O ministro angolano da Defesa, João Lourenço, pode ser apresentado no próximo sábado (10.12) como cabeça de lista do MPLA para a eleição presidencial de 2017. Críticos ouvidos pela DW África não esperam grandes mudanças.
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Começou a ser desenhada a transição política em Angola. João Lourenço, atual ministro angolano da Defesa, foi indicado na última sexta-feira (02.12) para cabeça de lista do Movimento Popular para Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder, como candidato à eleição presidencial de 2017.
A aprovação põe fim à incógnita sobre a recandidatura de José Eduardo dos Santos nas eleições gerais, em agosto do próximo ano. Contudo, críticos e analistas ouvidos pela DW África não esperam grandes mudanças em Angola e dizem que o país "continuará a ser militarizado”.
Para Nuno Álvaro Dala, conhecido pelo caso 15+2 (dos ativistas acusados de prepararem um golpe de Estado contra o Presidente angolano José Eduardo dos Santos, em 2015) começa-se uma transição política pacífica no país. "É muito positivo que o Presidente da República tenha percebido e posto em marcha um plano de reforma política”, explica.
Segundo o ativista, se o atual Presidente angolano saísse do posto de maneira involuntária, a situação seria mais complicada para o país. Além de, segundo Dala, possivelmente "envolver instabilidade política ou militar”, diz.
Perfil de João Lourenço
Nascido a 5 de março de 1954, na cidade do Lobito, província angolana de Benguela, João Lourenço foi Secretário-geral do MPLA, é casado e pai de seis filhos. Ele já desempenhou os cargos de líder da bancada parlamentar do seu partido, e de Presidente da Comissão Constitucional.
O atual vice-presidente do partido, no poder desde 1975, é formado em artilharia pesada e é general na reserva. Esta sua condição, acredita Nuno Dala, fará com que Angola continue a ter um "poder militarizado”, se o candidato do MPLA for eleito.
"O fato de João Lourenço ser general implica que o poder [em Angola] continuará a ser militarizado. Lourenço imprimiria uma nova moral às Forças Armadas e a outras instituições castrenses, ao mesmo tempo em que a sua condição de militar asseguraria a manutenção da segurança do Presidente da República”, explica Dala.
Corrupção
João Lourenço, no entanto, é um dos poucos dirigentes do MPLA sem mãos sujas com atos de corrupção. O ativista Nuno Álvaro Dala diz que o político oferece uma certa segurança na luta contra o fenômeno.
"É uma vantagem dele, pois transmite uma pequena noção, e ao mesmo tempo alguma segurança, de que o novo Presidente eventualmente fará uma governação menos corrupta. Contudo, isso não significa o fim da corrupção”. Caso o MPLA ganhe as eleições de 2017, o país contará com novos rostos na cidade alta.
Mas o jornalista William Tonet não prevê grandes mudanças no sistema. "Nada poderá mudar com aqueles que, quando podiam efetivamente participar com uma postura diferente do próprio partido no poder, omitiram-se, por temor ou por comprometimento”, explica Tonet.
OL - MP3-Mono
Já Bornito de Sousa, atual ministro da Administração do Território de Angola, foi indicado como segunda figura da lista. O ministério do qual é titular é o orgão encarregado de levar a cabo o registo eleitoral, em curso desde 25 de agosto último.
Essa condição colocaria em causa a transpârencia do processo eleitoral, explica William Tonet. Segundo o jornalista, Bornito de Sousa atuaria de modo a buscar benefício próprio, pois "sempre foi o jogador e o árbitro a tentar manietar a organização do processo eleitoral”, conclui.
Para quando a reforma?
São inúmeros os dirigentes africanos a multiplicar os mandatos na chefia do Estado, nalguns casos modificaram mesmo a Constituição para se manter no poder.
Foto: DW
Abdoulaye Wade
Presidente do Senegal desde 2000 e reeleito em 2007, Abdoulaye Wade encarnou durante algum tempo a mudança. O balanço dos seus 12 anos no poder é, no entanto, mitigado e muitos criticam o seu amor pela megalomania. A sua decisão de disputar uma vez mais , aos 85 anos, a corrida presidencial no Senegal foi muito contestada. Mas ele não é o único Chefe de Estado africano que não quer deixar o poder.
Foto: AP
Teodoro Obiang Nguema
Chegou ao poder em 1979 na sequência de um golpe de Estado. Venceu as eleições em 1989 e foi reeleito em 1996, 2002 e 2009. Uma reforma constitucional adotada em 2011 limitou o número de mandatos presidenciais a dois anos, mas o texto não diz a partir de quando se aplicará a regra. O mandato atual de Teodoro Obiang Nguema expira en 2016. O Presidente tem 69 anos.
Foto: AP
José Eduardo dos Santos
Aos 69 anos, José Eduardo dos Santos dirige Angola desde 1979, ou seja há quase 33 anos, sem nunca ter sido eleito. A nova Constituição de 2010 já não prevê a organização de eleições presidenciais. O presidente do partido com mais votos nas legislativas torna-se automaticamente presidente, o que significa que Eduardo dos Santos poderá manter-se no poder durante mais alguns anos.
Foto: dapd
Paul Biya
Aos 79 anos, Paul Biya lidera os Camarões há mais de 30 anos. Depois de escrutínios presidenciais criticados pela sua falta de transparência em 1997 e 2004, Paul Biya alterou a Constituição em 2007 para se poder manter no poder. Foi reeleito 2011 num sufrágio que a oposição considerou fraudulento.
Foto: AP
Yoweri Museveni
Chegou ao poder pela via das armas em 1986. O presidente ugandês pôs fim a uma ditadura. Aliado dos Estados Unidos, Yoweri Museveni dirige o país há 26 anos, graças a modificações sucessivas da Constituição. A última anula a limitação do número de mandatos, o que lhe permitiu ser reeleito em 2011, após um escrutínio fraudulento.
Foto: AP
Mswati III
O último monarca absoluto de África, Mswati III, sucedeu em 1986 ao seu pai Sobhuza II. Aos 43 anos, ele governa o seu país por decreto e recusa a democracia. A Suazilândia é um dos países mais pobres do mundo, onde cerca 26% da população está infetada com o vírus do HIV-SIDA.
Foto: picture-alliance/dpa
Blaise Compaoré
Aos 61 anos, Blaise Compaoré lidera o Burkina Faso há mais de 25 anos. Chegou ao poder através de um golpe de Estado em 1987 e foi eleito pela primeira vez em 1991, num sufrágio boicotado pela oposição. Uma emenda da Constituição permitiu-lhe ser reeleito em 2005 e em 2010, oficialmente para um último mandato. Contudo os seus adversários estão convictos que ele se irá candidatar de novo em 2014.
Foto: AP
Idriss Déby Itno
Idriss Déby Itno nasceu em 1952 e começou a sua carreira como rebelde. Em finais de 1990, afasta do poder o seu antigo companheiro de armas, Hissène Habré, antes de ser designado Presidente do Chade em 1991. Alterará a Constituição em 2004 para se manter no cargo. Os rebeldes derrubá-lo, em 2006 e 2008, em vão. Em 2011 foi reeleito à primeira volta para um quarto mandato.
Foto: picture-alliance/dpa
Denis Sassou Nguesso
Denis Sassou Nguesso é um caso particular: chegou ao poder em 1979 no Congo (Brazzaville) e foi derrotado em 1992 nas primeiras eleições multipartidárias do país. Quando regressou do exílio em 1997, retomou o poder pela força. A Constituição adotada em 2002 limita a 70 anos a idade de um candidato à presidência. Denis Sassou Nguesso, de 69 anos, deverá portanto ceder o lugar em 2016.
Foto: AP
Robert Mugabe
Quando se tornou primeiro ministro em1980, Robert Mugabe encarnava a esperança do Zimbabué. Eleito presidente sete anos mais tarde, o "pai da independência" impõe um regime ditatorial e mergulha o antigo celeiro de África numa crise alimentar e financeira. Desde 2008, que partilha o poder com o seu rival Morgan Tsvangirai. O Zimbabué ainda espera pela reformas prometidas.