O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, termina esta quinta-feira uma visita de dois dias a Angola. Já se encontrou com o homólogo angolano, João Lourenço, para falar sobre a situação da região dos Grandes Lagos.
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O chefe de Estado do Ruanda chegou esta quarta-feira (20.03) a Luanda para uma visita de dois dias a Angola, onde se reuniu, em privado, com João Lourenço. No final do encontro, que durou cerca de uma hora, não houve declarações aos jornalistas. Segundo a imprensa angolana, os dois líderes falaram sobre o reforço das relações bilaterais e a situação da região dos Grandes Lagos.
Em fevereiro, Angola e Ruanda assinaram, em Luanda, um acordo de cooperação em matéria de segurança e ordem pública, "que prevê a formação de agentes de segurança de outros países da região nos dois países, como forma de contribuir para a paz e estabilidade nos Grandes Lagos", avançou a Angop.
Mais visitas esta semana
A deslocação de Kagamé a Luanda acontece num momento em que Angola tem previsto receber, ainda no decorrer da semana, várias personalidades internacionais, como o rei Mohamed VI, de Marrocos, e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, além do secretário de Estado Adjunto norte-americano, John J. Sullivan, que na segunda-feira terminou uma visita ao país.
No próximo sábado (23.03), a convite de João Lourenço, pelo menos três chefes de Estado da África Austral estarão em Angola para celebrar o "Dia da Libertação da África Austral", decretado na cimeira da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral realizada em Windhoek em agosto de 2018, cujo ato central decorrerá no Cuíto Cuanavale, na província do Cuando Cubango.
Questionado sobre o porquê de Angola estar, nos últimos meses, a ser palco de inúmeras visitas oficiais, o ministro das Relações Exteriores angolano Manuel Augusto justificou que Luanda está a tornar-se uma "placa giratória" da diplomacia internacional.
Ainda este ano, estão previstas visitas oficiais do Presidente francês, Emmanuel Macron, e da chanceler alemã, Angela Merkel.
Refugiados: começar de novo no Uganda
Quem saiu dos países vizinhos para procurar uma vida melhor no Uganda pode construir uma casa, ter um emprego ou até ter um terreno só para si. Este é o resultado das decisões das autoridades do país.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma política liberal para os refugiados
O Uganda é um dos países com políticas mais liberais em relação aos refugiados. Cerca de meio milhão de pessoas de países vizinhos devastados pela guerra, como a República Democrática do Congo, Sudão do Sul, Somália ou Burundi, procuram abrigo no Uganda. Cerca de 100 pessoas chegam aos campos do sudoeste do país todos os dias.
Foto: DW/S. Schlindwein
Do Burundi ao Uganda, passando pelo Ruanda
Atualmente, refugiados, principalmente do Burundi, procuram abrigo no Uganda. Em julho de 2015, o burundês Pierre Karimumujango foi para o Ruanda, com a sua mulher e os seus três filhos. "Vivíamos em campos sobrelotados. É difícil conseguirmos ter estabilidade lá", diz. A partir daí, continuaram a sua viagem para o Uganda de autocarro.
Foto: DW/S. Schlindwein
Terem a sua própria terra
"Não tínhamos nada quando chegamos, sem ser as roupas que tínhamos no corpo", diz Karimumujango. O Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas deu-lhe utensílios de cozinha, vasilhas de água, tendas e alimentos. O Governo do Uganda deu um pedaço de terra a cada família, onde poderiam construir uma casa e cultivar alimentos. O agricultor burundês plantava mandioca.
Foto: DW/S. Schlindwein
Ajuda exterior
Os recém-chegados recebem roupa em segunda mão, geralmente doações da Europa. O Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas e várias organizações não-governamentais internacionais ajudam a fornecer bens aos refugiados. O Uganda é um país pobre e, sem ajudas, seria fortemente abalado pela grande onda de refugiados.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade só para refugiados
O campo Nakivale no sudoeste do Uganda é o maior do país. Mais de 100 mil refugiados vivem numa área de cerca de 180 km² - é quase uma cidade. A terra, localizada na seca e praticamente inabitada savana, pertence ao Governo, que distribui as parcelas pelos refugiados, que podem construir as suas próprias casas.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma nova vida, junto aos compatriotas
Em Nakivale, os refugiados vivem em "distritos", de acordo com o seu país de origem. Desde o início da crise no Burundi no último ano, cerca de 22 mil burundeses procuraram asilo no Uganda. No campo de refugiados criaram uma "Pequena Bujumbura", batizada em honra à capital do seu país. Alguns deles vêm para o Uganda com todos os seus pertences e poupanças, para que possam começar uma nova vida.
Foto: DW/S. Schlindwein
Um novo mercado de trabalho
O centro de Nakivale é como uma pequena cidade: é possível encontrar carpinteiros, oficinas, alfaiates, cabeleireiros, lojas e farmácias. Muitos refugiados tentam retomar as profissões que tinham nos seus países de origem e há quem traga bens e ferramentas consigo e crie novos empregos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Refugiados como fator económico
Um moleiro burundês trouxe consigo o seu moinho para o Uganda. Michel Tweramehezu, de 16 anos, também do Burundi, ficou feliz por encontrar um trabalho no campo. "Não há muito para fazer aqui", afirma. O Governo do Uganda vê os refugiados como um potencial ativo económico, não é necessário visto de trabalho. Tudo aquilo de que precisam é ter um papel ativo numa área económica.
Foto: DW/S. Schlindwein
As políticas poderosas da África Oriental
Yoweri Museveni, Presidente do Uganda, gosta de se apresentar como o 'avô da região' e mantém um conjunto de políticas fortes, onde os refugiados têm um papel de relevo. Ativistas da oposição e rebeldes dos países vizinhos estão no meio daqueles que procuram refúgio no Uganda, que está ciente das dimensões políticas das medidas que adota em relação aos refugiados.
Foto: DW/S. Schlindwein
Desporto contra o ódio
Nos campos, os conflitos continuam: os Hutus e os Tutsis, do Ruanda, continuam a viver em diferentes distritos de Nakivale. Desentendimentos ocorrem com frequência, e é aí que a polícia do campo tem de atuar e mediar. O desporto é uma das formas usadas para reconciliar os povos. As competições de breakdance, um centro para a juventude e uma estação de rádio também ajudam a reduzir a violência.
Foto: DW/S. Schlindwein
Escassez de quase tudo
Olive Nyirandambyza saiu do leste da República Democrática do Congo (RDC) em 2007. Cinco dos filhos da mulher com 38 anos nasceram em Nakivale. Ela recebe 50 kg de milho mensalmente do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas. "Muitas vezes, não é suficiente e o meu marido tem de ir até à cidade trabalhar para os ugandenses", diz. Falta-lhe sabão, produtos de higiene e medicamentos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Nos campos, só há escolaridade básica
A maioria dos habitantes de Nakivale são crianças em idade escolar. Há seis escolas primárias públicas e gratuitas no campo, geridas pelo Estado. Não há escolas mais avançadas e os estudantes do secundário têm de percorrer grandes distâncias até à aldeia mais próxima. A escola é privada e a maioria das famílias não consegue pagar as propinas.
Foto: DW/S. Schlindwein
Gado como forma de rendimento
Alguns refugiados, como os Banyamulenge do leste da RDC, os Tutsi do Ruanda ou os do Burundi, trazem as suas cabeças de gado com eles para Nakivale. Nos campos férteis de erva que circundam o campo de refugiados encontram bastante alimento. Para muitas famílias, o gado funciona como contas bancárias vivas. Para pagar as propinas escolares, as vacas são vendidas no mercado de gado de Nakivale.
Foto: DW/S. Schlindwein
É difícil regressar a casa
Ndahayo Ruwogwa acredita que irá morrer no Uganda. Aos 69 anos, perdeu o seu braço direito durante a guerra na RDC, o seu país natal. Vive em Nakivale há 13 anos, com a sua família de 13 pessoas. "Ao menos, há paz no Uganda. Temos a oportunidade de ter uma nova vida", diz. "O meu país continua em guerra. Provavelmente, nunca poderei regressar".