Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama “são homens de bom juízoʺ, considera o delegado da RENAMO na província da Zambézia. Abdala Ossifo diz que os membros do seu partido estão muito felizes pelos esforços para o alcance da paz.
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O delegado provincial da RENAMO, o maior partido da oposição, na província central da Zambézia, explicou esta sexta-feira (17.03.), em conferência de imprensa, que os membros e simpatizantes da RENAMO estão satisfeitos.
Abdala Ossifo afirma que "o país está a viver uma derradeira democracia e com base nisso está-se a resgatar a paz." Ele considera ainda que o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, estão unidos para definitivamente acabar com a guerra.
O membro da RENAMO relata: "Passamos por todos os distritos da província, palcos da fase de "corta-pescoço" até as localidades. E nessas voltas conseguimos reunir [pessoas] nos postos administrativos, encontramos muita gente alegre e emocionada. Elas disseram que agradecem ao líder da RENAMO e ao Presidente da República [pelos esforços]. Os alunos conseguem estudar, os curandeiros deslocam-se sem dificuldades. Temos que fazer esforços para não defraudar os pensamentos de Nyusi e Dhlakama."
Moçambique vive desde 2013 um clima de insegurança político-militar. Vários confrontos armados causaram centenas de mortos e feridos no centro do país, zona considerada bastião da oposição. Após várias rondas de negociações de paz entre o Governo e a RENAMO - apesar de faltar ainda um acordo final – Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama anunciaram uma trégua nos confrontos.
Crença numa paz definitiva
Além dos membros da RENAMO, também os representantes da FRELIMO, o partido no poder, e membros do Governo provincial da Zambézia mostram satisfação e optimismo quanto a um cessar-fogo definitivo.
Beato Dias é diretor provincial da Juventude e Desporto e está otimista: "Tenho a certeza que o Presidente da República vai dialogar com o líder da RENAMO, e o país viverá em paz para sempre. A paz é definitiva, estes dias as coisas estão a correr normalmente, todo o mundo está satisfeito com isso."
O edil de Quelimane, Manuel de Araújo, também acredita que Moçambique em breve estará em paz: "Nós moçambicanos não podemos ficar à espera que a trégua acabe, cada um de nós deve fazer a sua parte para que a trégua seja definitiva. O povo moçambicano já sofreu demais, tivemos a guerra de Armando Guebuza."
Araújo finaliza dizendo que "o povo não pode ser carne para canhão, o povo não pode continuar a ter dirigentes que pedem dinheiro para comprar barcos que não pescam."
Recentemente, o líder da RENAMO falou aos jornalista da Zambézia, em teleconferência, e sublinhou que a paz em Moçambique será alcançada quando o Presidente da República aceitar os pedidos da RENAMO. Caso não haja entendimento, a trégua será rompida.
Afonso Dhlakama disse: "Vai depender do Presidente da República, esta trégua que dei de três meses está a resultar muito bem, há muitos produtos nos mercados e os transportes estão a circular normalmente nas estradas."
Muitos membros da RENAMO, funcionários públicos, teriam abandonado as suas atividades porque estavam a ser perseguidos. Neste momento, segundo o partido todos já regressaram aos seus postos de trabalho, incluindo os cinco membros da Assembleia Provincial que também se encontravam em parte incerta.
17.03.2017 Moçambique - PAZ/Renamo - MP3-Mono
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.