Nos salões de beleza de Inhambane, sul de Moçambique, muitos clientes não aceitam usar máscara nem lavar as mãos, como estipula o estado de emergência. Autoridades aguardam instruções para fiscalizar estes espaços.
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Se por estes dias em Inhambane há quem tema ir aos salões de beleza com medo de contrair o novo coronavírus, outros arriscam, sem cumprir as regras do estado de emergência em vigor em Moçambique.
"Estão a dizer que os salões têm coronavírus porque muitas pessoas recorrem aos salões. Às vezes as pessoas entram sem máscaras e não querem lavar mãos. A situação está péssima", conta Brígida Magune, que trabalha num cabeleireiro.
Kelven Santos, outro funcionário do salão, também já teve de lidar com vários clientes que procuram os serviços de beleza, mas não aceitam o uso das medidas de prevenção da Covid-19. Tem medo de contrair a doença, mas não tem outra forma de sustentar a família:
"Não são todas as pessoas que aceitam, a maioria aceita. As pessoas que não aceitam lavar mãos com álcool, nós também não cuidamos. Se eu tiver medo de doença vou ficar em casa a fazer o quê? E vou comer o quê?", sublinha.
Máscara obrigatória
Com o estado de emergência em vigor desde 1 de abril e prolongado até 30 de maio, recomenda-se à população que fique em casa, se não tiver motivos de trabalho ou outros essenciais para tratar. E é obrigatório o uso de máscara na via pública.
Maria Joana teve mesmo de sair de casa porque não consegue tratar do cabelo sozinha. Recorreu a um salão de beleza na cidade de Maxixe, mas acabou por tirar a máscara. "Podemos contrair essa doença. Tenho de lavar o cabelo e em casa não seca porque é grande, mas tenho o meu álcool e máscaras. Só tirei [a máscara] para não se molhar", justifica.
Entretanto, devido à crise económica no âmbito da pandemia, alguns salões de beleza registam pouca afluência. É o caso do salão de Joana Manuel, onde é preciso cumprir algumas regras para ser atendido.
"Mas a maioria do tempo tenho ficado sozinha por causa da pandemia. Só se permite a entrada de pessoas que obtêm máscara. E quando entram aqui no salão vão diretamente lavar as mãos e desinfetar com álcool", nota Joana Manuel.
Fiscalização zero
Em pleno estado de emergência, não há fiscalização dos cabeleireiros por parte das autoridades. Segundo Juma Aly Dauto, porta-voz em Inhambane do comando provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM), a corporação ainda não recebeu instruções específicas para os salões de beleza.
"Os cabeleireiros funcionam mas nós ainda não temos um documento determinado. Nós trabalhamos simplesmente com os aglomerados e com a falta do uso das máscaras. É este o trabalho que estamos a fazer, que é aquilo que foi determinado no decreto presidencial", explica.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.