PGR de Angola vai voltar a notificar Isabel dos Santos
Lusa
3 de agosto de 2018
Procurador-geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, garante que Isabel dos Santos "foi de facto notificada", apesar de a empresária negar. "Não apresentou nenhuma justificação e vamos voltar a notificá-la", diz.
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O procurador-geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, disse esta sexta-feira (03.08), em Luanda, que a empresária Isabel dos Santos foi notificada para prestar esclarecimentos em dois processos-crimes, um em que é acusada e outro em que é a queixosa.
Em causa está o envio de uma notificação da PGR à Isabel dos Santos, para prestar esclarecimentos sobre a sua gestão enquanto responsável máxima da Sonangol, concessionária angolana de hidrocarbonetos, e de um outro processo em que a mesma acusa o seu substituto, Carlos Saturnino, de difamação.
Questionado pela agência Lusa, Hélder Pitta Grós afirmou que Isabel dos Santos "foi de facto notificada", mas "não é de grande relevância o facto de ela não ter comparecido". "Porque isso tem acontecido com outros cidadãos que não têm comparecido e que têm justificado as suas ausências, a questão dela é que não se fez presente, não apresentou nenhuma justificação e vamos voltar a notificá-la, como temos feito noutros casos", explicou o procurador-geral da República.
Dois processos parados
Quanto à data da próxima notificação, Pitta Grós disse que isso depende do magistrado do processo, que tem outros casos em mãos. "Há dois processos. Há um processo-crime em que ela é que é a queixosa, portanto, ia ser ouvida como queixosa, e outro processo, que é de inquérito, que ela ia ser ouvida também", salientando que a notificação era para prestar esclarecimentos em ambos os processos. Segundo o procurador, os dois processos estão "parados, aguardando somente que ela seja ouvida".
Isabel dos Santos "por poucas vezes está no país, [por vezes] está fora, nunca se sabe", explicou Pitta Grós, que justificou a ação da justiça angolana: "queríamos aproveitar o momento, em que sabíamos que ela estava no país, para notificá-la e resolvermos as duas questões, porque ambos os processos estão parados, aguardando somente que ela seja ouvida".
A primeira, das três notificações possíveis, foi entregue a 17 de julho, para que a empresária fosse ouvida no dia seguinte, o que não aconteceu.
A 28 de fevereiro deste ano, o atual presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Carlos Saturnino, acusou a empresária de ter gasto 135 milhões de dólares com consultoria e de ter autorizado uma transferência de outros 38 milhões de dólares, um dia depois da sua exoneração. O gestor denunciou, igualmente, entre outras alegadas irregularidades, a existência de um suposto "caixa dois", para o processamento de salários fora do circuito normal de pagamentos.
Isabel dos Santos foi exonerada do cargo de presidente do conselho de administração da Sonangol, em 15 de novembro de 2017, depois de ter assumido as funções em junho de 2016.
Sobre o assunto, a empresária fez sair uma nota distribuída aos órgãos de comunicação social, na qual negava ter sido notificada pela PGR. "Foi com surpresa que a engenheira Isabel dos Santos tomou conhecimento através da comunicação social que teria sido notificada para responder sobre atos da sua gestão na Sonangol, onde assumiu funções de presidente do Conselho de Administração", referia o comunicado.
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.