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“Poder em Angola continuará militarizado”, diz ativista

5 de dezembro de 2016

O ministro angolano da Defesa, João Lourenço, pode ser apresentado no próximo sábado (10.12) como cabeça de lista do MPLA para a eleição presidencial de 2017. Críticos ouvidos pela DW África não esperam grandes mudanças.

Symbolbild - Soldaten aus Angola
Soldados angolanos. Foto ilustrativa.Foto: Getty Images

Começou a ser desenhada a transição política em Angola. João Lourenço, atual ministro angolano da Defesa, foi indicado na última sexta-feira (02.12) para cabeça de lista do Movimento Popular para Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, como candidato à eleição presidencial de 2017. 

A aprovação põe fim à incógnita sobre a recandidatura de José Eduardo dos Santos nas eleições gerais, em agosto do próximo ano. Contudo, críticos e analistas ouvidos pela DW África não esperam grandes mudanças em Angola e dizem que o país "continuará a ser militarizado”.

Ativista e professor universitário angolano Nuno Álvaro Dala.Foto: DW/M.Luamba

Para Nuno Álvaro Dala, conhecido pelo caso 15+2 (dos ativistas acusados de prepararem um golpe de Estado contra o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, em 2015) começa-se uma transição política pacífica no país. "É muito positivo que o Presidente da República tenha percebido e posto em marcha um plano de reforma política”, explica.

Segundo o ativista, se o atual Presidente angolano saísse do posto de maneira involuntária, a situação seria mais complicada para o país. Além de, segundo Dala, possivelmente "envolver instabilidade política ou militar”, diz.

Perfil de João Lourenço

Nascido a 5 de março de 1954, na cidade do Lobito, província angolana de Benguela, João Lourenço foi Secretário-geral do MPLA, é casado e pai de seis filhos. Ele já desempenhou os cargos de líder da bancada parlamentar do seu partido, e de Presidente da Comissão Constitucional.

João Manuel Gonçalves Lourenço em Berlim ao lado da Ministra de Defesa da Alemanha, Ursula von der Leyen, em novembro de 2014.Foto: picture alliance/dpa/R.Jensen

O atual vice-presidente do partido, no poder desde 1975, é formado em artilharia pesada e é general na reserva. Esta sua condição, acredita Nuno Dala, fará com que Angola continue a ter um "poder militarizado”, se o candidato do MPLA for eleito.

"O fato de João Lourenço ser general implica que o poder [em Angola] continuará a ser militarizado. Lourenço imprimiria uma nova moral às Forças Armadas e a outras instituições castrenses, ao mesmo tempo em que a sua condição de militar asseguraria a manutenção da segurança do Presidente da República”, explica Dala.

Corrupção

William TonetFoto: Manuel Luamba

João Lourenço, no entanto, é um dos poucos dirigentes do MPLA sem mãos sujas com atos de corrupção. O ativista Nuno Álvaro Dala diz que o político oferece uma certa segurança na luta contra o fenômeno.

"É uma vantagem dele, pois transmite uma pequena noção, e ao mesmo tempo alguma segurança, de que o novo Presidente eventualmente fará uma governação menos corrupta. Contudo, isso não significa o fim da corrupção”. Caso o MPLA ganhe as eleições de 2017, o país contará com novos rostos na cidade alta.

Mas o jornalista William Tonet não prevê grandes mudanças no sistema. "Nada poderá mudar com aqueles que, quando podiam efetivamente participar com uma postura diferente do próprio partido no poder, omitiram-se, por temor ou por comprometimento”, explica Tonet.

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Já Bornito de Sousa, atual ministro da Administração do Território de Angola, foi indicado como segunda figura da lista. O ministério do qual é titular é o orgão encarregado de levar a cabo o registo eleitoral, em curso desde 25 de agosto último.

Essa condição colocaria em causa a transpârencia do processo eleitoral, explica William Tonet. Segundo o jornalista, Bornito de Sousa atuaria de modo a buscar benefício próprio, pois "sempre foi o jogador e o árbitro a tentar manietar a organização do processo eleitoral”, conclui.

 

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