Em Moçambique, membros da RENAMO que apoiaram a candidatura de Elias Dhlakama em 2019 alegam ser alvos de perseguição política e afastamento dos lugares de decisão do partido. RENAMO diz que esses membros são "cobardes".
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A divisão interna na Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) iniciou em 2019 depois do congresso que elegeu o atual presidente do partido, Ossufo Momade.
Na província de Inhambane, sul de Moçambique, os membros do maior partido da oposição moçambicana, que terão apoiado a candidatura do irmão de Afonso Dhakama, Elias Dhlakama, foram mal vistos pelo delegado provincial e outros chegaram a perder os seus cargos de chefia dentro da delegação política provincial.
"Esse assunto vem na sequência do congresso onde se criou confusão com todos aqueles que apoiaram outra ala no distrito onde eu estava. E foi o delegado político provincial que informou à direção, através de uma carta que enviou para o presidente Ossufo", disse à DW Luísa Constantino, presidente da liga feminina na RENAMO em Inhambane.
Luísa disse que foi denunciada por alegadamente apoiar a eleição de Elias Dhlakama.
António Chulu é outro membro que diz ter sofrido humilhação depois do congresso, o que lhe terá feito perder votos de confiança para renovar o seu lugar na assembleia provincial.
Chulu queixa-se que até hoje não consegue nenhum cargo político dentro do partido: "Eu apoiei a candidatura do brigadeiro Elias Dhlakama, mas logo depois do congresso, quando regressámos à província, fui mal-entendido por alguns colegas mal-intencionados”.
Agressões verbais nas reuniões
Atualmente, nos encontros da comissão política provincial, tem-se registado casos de insultos por causa de perseguições internas aos membros, segundo membros da comissão política. E alguns, por temerem represálias, acabam por manifestar a sua indignação nas redes sociais e na comunicação social.
Um membro, que pediu anonimato, disse à DW que está a ser alvo de perseguição política. Tudo terá começado depois de, juntamente com outros correligionários, ter denunciado os problemas da RENAMO ao líder Ossufo Momade.
"Cada membro é livre de contribuir ou de contestar tudo aquilo que não estiver em ordem. O que fizemos [era para] organizar o nosso partido. Mas o que está a acontecer é que quem fala de tudo aquilo que é contra o estatuto da RENAMO, automaticamente desconfia-se que é contra a direção", lamenta.
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"São perturbações cobardes"
Outro membro da RENAMO, que também falou em anonimato, alerta para demissões em massa. E entende que há um propósito.
"A teoria dos Nhongos é para fazer cair por terra os outros, para permitir que o grupo que faz desmandos continue a fazer o que quer e não ter defesa lá em cima [na direção do partido]. Mas como os outros querem tirar proveitos, andam a dizer que aqueles são de lá, é uma vergonha".
Carlos Maela, deputado e delegado político provincial, sem avançar muitos detalhes, diz que os membros que tentam perturbar o partido são cobardes.
"Repudiar [crises do partido] nos órgãos de comunicação social ou então qualquer tentativa de querer perturbar o partido nas redes sociais para manifestar seja o que for, é cobardia", acusa Maela.
Afonso Dhlakama, homem de causas
O percurso de Afonso Dhlakama enquanto político e militar quase se confunde com a história de Moçambique independente. Em nome da democracia não hesitou em entrar numa guerra. Herói para uns, vilão para outros.
Foto: picture-alliance/dpa
Dhlakama, um começo na FRELIMO que não vingou
Afonso Macacho Marceta Dhlakama nasceu a 1 de janeiro de 1953 em Mangunde, povíncia central de Sofala, Moçambique. Entra para a FRELIMO perto da época da independência em 1975, mas não fica muito tempo. Em 1976 sai do partido que governa o país para co-fundar a RNM (Resistência Nacional de Moçambique), um movimento armado, com o apoio da Rodésia do Zimbabué. O objetivo: por fim a ditadura.
Foto: Imago/photothek
Dhlakama: Desde cedo líder da RENAMO
A guerra civil entre a RNM, depois denominada RENAMO, Resistência Nacional de Moçambique, e o Governo começou em 1976. Dhlakama assume a liderança da RNM depois da morte de André Matsangaíssa em combate em 1979. Já era líder quando o primeiro acordo que visava por fim a guerra foi assinado entre o Governo e o regime do apartheid na África do Sul em 1984. Mas o Acordo de Inkomati fracassou.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
AGP: Democracia entra no vocabulário com Dhlakama
Depois de 16 anos de guerra Dhlakama assina com o Governo o Acordo Geral de Paz de Roma em 1992 no contexto do fim da guerra fria e do apartheid na África do Sul. Começa uma nova era para o país, depois de uma guerra que fez perto de um milhão de mortos e milhões de refugiados. A democracia passa então a fazer parte do vocabulário dos moçambicanos, com Dhlakama a auto-intitular-se o seu pai.
Foto: picture-alliance/dpa
O começo das derrotas de Dhlakama nas eleições
Moçambique entra para a era do multipartidarismo e realiza as suas primeiras eleições em 1994. Dhlakama e o seu partido perdem as eleições. As segundas eleições acontecem em 1999 e Dhlakama volta a perder, mas rejeita a derrota. E desde então não parou de perder, facto que provocou descontentamento ao partido de Dhlakama. Reclamava de fraudes e injustiças. E nasceram assim as crises com o Governo.
Foto: Reuters/Grant Lee Neuenburg
Dhlakama: O regresso às matas como estratégia de pressão
O regresso do líder da RENAMO à Serra da Gorongosa em 2013, um dos seus bastiões militares, foi uma mensagem inequívoca ao Governo da FRELIMO. Dhlakama queria mudanças reais, que passavam pelo respeito integral do AGP, principalmente a integração dos militares da RENAMO no exército nacional, e mudança da legislação eleitoral. Assim o país voltou a guerra depois de mais de vinte anos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Armando Guebuza e Dhlakama em braço de ferro permanente
A 5 de agosto de 2014 o então Presidente Armando Guebuza e Afonso Dhlakama assinaram um cessar-fogo. Estavam criadas as condições para o líder da RENAMO participar nas eleições gerais de outubro de 2014. Dhlakama e o seu partido participam nas eleições e voltam a perder. As crise volta ao rubro e Dhlakama regressa às matas da Gorongosa.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Emboscada contra Afonso Dhlakama
A 12 de setembro de 2015 a caravana em que seguia Afonso Dhlakama foi atacada na província de Manica. Ate hoje não se sabe quem foram os atacantes. A RENAMO considerou a emboscada como uma tentativa de assassinato do seu líder. A comunidade internacional condenou o uso da violência.
Foto: DW/A. Sebastião
Aperto ao cerco contra Afonso Dhlakama
No dia 9 de outubro de 2015, a polícia cercou e invadiu a casa de Afonso Dhlakama na cidade da Beira. As forças governamentais pretendiam desarmar a força a guarda do líder da RENAMO. Os homens da RENAMO que se encontravam no local foram detidos. A população da Beira, bastião da RENAMO, juntou-se diante da casa de Dhlakama manifestando o seu apoio ao líder.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Dhlakama e Nyusi: Menos mãos melhores resultados
O líder da RENAMO e o Presidente da República decidiram prescindir de mediadores e passaram a negociar o acordo pessoalmente. Desde então consensos têm sido alcançados, um deles relativo à revisão pontual da Constituição, no âmbito do processo de descentralização em fevereiro de 2018. A aprovação da proposta pelo Parlamento é urgente, pois as próximas eleições de 2018 e 2019 dependem dele.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
Dhlakama: Não foi a bala que ditou o seu fim
Na manhã de 3 de maio o maior líder da oposição em Moçambique perdeu a vida vítima de doença. Deixa aos seus correlegionários a tarefa de negociar outro ponto controverso na crise com o Governo: a desmilitarização ou integração dos homens armados da RENAMO no exército nacional. Há quase 40 anos à frente da liderança da RENAMO teve de negociar com todos os Presidentes de Moçambique independente.