Angola: Zâmbia quer investir na refinaria do Lobito
Lusa
11 de janeiro de 2023
De visita a Angola, o Presidente Hakainda Hichilema disse não fazer sentido a Zâmbia importar combustíveis de outras partes do mundo quando tem um vizinho produtor.
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O Presidente da Zâmbia disse, esta quarta-feira (11.01), que o país está interessado em investir na refinaria do Lobito, em construção na província angolana de Benguela, considerando não fazer sentido importar combustíveis de outras partes do mundo quando tem um vizinho produtor.
Hakainde Hichilema, que realiza uma visita oficial de 72 horas a Angola, reuniu-se, esta quarta-feira (11.01), com o seu homólogo angolano, João Lourenço, e falou à imprensa no final da reunião de trabalho das delegações dos dois países, que assinaram seis instrumentos jurídicos para o reforço da cooperação entre os dois Estados.
O chefe de Estado zambiano salientou que o petróleo é um dos principais produtos de consumo, sublinhando a importância dos combustíveis para a economia da Zâmbia.
"Não sei como é que nós conseguimos manter esta situação de comprar combustíveis da Arábia Saudita e de outras partes do mundo e não a nível do nosso vizinho. Acredito que todos estão chateados com isto, porque o mercado está aqui próximo, e a Zâmbia também se devia sentir mal, que não estejamos a comprar ao nosso familiar que está na próxima esquina, na mesma casa, isto é inaceitável", frisou.
De acordo com o programa de visita, Hakainda Hichilema desloca-se quinta-feira a Benguela, onde deverá visitar o Corredor do Lobito e as obras de construção da refinaria do Lobito.
Obras devem terminar em 2026
Por sua vez, João Lourenço disse que as obras de construção da refinaria do Lobito deverão estar concluídas em 2026, destacando a importância da execução de outros projetos para melhor servir o país vizinho em termos de combustíveis.
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"Os combustíveis são importantes para o desenvolvimento de qualquer economia, os combustíveis é energia. É muito natural que a Zâmbia, sendo nossa vizinha, tenha bastante interesse em adquirir esses combustíveis em Angola, no país vizinho, sobretudo quando Angola tiver capacidade maior de refinação do petróleo bruto que extrai", referiu o Presidente angolano.
João Lourenço informou que foram retomados os trabalhos para a conclusão da refinaria do Lobito, e neste intervalo, outros projetos que devem ser executados, nomeadamente a construção do canal ferroviário Luacano/Jimbe, para fazer chegar os combustíveis da refinaria do Lobito à Zâmbia por via-férrea, em cisternas sobre carris.
"Mas uma solução melhor do que essa de transportar os combustíveis por via-férrea é sem sombra de dúvidas a construção de uma 'pipeline' entre a cidade do Lobito e a Zâmbia", afirmou.
Segundo João Lourenço, este projeto, que tem vindo a ser pensado há algum tempo, mantém-se de pé, e a sua construção está sob responsabilidade da parte zambiana, "que inicialmente tinha indicado uma empresa, mas que por qualquer razão essa empresa acabou por ser substituída por uma outra".
"Acredito que este passo de substituição da primeira empresa terá a ver com certeza com a necessidade de se imprimir uma maior velocidade no projeto de construção do 'pipeline'", frisou.
Da parte angolana, garantiu João Lourenço, serão dadas todas as facilidades no sentido de se construir a ligação em tempo útil, ou seja, antes da conclusão da refinaria do Lobito.
Na conferência de imprensa, o Presidente angolano manifestou-se confiante que as economias dos dois países vão evoluir se "houver trocas comerciais fáceis, se houver investimento angolano na Zâmbia e se houver investimento zambiano em Angola".
"É para isto que estamos a trabalhar e acreditamos que desta vez não estamos aqui para apenas nos limitarmos a assinar acordos de cooperação, apenas a manifestar intenções de interesse, mas estamos aqui para fazer as coisas acontecerem", salientou.
João Lourenço disse também que Angola conta com o país vizinho, com o qual partilha uma fronteira comum de 1.110 quilómetros, para o repovoamento de gado, matéria de que a Zâmbia é "muito forte".
"Nós queremos ir beber a sua experiência, Angola tem a necessidade de repovoar o país em gado, particularmente gado bovino, para além da possibilidade de comprarmos carne da Zâmbia como produto acabado para consumo imediato do nosso mercado", destacou.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".