Petição contra o BAI tem saldo positivo, segundo Rafael Marques
16 de agosto de 2012 O jornalista e ativista angolano Rafael Marques de Morais, diretor do blog Maka Angola, acredita que o medo de represálias faz com que poucas pessoas se manifestem e assinem a petição, que está disponível na internet desde o mês de julho. Recorde-se que, segundo o blog, o Banco Angolano de Investimentos (BAI) funciona como uma lavandaria financeira.
Ouvido pela DW África, Rafael Marques garante que a petição online é “um método seguro”, detalhando que “os endereços e os dados pessoais são mantidos apenas pelo servidor. Esses dados não estarão disponíveis para as autoridades. Os e-mails enviados aos dirigentes das empresas que fazem parcerias com o BAI, certamente, têm os nomes mas não outros dados”.
Segundo o ativista, a iniciativa é “uma forma de consciência social que aqueles cidadãos, que se sentem incomodados com a corrupção, não devem ter receio de [utilizar para] manifestar aquilo que realmente pensam, porque é o medo que, normalmente, legitima e dá maior força àqueles que agem contra os interesses da maioria dos cidadãos”.
As 97 pessoas que assinaram, até ao momento, a petição online são, em sua maioria, estudantes e profissionais engajados na luta contra o branqueamento de capitais. E ainda nenhuma empresa subscreveu.
EUA cortam relações com o BAI
A campanha do blog Maka Angola contra o branqueamento de capitais no país quer atingir, principalmente, as instituições financeiras internacionais que fazem negócios com o BAI. O objetivo da denúncia é fazer com que essas instituições cessem as parcerias firmadas, até agora, com aquele banco privado. Isso porque tais ligações conferem legitimidade a uma instituição que, segundo o blog, serve, principalmente, para o branqueamento de capitais resultantes das riquezas do país e para o enriquecimento ilícito de alguns dirigentes do governo.
Rafael Marques afirma que tem documentos que comprovam a denúncia. É da opinião que as manifestações abertas dão resultados positivos e que o BAI não teve sucesso, por exemplo, ao tentar abrir uma representação da instituição nos Estados Unidos da América.
O ativista explica que “começa a haver alguns problemas, em alguns sítios, onde a reputação do BAI é questionada. Certamente, as pessoas têm maiores cuidados em permitir que possam fazer investimentos nesses locais, como nos Estados Unidos da América, onde as regras bancárias são mais rígidas”.
O diretor do blog de denúncia de casos de corrupção explica também que “o BAI tem dificuldades em operar, mesmo através de bancos americanos, porque pode criar problemas às instituições americanas com as quais lida, pois é claramente um banco com pessoas politicamente expostas. É o termo usado para explicar a presença de dirigentes, como acionistas, que têm alguns negócios poucos transparentes”.
Denúncias não são levadas a sério
Desde que a campanha foi lançada, em julho, nenhuma instituição ou pessoa citada na denúncia procurou o blog para manifestar qualquer posicionamento, segundo Rafael Marques de Morais. Procurado pela DW África, em julho, o Banco Angolano de Investimentos negou, por meio de nota, todas as acusações de atuação ilícita e de participação em qualquer esquema de branqueamento de capitais.
A nota dizia também que o banco tem em curso a implementação de um conjunto de procedimentos internos que visa impedir a utilização da instituição em operações que se configurem como tentativas de branqueamento de capitais.
Rafael Marques lamenta a atuação da justiça em Angola, confessando que tem “apresentado queixas na justiça e as queixas nunca são levadas à sério. Não é falha no sistema, é mesmo uma questão de corrupção.”
A campanha de recolha de assinaturas continuará, por tempo indeterminado, até que as pessoas envolvidas na denúncia se manifestem, conclui Rafael Marques.
Autora: Melina Mantovani
Edição: Glória Sousa / António Rocha