camarões
AFP | EFE | ms
22 de outubro de 2018
No poder há 36 anos, Paul Biya, de 85 anos, conseguiu uma vitória esmagadora nas controversas presidenciais de 7 de outubro. Governo reforçou a segurança na capital. Nas regiões anglófonas há registo de tiroteios.
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O Tribunal Constitucional, dominado por partidários de Paul Biya, que governa o país desde 1982, começou esta segunda-feira (22.10) a divulgar os resultados da votação.
O Presidente mais velho do continente africano obteve 71,28% dos votos, consolidando-se, assim, como o segundo líder de África há mais tempo no poder, logo atrás do Presidente de Guiné Equatorial, Teodoro Obiang.
Biya derrotou oito candidatos, em eleições que contaram com a participação de 53,85% dos 6,6 milhões de eleitores registados. Em segundo lugar ficou o opositor Maurice Kamto, do Movimento para o Renascimento dos Camarões (MRC), com apenas 14,23% dos votos.
Segundo o órgão, o político de 85 anos obteve uma vitória esmagadora em seis das dez regiões do país, preparando-se agora para cumprir um novo mandato de sete anos.
Nas sete regiões estão incluídas as duas regiões anglófonas, a oeste e noroeste do país, onde o Governo tem reprimido brutalmente os separatistas, que boicotaram as eleições. A votação foi interrompida nas áreas anglófonas, onde a taxa de participação foi inferior a 5%, de acordo com o International Crisis Group.
Tiroteio nas regiões anglófonas
Durante a manhã houve um tiroteio em Buea, capital da região anglófona no sudoeste do país, que nos últimos meses tem sido abalada pela violência, disseram várias testemunhas à AFP .
O Governo reforçou a segurança na capital, Yaounde, para onde foram enviados camiões da polícia antimotim e forças de segurança.
No domingo (21.10), as autoridades proibiram uma marcha da oposição na capital comercial, Douala, para denunciar a "fraude vergonhosa e maciça" na eleição. Cerca de 30 pessoas foram presas no local.
O Conselho Constitucional teve 15 dias após a votação para analisar todas os recursos sobre a eleição e rejeitou todas as 18 reclamações. Maurice Kamto, que se declarou vencedor da votação muito antes do anúncio dos primeiros resultados, alegou que seis dos 11 membros do Conselho Constitucional estavam inclinados a favor de Biya.
Kamto foi declarado vencedor na província de Littoral - a única onde até agora não venceu Paul Biya -, onde obteve 38,6% dos votos. O candidato também pediu que a votação seja anulada em sete regiões, citando "diversas irregularidades, casos sérios de fraude e múltiplas violações da lei".
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.