Poderá Moçambique evitar a maldição dos recursos naturais?
18 de junho de 2014Se Moçambique conseguir investir uma parcela maior dos seus rendimentos dos recursos naturais, tanto em capital humano como físico, o seu futuro é “promissor”. Mesmo que a melhoria do ambiente de negócios, das infraestruturas e da eficiência do Governo tenda a ser lenta. A previsão é feita pelo Deutsche Bank, no seu mais recente relatório sobre o crescimento de Moçambique.
O banco alemão acredita que, apesar de o risco da “maldição dos recursos naturais” existir, Moçambique poderá ser capaz de evitar, pelo menos até certo ponto, a também chamada “doença holandesa”. Um fenómeno ocorrido na década de 70 na Holanda, quando a descoberta de gás natural se traduziu num excesso das receitas de exportação em moeda estrangeira. Nestes casos, a economia fica mais dependente dos recursos naturais, prejudicando o desenvolvimento dos restantes sectores.
Mas por que motivo seria o país uma exceção? A autora do relatório, Claire Schaffnit-Chatterjee, justifica, afirmando que o Governo moçambicano “está empenhado em desenvolver a economia numa base diversificada, o que inclui um crescimento inclusivo que beneficie toda a população e não apenas as poucas pessoas que trabalham nos sectores de onde provêem os maiores rendimentos”.
Além disso, o Executivo “também desenvolveu um plano estratégico para cinco anos para melhorar o ambiente de negócios. E tem uma agenda política ambiciosa em termos de questões sociais e de promoção do investimento estrangeiro direto”, acrescenta.
A investigadora do Deutsche Bank reconhece que o “boom” dos recursos minerais pode aumentar ainda mais o descontentamento popular face ao crescimento de que não beneficia significativamente. Mas acredita que o Governo moçambicano tem “boas possibilidades de encontrar o equilíbrio certo entre investimento público e sustentabilidade fiscal e as expectativas da população e interesses dos investidores”.
Moçambique deverá investir mais para crescer
Em 2013, o Produto Interno Bruto (PIB) moçambicano cresceu 8% em termos reais. Além disso, prevê-se um crescimento anual de 8% nos próximos cinco anos.
Moçambique está a beneficiar das enormes reservas de carvão e gás natural descobertas nos últimos anos e “tem potencial para se tornar o maior produtor de carvão de África”, lembra Claire Schaffnit-Chatterjee do Deustche Bank.
Para isso, é necessário “um maior desenvolvimento do sector de mineração e da infraestrutura circundante, o que implica, por exemplo, a ampliação das instalações portuárias, o desenvolvimento das estradas e das redes ferroviárias entre as minas de carvão e a costa. Mas também há interesse em desenvolver o sector da agricultura”, aponta a autora do relatório.
Moçambique ambiciona igualmente tornar-se um dos maiores exportadores de gás natural liquefeito até 2020.
Um país de oportunidades para empresários alemães
Num país que regista um dos crescimentos mais dinâmicos no mundo, não faltam oportunidades de investimento para empresários alemães, lembra Judith Helfmann-Hundack, da Associação para África da Indústria Alemã.
O tema esteve, esta quarta-feira (18.06), em cima da mesa no encontro que a organização manteve, em Berlim, com o ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, no último dia da visita de Oldemiro Baloi à Alemanha.
“As melhores oportunidades de investimento são claramente nos sectores da energia, transportes e infra-estruturas. E, é claro, em toda a área da logística por causa da posição costeira de Moçambique. O que também está a tornar-se muito interessante são as infraestruturas em torno dos locais de produção de gás natural, isto é, habitações, escolas, estradas, abastecimento de água e estabelecimentos de saúde, que praticamente é preciso construir de raiz”, exemplifica Judith Helfmann-Hundack.
Tem crescido o interesse das empresas alemãs em investir em Moçambique. E há cerca de dois meses, foi inaugurado na capital moçambicana, Maputo, um Gabinete para o Fomento Económico, financiado pelo Ministério alemão das Finanças.
Mas será o atual conflito entre o Governo de Maputo e a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), o maior partido da oposição, motivo para afastar os investidores do país?
“Observamos com alguma preocupação o conflito entre o partido no Governo e o partido na oposição no norte do país, mas acreditamos que não se alastrará a outras zonas de Moçambique. E achamos que a situação de segurança no país em geral continuará estável”, responde com otimismo a responsável pelo Comércio Exterior e Política de Desenvolvimento da Associação para África da Indústria Alemã.