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Crise na Europa: Irlandeses procuram soluções

23 de março de 2013

"Plano B – Crise na Europa" é o título da nossa série de Contrastes, na qual apresentamos pessoas que procuram soluções para os seus problemas económicos. Este programa descreve dois exemplos da Irlanda.

Auf dem Bild: Andrew Bradshaw vor seinem Haus in Mullingar, Irland. Dezember 2012. Rechte: DW/M.Hartleb
Andrew Bradshaw vor seinem Haus in MullingarFoto: DW/M.Hartleb

Em Clonakilty, uma pequena cidade com 4.000 habitantes, na costa sul da República da Irlanda, a situação económica é preocupante. Muitos jovens optam – por isso – por abandonar o país, procurando a sua sorte no estrangeiro, sobretudo em países fora da Europa como o Canadá ou a Nova Zelândia.

Tempo em vez de Dinheiro: Um sistema de interajuda

O professor universitário Bevis Cotton não se quis conformar com a situação e desenvolveu um plano suscetível de devolver a esperança aos habitantes de Clonakilty e aos irlandeses em geral: o denominado "Clonakilty Favour Exchange", um sistema com o qual pretende estimular o intercâmbio comercial a nível local, recorrendo-se a bancos de tempo em vez de dinheiro.

Bevis Cotton é o ideólogo e fundador do projeto "Clonakilty Favour Exchange"Foto: DW/A.Leslie

"Um dia assisti a uma palestra de uma mulher que tinha tido uma ideia parecida. O discurso dela demorou cerca de uma hora e meia e eu fiquei muito impressionado", explica o professor Bevis Cotton como surgiu a ideia. "Penso que as pessoas e as instâncias a nível local devem pegar nas rédeas e resolver os seus problemas", opina Bevis Cotton.

Quem adere ao denominado "Favour Exchange" passa a dispôr de uma espécie de banco de favores, ou seja: um banco de horas de trabalho. Quem presta um favor ou um pequeno serviço a outro membro, não cobra honorário, mas recebe em troca o direito de receber também um serviço equivalente em termos de tempo, da parte de outro membro do banco.

"Favour Exchange" - uma ideia em expansão

A Senhora Allison Roberts, de 30 anos de idade, é uma das aderentes ao projeto. A sua especialidade é a feitura de bolos, e sobretudo produtos de chocolate e maçapão. A experiência tem-lhe corrido bem. O que mais lhe agrada são os contactos pessoais entre os membros da organização: "O mais importante é a redescoberta de um sentido de comunidade. Não é a avaliação do produto que conta em primeira linha, mas sim o facto de assim nós assim re-aprendermos a confiar nos nossos concidadãos."

Dublin, capital da Irlanda, também adotou e transpôs a ideia do projeto "Favour Exchange"

Uma ideia simples, que já foi adotada noutras cidades: até Dublin, capital da Irlanda, terá em breve o seu próprio grupo de "Favour Exchange".

O professor de economia Constantin Gurdgiev, que se especializou em estudos de sistemas económicos alternativos, na Universidade de Dublin, é de opinião que projetos como o Favour Exchange poderão complementar de forma ideal o sistema monetário existente nas sociedades capitalistas dos nossos tempos: "Os próprios cidadãos têm dificuldades em pagar as suas contas. Por outro lado – e devido ao desemprego - dispõem de bastante mais tempo. É, pois, uma boa ideia negociar esse tempo disponível, em tempos com falta de dinheiro…"

Anti Eviction Taskforce - uma associação irlandesa que defende os interesses dos donos de imóveis em dificuldadesFoto: Sonya O'Dwyer

Crise imobiliária: irlandeses não se conformam

Quem comprou imóveis bate-se com dificuldades específicas, nomeadamente com a desvalorização. Muitos não conseguem pagar as prestações das hipotecas e vêem-se obrigados a entregar as casas aos bancos.

Philipp Lane, professor na Universidade de Dublin, especialista em questões ligadas à crise imobiliária, lembra que os bancos - no passado - concediam créditos com muita facilidade. De repente a bolha rebentou e as pessoas perderam os seus empregos e deixaram de ter dinheiro para pagar as prestações.

Irlandeses fundam associação de defesa contra despejos

Andrew Bradshaw, cidadão da pequena cidade irlandesa de Mullingar, é um dos muitos irlandeses que vivem em litígio com os bancos. Desde que perdeu o emprego deixou de poder pagar a prestação da sua casa e o seu banco já avançou com uma ação de despejo.

Mas Andrew não se conformou e insiste em ficar na sua casa: "Um dia em que não estava em casa recebi uma chamada de uma vizinha. Ela contava-me que uns indivíduos tinham invadido o meu quintal e levado os meus cães com eles." Andrew conta que foi imediatamente a correr para casa e quando chegou notou que tinham trocado as fechaduras da casa.

Interior da casa de Andrew Bradshaw - ele montou barricadas na sala de domirFoto: DW/M. Hartlep

Andrew teve que arrombar a porta traseira para entrar na sua própria casa e precisou de alguns dias para recuperar os cães. Desde então vive praticamente entrincheirado em sua casa, com medo de ser despejado da mesma. Como medida de prevenção instalou várias câmeras de videovigilância.

Os tempos das vacas gordas terminaram

Andrew não é um caso isolado. Muitos irlandeses compraram imóveis em tempos de vacas gordas; em tempos em que eram aliciados pelos próprios bancos a pedir créditos imobiliários. Agora que muitos não conseguem pagar as prestações, os bancos insistem no cumprimento dos contratos.

"Há uns anos atrás as pessoas estavam otimistas. Os bancos concediam créditos com muita facilidade. Davam somas muito altas às pessoas, por vezes dez vezes superiores aos vencimentos anuais". Philipp Lane, professor na Universidade de Dublin, especialista em questões ligadas à crise imobiliária, descreve a situação: "As hipotecas eram enormes. De repente a bolha rebentou e as pessoas perderam os seus empregos. E as pessoas deixaram de ter dinheiro para dar conta dos encargos."

Trish Bernette, professora de ginástica de 47 anos idade, também já perdeu a casa em que vivia, depois de ter perdido o emprego e deixado de pagar a prestação ao banco. Mas ela não se conformou e fundou uma associação de defesa, a denominada "Anti Eviction Taskforce". Este grupo fornece apoio jurídico a pessoas em conflito com os bancos e ameaçadas de serem expulsas das suas casas.

Plano B - parte 3 - Irlanda: Irlandeses procuram soluções

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Mais de 2.500 irlandeses já se juntaram ao grupo, conta Trish Bernette: "Todos os dias escrevemos cartas aos deputados das assembleias. Mas nunca recebemos resposta. Sabemos bem que eles recebem os nossos e-mails, mas eles não se ocupam dos casos", se queixa Trish Bernette. "É uma grande injustiça!"

Associação luta contra despejos na Irlanda

A associação aconselha os cidadãos a não aceitarem as ações de despejo perpetradas pelos bancos. É necessário recorrer a advogados especializados e tentar encontrar soluções, por exemplo, pedir mais flexibilidade aos bancos.

Andrew Bradshaw sente-se menos sozinho desde que se juntou à associação "Anti Eviction Taskforce". Os especialistas da associação disseram-lhe que a medida tomada pelo seu banco de trocar as fechaduras é ilegal. Primeiro deveriam ter avisado o cliente. É também obrigatório conceder um certo prazo ao devedor. Andrew Bradshaw vive num clima de tensão constante. Se não tivesse o apoio da associação o canalizador desempregado já teria desistido: "Nesta situação só me resta pensar de forma positiva. Se começar a pensar muito no que o futuro poderá trazer – isso é mesmo para enlouquecer. Só me resta a esperança."

Andrew Bradshaw gosta do apoio da "Anti Eviction Taskforce"Foto: DW/M. Hartlep

A luta dos endividados donos de imóveis na Irlanda apenas começou. Os observadores estimam que milhares de casas ainda vão ser leiloadas por decisão dos bancos e contra a vontade dos moradores.

Autor: André Leslie / António Cascais
Edição: Johannes Beck

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