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Liberdade de expressãoRuanda

Pegasus: Ruanda nega ter espiado Presidente da África do Sul

Benita van Eyssen | Wendy Bashi
23 de julho de 2021

O Ruanda é acusado de ter utilizado o programa Pegasus contra uma lista de alegados alvos composta por 3.500 pessoas, incluindo políticos, ativistas e jornalistas. O Presidente da África do Sul terá sido um dos visados.

Kombobild Cyril Ramaphosa und Paul Kagame
Cyril Ramaphosa (esq.), Presidente da África do Sul, e Paul Kagame, Presidente do RuandaFoto: Jerome Delay/AP Photo/Stephane Lemouton/ABACAPRESS.COM/picture alliance

No domingo (18.07), um consórcio de 17 órgãos de comunicação internacionais denunciou que jornalistas, ativistas e dissidentes políticos em todo o mundo teriam sido espiados graças a um 'software' desenvolvido pela empresa israelita NSO Group, o Pegasus. 

O Ruanda é acusado de ter utilizado o programa contra uma lista de alegados alvos composta por 3.500 pessoas, incluindo políticos, ativistas e jornalistas, desde 2016.

Entretanto, Kigali considerou, nesta quarta-feira (21.07), de falsas as acusações que pesam sobre si, destacando que "estas falsas acusações fazem parte de uma campanha em curso para causar tensões entre o Ruanda e outros países e para semear desinformação sobre o Ruanda a nível interno e internacional".

Governo sul-africano investiga

Entre as figuras espionadas pelo governo de Paul Kagame estaria supostamente, o atual estadista sul africano, Cyril Ramaphosa.

O que já obrigou o Governo sul-africano a iniciar uma investigação para apurar se telemóvel pessoal de Ramaphosa teria sido pirateado, segundo anunciou, nesta quarta-feira (21.07), a ministra interina da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni.

"É claro que não estamos satisfeitos por saber que fomos alvo, porque acreditamos que isso não só infringe a privacidade do Presidente como também a soberania deste país", argumenta.

Edifício da NSO Group, empresa israelita responsável pelo 'software' de espionagem PegasusFoto: Jack Guez/AFP/Getty Iamges

Na origem da espionagem a Ramaphosa estariam as tensas relações diplomáticas entre os dois países depois que Patrick Karegeya, antigo chefe da espionagem do Ruanda e crítico do Presidente Paul Kagame refugiado na África do Sul, foi encontrado estrangulado no quarto de hotel de Joanesburgo em janeiro de 2014.

Nos anos seguintes, outras figuras críticas do regime de Kigali refugiadas na África do Sul teriam sido alvos de abate, por parte da secreta ruandesa. Por outro lado, Ruanda tentou sem sucesso pedir à Pretória a expulsão de figuras consideradas "personas no gratas” de Kagame, mas as autoridades sul-africanas mantiveram-se fechadas a este quesito.

Contudo, a chegada ao poder de Cyril Ramaphosa, em 2018, terá amenizado as tensões diplomáticas entre Kigali e Pretória.

Por que razão estaria Kigali a espionar o telemóvel de Ramaphosa? Shenilla Mohamed - diretora executiva da Amnistia Internacional na África do Sul, responde: "É difícil para nós dizer o que eles queriam ou porque o estavam a fazer. Mas o certo é que o Ruanda é um dos clientes do Grupo NSO. Os governos têm muitas questões que não querem que sejam tornadas públicas".

Dinheiro mal gasto

A par de Ramaphosa, o consócio também denuncia que figura da lista de espionagem ruandesa a filha do opositor Paul Rusesabagina, Carine Kanimba, que se considera chocada.

Paul Rusesabagina, opositor ruandêsFoto: Imago Images/Belga/M. Maeterlinck

"Isso significa que eles têm acesso a todas as minhas informações, mas não estou desanimada porque conseguimos expor as tácticas da ditadura ruandesa", garante.

Por outro lado, Kanimba acha desnecessário que Kigali gaste milhões de dinheiro em softwares de espionagem "quando há muita gente no Ruanda a passar fome, que precisa de medicamentos, que precisa deste dinheiro para sobreviver e o Governo ruandês prefere colocar-me sob escuta".

As alegações de que o estadista sul-africano estaria a ser espionado por Kigali, chegam num momento, em que no plano interno, Ramaphosa enfrenta fortes críticas, pelo facto do seu Executivo não ter conseguido evitar os recentes tumultos no país, que se seguiram depois da prisão do ex-Presidente Jacob Zuma.

"Tenham a certeza de que evitámos muita coisa"

Mas a ministra da Agência de Segurança do Estado (SSA), Ayanda Dlodlo, desdramatiza as críticas e assegura: "Tenham a certeza de que evitámos muita coisa. O que se vê é apenas uma parte do que poderia ter acontecido. Tentámos o nosso melhor nível sob uma situação muito difícil".

Neste momento, multiplicam-se criticas contra o uso da tecnologia israelita para espionagem. Christian Mihr, diretor executivo da ONG Repórteres Sem Fronteiras é categórico: "Precisamos de um regime de sanções global que proíba e sancione fundamentalmente a exportação de tal tecnologia para países autoritários. Porque tal tecnologia de espionagem é hostil à liberdade de imprensa e põe em perigo vidas humanas no pior das hipóteses".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considera "inaceitáveis” as denúncias. Para Von der Leyen "a liberdade de imprensa é um valor europeu fundamental”.

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