FMI recomenda a autoridades são-tomenses cuidado com dívida
Juvenal Rodrigues (São Tomé)
6 de abril de 2017
Fundo Monetário Internacional termina missão de duas semanas e considerou que a economia de São Tomé e Príncipe tem uma perspetiva favorável, devendo crescer 5% este ano.
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O Fundo Monetário Internacional considerou que a economia de São Tomé e Príncipe tem uma perspetiva favorável, devendo crescer 5% este ano, e elogiou o Governo.
Uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) deixou, esta quinta-feira (06.04), São Tomé e Príncipe, onde esteve durante duas semanas. A equipa, chefiada por Xiangming Li, fez um balanço positivo da avaliação do programa do FMI com São Tomé e Príncipe, reconheceu que há desafios consideráveis a enfrentar no plano fiscal e chamou a atenção do Governo do arquipélago para a problemática do endividamento.
O FMI recomendou às autoridades são-tomenses para terem bastante cuidado com a questão da dívida.
"Relativamente a essa matéria nós recomendámos ao Governo que tivesse bastante cuidado na contração de novos empréstimos que apenas deverão ser em termos concessionais. Isto é, que têm uma componente de donativo de 35%", disse a chefe da missão.
FMI satisfeito com a taxa de crescimento
Xiangming Li e sua equipa, que nos últimos quinze dias avaliaram o programa acordado entre a instituição de Bretton Woods e São Tomé, manifestaram-se satisfeitos com a taxa de crescimento no ano passado, estimada em 4%.
"Uma taxa bastante boa, principalmente quando comparado com os países da região. Há a registar ainda que os desembolsos internacionais têm sido mais lentos e atrasados, o país conseguiu ultrapassar essa questão e esperamos que as coisas avancem positivamente".
Xiangming Li sublinhou ainda que "o Governo levou a cabo reformas estruturais bastante importantes, nomeadamente, uma estratégia para controlar a questão do crédito malparado, da regulamentação bancária e a criação de um comité de auditoria no Banco Central".
"Desafios consideráveis"
A missão do FMI reconheceu que há "desafios bastante consideráveis", no âmbito do setor fiscal, que levou a uma diminuição da receita tributária, como consequência da redução de importação do petróleo.
"Como tal houve menos receita, assim sendo, a despesa acabou por aumentar um bocado, ainda assim o governo já pôs em prática medidas, de forma a garantir que durante 2017 se consegue melhor controlo do saldo mais positivo", explicou Xiangming Li.O Governo, em comunicado, interpretou os resultados da avaliação como positivos, porque o FMI "constatou que a economia nacional conheceu melhorias significativas, fruto das reformas levadas a cabo". Contudo, "a situação económica internacional e atrasos nos desembolsos continuarão a pesar sobre o desempenho da economia nacional".
O Conselho de Ministros anunciou a elaboração de um Orçamento Retificativo que deverá ser submetido à Assembleia Nacional até ao final do corrente mês, e que deverá acolher as recomendações do Fundo, nomeadamente a "adoção de medidas adicionais, suscetíveis de corrigir os défices atualmente registados".
06.04.2017 STP/FMI - MP3-Mono
Cacau: semente do desenvolvimento de São Tomé
Após a nacionalização das fazendas de cacau, as roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. Hoje, as roças voltaram a ser privadas e há esperanças que contribuam novamente para o desenvolvimento do país.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho na roça começa cedo
Antes do sol penetrar na mata da Roça Olivais Marim, na zona sul de São Tomé, os poucos agricultores já trabalham nas plantações de cacau - principal produto de exportação do país. Após a nacionalização das roças, em 30 de setembro de 1975, a produção diminuiu. A exportação do cacau não passou de 12.000 toneladas/ano. Nos anos 80, a exportação baixou ainda mais, para 3.000 toneladas.
Foto: DW/R. Graça
Má gestão levou a êxodo rural
A nacionalização das fazendas em 1975 deu origem à formação de 15 grandes empresas estatais, que entraram em declínio. A queda da produção do cacau abriu o caminho às privatizações nos anos 90. Porém, muitas terras continuaram improdutivas e iniciou-se um êxodo rural das populações nas zonas das roças. Agora, 2.500 hectares de terras estão a ser desbravadas e reaproveitadas.
Foto: DW/R. Graça
Clima ideal
Agricultora prepara viveiros para reabilitar as plantações abandonadas da Roça Granja. São Tomé e Príncipe possui as condições climáticas favoráveis ao cultivo do cacau: terras de origem vulcânica, solo fértil e boa temperatura. Estatísticas do período colonial revelam que, com apenas 15 unidades agroindustriais numa área de 60 mil hectares, os portugueses chegaram a produzir 36.000 toneladas/ano.
Foto: DW/R. Graça
Raízes brasileiras
Em São Tomé e Príncipe, a cultura do cacau começou na Ilha do Príncipe. Os primeiros cacaueiros, plantados pelos colonos portugueses em 1822, vieram do Brasil. No século XIX, durante o "Ciclo do Cacau", por falta de mão de obra local, os portugueses contrataram trabalhadores de outras colónias africanas – como Angola, Cabo Verde e Moçambique. Muitos tiveram que trabalhar sob condições desumanas.
Foto: DW/R. Graça
Produção biológica de cacau
No interior da Roça Santa Luzia, na Ilha de São Tomé, os tratores adquiridos pela Cooperativa de Exportação do Cacau Biológico (CECAB) regam os viveiros nas parcelas dos agricultores. O cacau é ideal para a produção biológica, pois cresce sob árvores de outras espécies – o que conserva uma maior biodiversidade em comparação com monoculturas de outras plantas como a soja.
Foto: DW/R. Graça
De olho no mercado internacional
O cacau amelonado, variedade proveniente da Amazônia, foi o primeiro a chegar ao arquipélago de São Tomé e Príncipe. Este tipo de cacau é muito procurado no mercado internacional por ter características genéticas de qualidade superior a outras variantes de cacau.
Foto: DW/R. Graça
Recuperação de outras variedades
Produtores de cacau tipo exportação estão a recuperar outras variedades, como o cacau híbrido. O cacaueiro tem folhas longas que nascem avermelhadas e logo ficam de um verde intenso, medindo até 30 centímetros. Seus frutos também podem medir até 30 centímetros de comprimento, apresentando coloração verde, vermelha ou amarronzada e que tendem ao amarelo quando amadurecido o fruto.
Foto: DW/R. Graça
Secagem depois da colheita
A seguir à colheita da fruta dos cacaueiros, é preciso secá-la. No caso da Roça Morro Peixe, a secagem é feita com uso da energia solar natural. Um secador solar construído de madeira e coberto de plástico garante uma boa temperatura para a secagem do cacau, antes de ser embalado.
Foto: DW/R. Graça
Trabalho minucioso
Descendentes de cabo-verdianos, no interior do secador da Roça Santa Margarida, separam o cacau na peneira. Um trabalho minucioso que antecede a embalagem. Estas trabalhadoras fazem parte dos poucos agricultores que resistiram ao êxodo rural em São Tomé e Príncipe. Já no período colonial, uma boa parte da mão de obra das roças veio de Cabo Verde, outra colónia portuguesa.
Foto: DW/R. Graça
Embalar e despachar para a Europa
O último passo antes do processamento e da exportação do cacau é a sua embalagem em sacos. Uma boa parte da produção de cacau de São Tome e Príncipe é exportada para a Europa – principalmente para a França e a Suíça, os dois principais mercados consumidores do cacau de excelência e de fama internacional reconhecida.