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Pesquisador moçambicano cria sistema que desinfeta água

27 de junho de 2021

Beni Chaúque desenvolveu um protótipo durante seu curso de mestrado, que é capaz de desinfetar a água por luz solar. O modelo, apresentado pelo pesquisar mata bactérias e cistos de protozoários em até 90 segundos.

Beni Chaúque Mosambikanischer Forscher in Brasilien
Foto: Privat

Em entrevista à Deutsche África, o moçambicano, nascido na cidade de Manica e residente em Porto Alegre, no Sul do Brasil desde 2018, explicou que pretende com o sistema de desinfeção de água "ajudar principalmente comunidades desfavorecidas ou que não têm acesso a água potável".

"Recentemente o relatório da Organização Mundial da Saúde aponta que cerca de 800 mil pessoas morrem por ano por doenças estritamente relacionadas à ingestão de água contaminada'', disse Beni, que atualmente é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola e do Ambiente na UFRGS.

O pesquisador moçambicano ressaltou que o método de desinfeção solar da água já é conhecido no universo científico e se chama SODIS (solar water disinfection). "Consiste em colocar um certo volume de água não tratada em uma garrafa PET, que deve ser exposta ao sol, ao menos seis horas para matar todos os microrganismos e tornar a água limpa para beber, graças ao calor e às radiações emitidas pelo sol".

Beni Chaúque explica ainda que em dias com uma nebulosidade de até 50% seria necessário que essa garrafa PET fosse exposta, ao menos dois dias, "para termos cerca de 1,5 litros de água tratada. Apesar desta técnica ser barata e eficaz, não tem como ser uma alternativa em larga escala, porque o volume de água tratada era pouca, então foi aí que entrou a necessidade (minha ideia) de desenvolver um sistema de tratamento de água em larga escala que permite resolver essa limitação'', explicou o moçambicano. 

Chaúque, ressaltou que o diferencial de seu protótipo é que o mesmo aquece e esteriliza a água com os raios solares trabalhando de maneira contínua, o que permite alcançar um volume de água muito maior do que o tradicional sistema de desinfeção solar da água já é conhecido (SODIS).

Beni Chaúque criou um protótipo de desinfecção da água Foto: UFRGS

Segundo Chaúque, o material pode ser instalado no local de captação da água sem a necessidade de energia elétrica e a baixo custo. "O custo bruto de aquisição do sistema, quando produzido em escala comercial, poderá custar em torno de 500 a 450 dólares. Este valor pode ser significativo se pensado em um investimento único-familiar, mas numa perspetiva plurifamiliar poderá ser barato'', concluiu o bolsista.

E como funciona? 

O sistema consiste num conjunto de espelhos, com uma configuração geométrica específica, que permite coletar a radiação solar e posteriormente direcionar sobre um conjunto de tubos por onde a água flui. Durante esse processo, a água é aquecida e irradiada por altas doses de raios ultravioletas, ocasionando assim, naturalmente a inativação de microrganismos.

"Enquanto num processo de SODIS convencional - que compreende em colocar água em uma garrafa PET exposta ao sol, e esperar ao menos 6 horas para obter 1 litro de água tratada, nesse novo sistema, se consegue desinfetar 1 litro a cada 90 segundos, tendo assim uma produção mínima de 360 litros por dia. ‘'Existe uma clara evidência que esse equipamento possa ser usado para o abastecimento público em larga escala'', argumenta à DW Beni Chaúque.

Marilise Brittes Rott e Beni ChaúqueFoto: UFRGS

Para a professora Marilise Brittes Rott, do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola e do Ambiente da UFRGS, desde que o bolsista ingressou na universidade em 2018 para a realização do mestrado, Beni já trazia de seu país essa ideia interessante e desafiadora. 

‘'Na primeira entrevista que fiz com o aluno Beni Chaúque, reparei que se tratava de uma pessoa muito capaz e que conhecia o tema. Assim, começamos as pesquisas no sentido de comprar o material para a construção do sistema. Para isso, contamos com a ajuda de várias pessoas a fim de viabilizarmos compra de madeira, espelhos, enfim tudo que era necessário", lembrou a docente Marilise Brittes que junto com o professor Antônio D. Benetti orienta o moçambicano no doutorado da UFRGS. 

Conforme a professora Marilise, a solicitação da patente do invento já foi solicitada pela universidade.

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