Organizações de ajuda humanitária informam que quase 700 crianças deixaram suas casas após ataque terrorista em Palma, no final de março. Três mulheres deram à luz durante a fuga. NGOs apelam por "ajuda urgente".
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Um total de 3.591 pessoas que fugiram ao ataque a Palma, norte de Moçambique, foram recebidas em Pemba, capital da província de Cabo Delgado, anunciou hoje o Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD).
Segundo a entidade, foram necessárias 43 viagens aéreas e quatro percursos de navio para transportar os deslocados, sendo que os que não tinham família ou amigos para os receber foram acolhidos em cinco centros transitórios.
O relatório do INGD indica que das 3.591 pessoas que chegaram a Pemba, 669 são crianças e 529 são mulheres, avançando que três destas mulheres deram à luz durante as viagens.
Dos cinco centros transitórios que estavam em funcionamento na cidade, pelo menos três já foram encerrados, estando atualmente a funcionar apenas o Lar da Esperança e um complexo desportivo no bairro Expansão, com um total de 253 pessoas.
A "nova onda" de deslocados requer "ajuda humanitária urgente", refere o INGD.
Metade dos deslocados são crianças
A vila de Palma, a cerca de seis quilómetros do projeto de gás natural da Total, sofreu um ataque armado a 24 de março que as autoridades moçambicanas dizem ter resultado na morte de dezenas de pessoas e na fuga de milhares.
De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), cerca de 9.900 pessoas, quase metade crianças, fugiram de Palma devido à violência e, desde 24 de março, chegaram aos distritos de Nangade, Mueda, Montepuez e Pemba.
Em Pemba, a última grande embarcação com deslocados chegou na quinta-feira, com 1.200 dos que se refugiaram junto ao recinto dos projetos de gás, em Afungi. A violência em distritos mais a norte da província começou há três anos e está a provocar uma crise humanitária com 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.