Conacri: Pelo menos dois mortos em repressão de protestos
Lusa
17 de fevereiro de 2023
Pelo menos duas pessoas morreram e cerca de 60 ficaram feridas na repressão dos protestos na capital da Guiné-Conacri, na quinta-feira, pelo regresso à ordem constitucional após o golpe de 2021, denunciou oposição.
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A Frente Nacional em Defesa da Constituição (FNDC), oficialmente dissolvida pelas autoridades guineenses, indicou numa mensagem na sua conta do Facebook que o "balanço provisório" dos protestos é de dois mortos e 58 feridos, incluindo vários que foram atingidos por balas.
Segundo a mesma fonte, os mortos são dois jovens de 16 e 19 anos e 47 pessoas foram presas pelas forças de segurança.
A organização também denunciou rusgas policiais em "casas particulares", bem como "atos de pilhagem e insultos públicos das forças de segurança contra ativistas pró-democracia" durante a repressão dos protestos.
O chefe da Polícia Nacional da Guiné-Conacri, Abdoulaye Sampil, recusou-se a comentar as baixas entre os manifestantes e disse que sete agentes foram feridos durante os protestos, segundo o portal de notícias Media Guinée.
Confrontos nos subúrbios
Grupos de jovens e forças de segurança guineenses envolveram-se, na quinta-feira (16.02), em confrontos nos subúrbios de Conacri.
Vários bairros ao longo da estrada de Le Prince, que atravessa aquele subúrbio, foram palco de confrontos entre grupos de jovens, que atiraram pedras e montaram barricadas na estrada, e polícias militares e polícias, que tentaram dispersá-los com gás lacrimogéneo, tendo sido ouvidos disparos de armas.
Os confrontos terão começado na quarta-feira à noite. O protesto foi convocado pelo FNDC, apesar de a junta guineense ter proibido manifestações para exigir o regresso à ordem constitucional face aos atrasos das autoridades militares na convocação de eleições após o golpe de Estado de 2021.
"Não haverá caça às bruxas", promete coronel Doumbouya
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Em agosto, o organismo da oposição apresentou uma lista de 13 pessoas ao Tribunal Penal Internacional (TPI) pelo seu alegado papel na repressão dos protestos, incluindo o líder da junta militar e presidente de transição, Mamady Doumbouya.
O Comité Nacional para a Reconciliação e Desenvolvimento (CNRD), nome oficial da junta, foi formado na sequência do golpe de Estado de setembro de 2021 contra o então Presidente, Alpha Condé, após meses de crise política no país por causa da decisão do chefe de Estado de alterar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato e da sua vitória nas eleições presidenciais de 2020, nas quais os outros candidatos denunciaram a fraude.
A FNDC convocou uma marcha para exigir a libertação de três dos seus líderes presos e de todos os prisioneiros detidos por razões políticas, bem como o rápido regresso dos civis ao poder. Os principais partidos, praticamente reduzidos à inação, apelaram também à mobilização.
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Junta militar no poder desde golpe
A Guiné-Conacri é governada por uma junta militar que tomou o poder através de um golpe de Estado em 5 de setembro de 2021, num dos vários golpes semelhantes na África Ocidental nos últimos dois anos. A junta militar no poder proibiu todas as manifestações desde 2022.
Os militares comprometeram-se a entregar o poder aos civis após a realização de eleições, no final de um período durante o qual dizem querer concluir um vasto conjunto de reformas.
A junta concordou, sob pressão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em limitar este período transitório a dois anos a partir de janeiro de 2023.
A oposição acusa a junta militar de ter tomado o poder e silenciado qualquer voz dissidente através de detenções de líderes políticos e da sociedade civil e do lançamento de investigações judiciais.
Os principais partidos recusam o diálogo com a junta militar sobre o conteúdo do chamado período de transição, nas condições estabelecidas pelas autoridades no poder em Conacri.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.