Paz em Moçambique: Nyusi fala em "consensos" nas negociações
Lusa | tms
21 de abril de 2017
Declarações do Presidente da República surgem um dia após Afonso Dhlakama, líder da RENAMO, ter afirmado que "guerra está no fim". Filipe Nyusi também falou em "confiança mútua".
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O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, anunciou que estão ser "alcançados consensos" e que há uma maior "confiança mútua" nas negociações com o líder da oposição, Afonso Dhlakama com vista à pacificação do país.
"Tenho estado a falar com o Presidente da RENAMO [Resistência Nacional Moçambicana] e graças a esses contatos temos conseguido consensos e elevado a confiança mútua", disse o chefe de Estado, durante um comício realizado em Macaneta, 30 quilómetros a norte de Maputo, na quinta-feira (20.04.).
De acordo com Nyusi, os contactos diretos com Dhlakama acontecem ao mesmo tempo em que avançam os trabalhos de duas comissões em que participam o Governo e o maior partido da oposição.
Uma comissão discute a descentralização do país e a outra é dedicada a assuntos militares. "Tudo farei para que a paz seja efetiva, dentro dos parâmetros da lei", declarou o Presidente.
Dhlakama: "Guerra está no fim"
As declarações de Filipe Nyusi surgem um dia depois de Afonso Dhlakama ter dito que a "guerra está no fim".
O líder da RENAMO falava numa teleconferência a partir das matas da Gorongosa, onde diz ter criado o seu refúgio, e em que falou com jornalistas e membros do partido, no Chimoio, também no centro no país.
"Tenho mantido contactos com o meu irmão Filipe Nyusi para ver se encontramos uma saída para a paz efetiva porque não queremos ver mais sangue" derramado, referiu.
FRELIMO está "otimista"
Em entrevista à agência de notícias Lusa, o porta-voz da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, afirmou que Afonso Dhlakama está a dar um sinal de que "a paz veio para ficar no país".
"Nós, a FRELIMO, apreciamos positivamente posições que transmitem otimismo em relação à prevalência de uma paz efetiva em Moçambique", disse António Niquice.
Niquice afirmou que as declarações do líder da RENAMO são um sinal de que está a funcionar o compromisso do Presidente Filipe Nyusi e e do seu partido com a restauração de uma paz duradoura no país. "É encorajador que mais vozes da sociedade moçambicana se juntem a esse desejo", ressaltou o porta-voz.
Trégua
Moçambique vive uma trégua decretada a 03 de março por Afonso Dhlakama, em vigor até 04 de maio - daqui a duas semanas. É a terceira trégua anunciada desde dezembro, depois de uma primeira, que durou uma semana, logo prorrogada por uma segunda e pela atual de 60 dias.
Entre 2013 e finais de 2016, o país foi assolado por ações de violência opondo as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da RENAMO, no âmbito da contestação do processo eleitoral de 2014 pelo principal partido da oposição.
O eterno segundo lugar: uma vida na oposição em África
Não são apenas os presidentes que não mudam durante décadas nalguns países africanos. Também os chefes da oposição ocupam o cargo toda a vida, vedando o caminho às novas gerações. Conheça alguns eternos oposicionistas.
Foto: Reuters
O guerrilheiro moçambicano
Afonso Dhlakama é um veterano entre os oposicionistas africanos de longa duração. Em 1979 assumiu a liderança do movimento de guerrilha Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. Este tornou-se num partido democrático. Mas Dhlakama é famoso pelo seu tom combativo. Por vezes ameaça pegar em armas contra os seus inimigos. E concorreu cinco vezes sem sucesso à presidência do país.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Morgan Tsvangirai - o resistente
O ex-mineiro tornou-se num símbolo da resistência contra o Presidente vitalício do Zimbabué, Robert Mugabe. Foi detido, torturado, sofreu fraturas do crânio e uma vez tentaram, sem sucesso, atirá-lo do décimo andar de um edifício. Após as controversas eleições de 2008, o líder do Movimento pela Mudança Democrática chegou a acordo com Mugabe sobre uma partilha do poder.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
O primeiro jurista doutorado na RDC
Étienne Tshisekedi foi nomeado ministro da Justiça antes de terminar o curso. Só mais tarde se tornou no primeiro jurista doutorado da República Democrática do Congo. Teve vários cargos na presidência de Mobuto, mas tornou-se crítico do regime. Foi preso e obrigado a abandonar o país. Liderou a oposição de 2001 até a sua morte em fevereiro de 2017. Perdeu as eleições de 2011 contra Joseph Kabila.
Foto: picture alliance/dpa/D. Kurokawa
Raila Odinga: a política fica em família
Filho do primeiro vice-presidente do Quénia, Raila Odinga nunca escondeu a ambição de um dia assumir a presidência. Foi deputado ao mesmo tempo que o pai e o irmão. Mas não se pode dizer que seja um militante fiel de algum partido: já mudou de cor política por quatro vezes. Após a terceira derrota nas presidenciais de 2013, apresentou queixa em tribunal contra o resultado e ... perdeu.
Foto: Till Muellenmeister/AFP/Getty Images
O Dr. Col. Kizza Besigye do Uganda
Besigye já foi um íntimo de Museveni, para além do seu médico privado. Quando começou a ter ambições de poder, transformou-se no inimigo número um do Presidente do Uganda. Foi repetidas vezes acusado de vários delitos, preso e brutalmente espancado em público. Voltou a candidatar-se nas presidenciais de maio de 2016, durante as quais ocorreram novamente distúrbios violentos.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Kurokawa
Juntos por um novo Chade
Saleh Kebzabo (esq.) e Ngarlejy Yorongar são os dois rostos mais importantes da oposição no Chade. Embora sejam de partidos diferentes, há muitos anos que lutam juntos pela mudança política no país. Mas desavenças no ano de eleições 2016 enfraqueceram a aliança. A situação beneficiou o Presidente perene Idriss Déby, que somou nova vitória eleitoral.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cogne
O Presidente autoproclamado
Desde o início da sua atividade política que Jean-Pierre Fabre se encontra na oposição do Togo. O líder da “Aliança Nacional para a Mudança” concorreu por duas vezes à presidência. Após a mais recente derrota, em abril de 2015, rejeitou os resultados do escrutínio e autoproclamou-se Presidente. Sem sucesso.
O pai foi Presidente do Gana na década de 70. Nana Akufo-Addo demorou muitos anos até seguir-lhe as pisadas. Muitos ganeses não levam muito a sério as tentativas desesperadas para chegar à presidência, tendo dificuldades em identificar-se com este membro das elites. Mas em novembro de 2016, Akufo-Addo candidatou-se pela terceira vez e venceu as eleições. Desde janeiro de 2017 é Presidente do Gana.