Constantes restrições à liberdade de imprensa em todo o mundo e a crescente desconfiança nas instituições estatais estão a conduzir alguns jornalistas para o ativismo. A questão foi debatida no Global Media Forum.
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Em boa parte dos países africanos, jornalistas e organizações dos média enfrentam inúmeros desafios – incluindo censura governamental, leis restritivas e assédio.
Esses desafios podem estar a levar o jornalista a assumir um papel mais ativo na defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa. Para o jornalista investigativo Anas Aremeyaw Anas, do Gana, "o jornalismo deve ir além do relato das notícias" para desafiar o status quo e promover a justiça social.
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Denúncias pela verdade
Popular pelas suas denúncias contra a corrupção, este repórter desempenhou um papel crucial ao expor violações dos direitos humanos e responsabilizar quem está no poder.
Anas Aremeyaw Anas afirma que as "instituições estatais do Gana são igualmente deficientes, assim como os jornalistas".
O jornalista processou indivíduos poderosos e levou-os ao tribunal, defendendo ser esta uma forma de "dar mais um passo depois de denunciar a podridão".
Anas Aremeyaw Anas não tem problemas em ser chamado de ativista. "Tenho orgulho nisso. Se acreditas numa peça que fizeste, por que não podes defendê-la perante um tribunal?", questionou.
Naomi Soumanou, uma jornalista-ativista do Benin, também participou na conferência. Ela acredita que o trabalho deste tipo de repórteres está a tornar-se necessário nas sociedades africanas. "Esses papéis são complementares. É preciso ser jornalista para ser ativista", referiu.
Apesar de o trabalho dos jornalistas-ativistas ser apreciado por uma parte da sociedade, estes profissionais também estão sujeitos a fortes críticas e pressões.
O seu ativismo geralmente acarreta um elevado custo pessoal, pois enfrentam frequentemente ameaças e retaliações por parte das autoridades, além de preocupações psicológicas prejudiciais.
Para Anas Aremeyaw Anas, "o jornalismo deve ser definido pelas necessidades da sociedade". "Os padrões de jornalismo variam de país para país", acrescenta. "Se o povo precisa de água potável, deve-se fazer de tudo para garantir que eles a recebam", defendeu durante o debate.
Omofuoma Agharite, realizadora de cinema presente no evento, discordou. Para ela, o ativismo pode ser influenciado pelo viés subconsciente. "Tais preconceitos podem levar à falta de objetividade na reportagem", adverte.
Ruona Meyer, jornalista nigeriana, também argumenta que o ativismo, às vezes, pode transformar-se em extremismo.
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.