Equipa montada por Governo e Sasol não conclui inquérito sobre a contratação de trabalhadores de fora do distrito de Inhassoro, sul de Moçambique. Trabalhadores exigem transparência no recrutamento de mão de obra.
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Jovens do distrito de Inhassoro, na província de Inhambane, acusam a petroquímica sul-africana Sasol e as autoridades de contratarem trabalhadores de fora da região para a exploração de gás natural.
A reclamação do grupo baseia-se em acordos firmados entre a comunidade e a concessionária que explora os recursos minerais da região. O grupo exige mais transparência na contratação dos recursos humanos e a valorização da mão de obra local.
Além de recrutar funcionários de outras províncias, o grupo de jovens levantou que cerca de 100 trabalhadores estrangeiros teriam sido contratados pela empresa para trabalharem nas plataformas de Temane e Mangugumete.
"Trabalhadores vão ingressar em Balorré e o número empregados de Inhassoro não chega a cinco", acrescentou António Mazive, um dos jovens que que se dizem preteridos pela empresa sul-africana.
No início deste mês, um grupo que exige a contratação de mão de obra local montou barricadas com árvores e paus, obstruindo o acesso à sede do governo distrital. O protesto foi violentamente reprimido pela polícia, que disparou balas de borracha, ferindo uma estudante.
Empresas subcontratadas
A Sasol informou à DW África que compreende as queixas das dezenas de jovens em Inhassoro, mas uma empresa subcontratada teria recrutado funcionários de fora do distrito. A porta-voz da companhia, Açucena Paul, diz que a petroquímica sul-africana não tem ingerência sobre os contratos de pessoal de empresas terceirizadas.
Permanece impasse entre SASOL e trabalhadores de Inhassoro
"Não é a Sasol que decide sobre isso. Sempre há [empresas] subcontratadas que chamam pessoas de fora, quando não devia ser desta forma. É natural que quem veja vagas sendo ocupadas por pessoas de fora fique incomodado", disse a representante da empresa.
Uma equipa multissectorial deveria ter divulgado relatório sobre o tema na semana passada, mas a apresentação da conclusão do inquérito foi cancelada, sem dia definido para ocorrer. Segundo Paul, o tema está a ser avaliado com os jovens desempregados.
"É um período em que se está a fazer uma investigação por parte do Governo e da Sasol para identificar o que estaria a acontecer e qual será a reação", esclareceu a representante da Sasol.
O secretário permanente do distrito de Inhassoro, José Matsinhe, lembra que as reivindicações dos jovens não são uma novidade. "Esta questão da falta de transparência já vinha sendo colocada há um bom tempo como forma de contornar e melhorar o processo de contratação de mão de obra, para permitir que maior parte dos jovens possa ter emprego."
Os mercados-fantasma de Inhambane
Em Inhambane, no sul de Moçambique, o Governo tem construído vários mercados, mas poucos são utilizados. Os vendedores comercializam os seus produtos nas ruas e avenidas, alegando que os mercados não atraem os clientes.
Foto: DW/L. da Conceição
O mercado que nunca funcionou
O mercado de peixe da vila de Vilankulo foi inaugurado este ano, mas ainda não começou a funcionar. Os vendedores fora do mercado desconhecem os motivos para o não funcionamento do estabelecimento. O mercado foi construído pela empresa sul-africana Vilcon, em parceria com a empresa PROPESCA, e custou aos cofres públicos o equivalente a pouco mais de 140 mil euros.
Foto: DW/L. da Conceição
Lotação máxima
A União Europeia e o Governo da Suécia financiaram em 2017 a construção de um mercado grossista em Maxixe, que custou o equivalente a 290 mil euros. Foi inaugurado a 9 de setembro, período da campanha eleitoral. Mas, até agora, o mercado tem apenas nove comerciantes - apesar de todos os postos constarem como "ocupados".
Foto: DW/L. da Conceição
"As pessoas compram mais nas ruas"
Muitos vendedores ocupam as ruas e avenidas da província em busca do sustento familiar. Várias vezes são impedidos pelas autoridades municipais ou provinciais, mas voltam sempre para a via pública. Questionados sobre os motivos que os levam a abandonar os mercados erguidos pelo Estado, muitos afirmam que "as pessoas compram mais nas ruas" e "dentro dos mercados ninguém entra".
Foto: DW/L. da Conceição
Luta entre vendedores e automobilistas
A presença dos vendedores informais nas ruas gera conflitos com os automobilistas, que dizem que a ocupação desorganizada dos espaços acaba por reduzir as dimensões das avenidas ou das ruas, dificultando a circulação das viaturas e pessoas. Mas, para os residentes, o facto de os vendedores ocuparem os passeios não é problema - desde que estejam organizados.
Foto: DW/L. da Conceição
Investimento perdido
No ano de 2015, as autoridades distritais de Morrumbene construíram um mercado na vila sede como forma de abrigar os vendedores informais. Na altura, recorreram à polícia para obrigar os comerciantes que ocupavam as ruas a irem para o novo mercado. Mas o resultado é este: até hoje, o mercado da vila de Morrumbene encontra-se desocupado.
Foto: DW/L. da Conceição
Construído e abandonado
Centenas de bancas construídas pelo Governo em Inhambane são abandonadas pelos vendedores, que preferem disputar passeios com peões e automobilistas nos centros das cidades e vilas. Os comerciantes dizem que nunca abandonarão os passeios para entrar nos mercados. O Governo acaba por ceder à vontade dos comerciantes para evitar clivagens políticas.
Foto: DW/L. da Conceição
"Os mercados estão longe da cidade"
Alguns consumidores nas ruas de Inhambane afirmam que preferem fazer as suas compras fora dos mercados. Um dos motivos principais desta preferência é a localização dos mercados, que não facilita a deslocação diária dos clientes. Hansa Ismael, consumidora, diz que "os mercados estão longe das cidades e ninguém tem dinheiro para apanhar transporte todos os dias".
Foto: DW/L. da Conceição
Portas fechadas desde a inauguração
Desde que foi entregue em 2016, o mercado do peixe de Maxixe funcionou menos de um mês. Os utentes dizem que o mercado não é rentável, porque gasta muito com a energia devido aos congeladores para a conservação do peixe. As autoridades afirmam não ter dinheiro para ajudar nos custos. Por isso, as portas continuam fechadas e o peixe é vendido sem condições básicas de higiene.
Foto: DW/L. da Conceição
Milhões para construção precária
Os conselhos autárquicos têm construído nos últimos anos alpendres que funcionam como mercados para a venda de diversos produtos, mas nem sempre estes locais são usados pelos utentes. As obras custam acima de 2 milhões de meticais (30 mil euros), mas, por a construção ser precária, os mercados acabam degradados sem terem sido usados.
Foto: DW/L. da Conceição
Casas de banho não usadas
A construção dos mercados em Inhambane é acompanhada também pela edificação de casas de banho, que chegam a custar mais de 7 mil euros. Mas estes espaços nunca são usados. Analistas criticam o facto de o Estado gastar tanto dinheiro em projetos pouco rentáveis e sugerem que os fundos públicos sejam antes investidos na melhoria das vias de acesso e no abastecimento de água e energia.