Na província de Inhambane, sul de Moçambique, aumenta o número de desempregados. E os preços sobem. Os habitantes temem enfrentar ainda mais dificuldades com o aproximar da quadra festiva. Eles pedem ajuda ao Governo.
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Há seis meses, Samuel Marcos foi despedido de uma empresa onde trabalhou durante vários anos. Agora, vende alimentos num mercado de Maxixe, na província de Inhambane. Mas o negócio também não vai bem devido à subida dos preços.
"Ultimamente em comparação com outros tempos houve uma alteração muito grande e não há negócio. A pessoa sai de casa com tendência de vir comprar por exemplo açúcar a 35 meticais e ter de pagar 65 ou 60 (abaixo de 0.5 euro). Acredito que as coisas estão sendo muito pesada”.
Não foi só o açúcar que aumentou. O frango está a ser vendido a 250 meticais, quase três euros. Há uns meses estava a cerca de um euro e meio. Um saco de arroz custa hoje em dia cerca de 2200 meticais (cerca de 26 euros), mais do dobro do que há uns meses atrás.
Mais dificuldades na quadra natalícia
Com o aproximar da quadra festiva, os residentes receiam ter ainda mais dificuldades.
Segundo o Governo, só este ano mais de duas mil pessoas perderam o emprego na província, por causa da crise económica e da incerteza provocada pela tensão político-militar em Moçambique. E a inflação não ajuda, conta Amélia Josefa, uma vendedora no mercado central em Maxixe.
"Principalmente vou falar de mim e acho que não vamos passar bem (as festas); ainda há índice de subida de preços que talvez até la certos produtos não será do meu nível para comprar. Só podemos aguentar com isso”.
Apelos para o Governo ajudar
Arlindo João, outro comerciante, pede ajuda ao Governo
"Não conseguimos comprar as coisas por nas bancas, temos bancas grandes, mas não conseguimos pagar a mercadoria para as pessoas mais tarde comprarem; não vão passar bem as festas porque os preços estão muito elevados. Eu acho que o Governo deve ver o que pode fazer pelo estes preços."
28.10.2016 Perspetivas sombrias para população de Inhambane - MP3-Mono
Ernesto Tafula, delegado provincial da Inspecção Nacional das Atividades Económicas em Inhambane, pede aos comerciantes para praticarem preços justos. As autoridades locais não conseguem lutar sozinhas contra a crise económica que afeta o país, mas tentam, pelo menos, combater a especulação nas lojas e mercados.
"Estamos dentro das lojas, dos mercados e vamos exigindo faturas e recibos para podermos verificar se não estão fazendo preços especulativo e aquele que não tiver documentos comprovativos nós obrigamos-lhe a aplicar preços justos”.
Transformar lixo em artesanato
A organização moçambicana ALMA produz artesanato do lixo que recolhe no Tofo, Moçambique. Por exemplo, de jornais usados fabricam-se bases para tachos. Os artigos são vendidos em Moçambique e no estrangeiro.
Foto: DW/J. Beck
Esta base para tachos foi feita de jornais
A organização moçambicana ALMA - Associação de Limpeza e Meio Ambiente produz uma variada gama de produtos de artesanato do lixo que recolhe no Tofo, uma aldeia na costa da província de Inhambane, no sul de Moçambique, que é famosa pelas suas praias e pelos locais de mergulho. Por exemplo, de jornais usados fabricam-se bases para tachos. Os artigos são vendidos em Moçambique e no estrangeiro.
Foto: DW/J. Beck
ONG faz a recolha do lixo
Com o apoio da Câmara Municipal de Inhambane (CMI), a ALMA é responsável pela recolha do lixo no bairro Josina Machel, onde também se situa a localidade do Tofo. A aldeia é um centro do turismo ecológico em Moçambique. Muitos turistas procuram esta parte da costa do Oceano Índico para mergulhar com raias jamanta e tubarões baleia que são encontrados com frequência.
Foto: DW/J. Beck
As praias limpas do Tofo
Para além da recolha normal de lixo, que é feita duas vezes por semana, os membros da ALMA limpam as ruas e as praia. "Uma vez por mês fazemos uma limpeza geral", conta Gito Nhanombe, o coordenador da ALMA. "Sem a ALMA o Tofo não estaria tão limpo", diz Nhanombe. A limpeza torna o Tofo mais atrativo para turistas. "E menos lixo na praia, significa também menos lixo no mar", diz o coordenador.
Foto: DW/Johannes Beck
Evitar imagens como esta
Com a limpeza regular das ruas e praias do Tofo, a ALMA quer evitar imagens como esta (foto da Indonésia). O lixo plástico no mar é perigoso: pode asfixiar tartarugas que confundem sacos plásticos com medusas e tentam comê-los. Mas o plástico nos oceanos também ameaça a saúde dos homens, pois após a sua decomposição entra na cadeia alimentar através do consumo de peixes que comeram o granulado.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Separação de lixo
Em alguns lugares, como aqui em frente da esquadra local da Polícia da República de Moçambique no Tofo, existem vários contentores de lixo. Cada um serve para diferentes tipos de lixo. Neste caso para separar plástico do lixo comum para facilitar a reciclagem. Um sistema que já é amplamente usado em países como a Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
Triagem do que pode ser reutilizado
Os membros da ALMA separam do lixo tudo o que podem usar para o fabrico de artesanato ou para a reciclagem. Guardam as tampas de garrafas de cerveja e de refrigerantes numa caixa. Guardam também papel, cavilhas de latas e pacotes de bebidas. Neste momento não há recolha de plástico, mas a ALMA espera encontrar um novo comprador para as grandes quantidades de plástico reciclado.
Foto: DW/J. Beck
Tampas como base
As tampas de garrafas são forradas com restos de capulanas, que são fornecidos por um alfaiate de Inhambane. No total, 11 pessoas trabalham nos dois setores de limpeza e artesanato da ALMA: seis mulheres e cinco homens. A venda do artesanato e do material reciclado permite à organização não-governamental criar empregos e pagar salários.
Foto: DW/J. Beck
Bases para tachos
Depois de forrarem as tampas, os artesãos juntam várias destas caricas para criar bases para tachos em formato hexagonal. Um conjunto destas bases custa 250 meticais moçambicanos (equivalente a 6,25 euros) e pode servir para colocar tachos, garrafas e copos na mesa.
Foto: DW/J. Beck
Jornais usados ganham nova vida
Entre os materiais procurados pelos artesãos da ALMA estão os jornais. Se não chegarem muito sujos à ALMA, podem ser processados. O papel dos jornais tem boa textura e, quando é impregnado com cola, pode ser enrolado e transformado em bases. Neste caso, custam 150 meticais (equivalente a 3,75 euros).
Foto: DW/J. Beck
A lixeira da ALMA
Mas mesmo com reciclagem e com o aproveitamento de alguma parte do lixo para artesanato, ainda sobra uma grande parte do lixo recolhido. Este material é depositado numa lixeira a céu aberto no terreno da ALMA junto à estrada principal de acesso ao Tofo. Se houver um comprador para o plástico reciclado, a quantidade de lixo depositado poderá ser reduzida.
Foto: DW/J. Beck
Loja local no Tofo
Os produtos produzidos localmente são vendidos na loja da ALMA. O coordenador da ALMA, o jovem moçambicano Gito Nhanombe (na foto), apresenta os produtos aos interessados e explica os materiais que foram usados. Esta bolsa é feita de pacotes de leite.
Foto: DW/J. Beck
Venda principalmente a turistas
Em vários pontos de Moçambique encontram-se pontos de venda da ALMA. São principalmente turistas os clientes da ALMA, mas alguns moçambicanos também fazem compras. No Restaurante Sul do Tofo (na foto), uma montra junto ao balcão mostra alguns produtos. Também há vendas na Europa através de encomendas. A cooperação alemã GIZ já apresentou trabalhos da ALMA numa exposição em Bona, Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
Quem adivinhava que eram anilhas de latas?
À primeira vista, muitas peças da ALMA não fazem pensar em reciclagem de lixo. Estes suportes de copos foram feitos com anilhas de latas de alumínio. Os artesãos moçambicanos uniram-nas com fio de croché, em forma de flor. O artesanato amigo do ambiente cria empregos e contribui para manter uma parte da costa moçambicana limpa.