Polémica edição do Correio do Sul não saiu para as bancas
15 de dezembro de 2015 Estava pronto para sair para as bancas a 11 de dezembro. Mas o Correio do Sul, o único semanário angolano editado fora da capital, não chegou a ver a luz do dia. De acordo com o diretor do Correio do Sul e correspondente da DW África em Benguela, Nelson Sul d’Angola, a gráfica não imprimiu o semanário, alegadamente, devido a uma avaria técnica.
No entanto, Sul d’Angola não compreende “como é que numa indústria da dimensão da Damer, um problema numa das máquinas afeta todas as máquinas. Para ter uma ideia, a Damer é, neste momento, a maior gráfica a nível de Angola e uma das maiores da África Austral.”
Apesar do Correio do Sul não ter sido impresso para estar disponível para venda a 11 de dezembro, o jornal diário O País foi para as bancas dois dias depois. Já o semanário A Capital também não foi impresso, alegadamente, devido a uma avaria na gráfica, de acordo com Nelson Sul d’Angola.
O pior do ano
Sem querer especular sobre as causas que impediram a impressão do Correio do Sul, o diretor do semanário reconhece contudo que a capa era polémica: a fotografia do Presidente José Eduardo dos Santos eleita, pelo semanário, como a pior figura do ano.
“A capa que o jornal Correio do Sul traz é muito sensível para o regime angolano. Porque em Angola nunca nenhum jornal ousou pôr na sua capa a figura do Presidente Eduardo dos Santos como a pior do ano. E nós fizemo-lo”, reconhece o diretor do semanário.
Nelson Sul d’Angola explica que a equipa do Correio do Sul analisou “todos os factos ocorridos no ano 2015, bons e maus, evidentemente. Mas, os factos negativos acabaram por beliscar gravemente os factos positivos que aconteceram.” O que, para o diretor, explica a capa da quinta edição.
Avaria técnica não significa ação externa, diz sindicato
Contactada pela DW África, a empresa gráfica Damer recusou dar qualquer esclarecimento sobre o assunto.
Já o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos não vê qualquer inconformidade. Teixeira Cândido reconhece que Angola tem “o histórico de alguns jornais que foram, de facto, impedidos, não pela gráfica mas eventualmente pelas autoridades, de circularem, e de outros exemplares queimados”, em que “poderá eventualmente ter havido ação externa”.
No entanto, “neste caso do Correio do Sul, não temos informações que nos apontem para este sentido”, afirmou o secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos.
De acordo com a direção do jornal, o Correio do Sul não deverá ser impresso até ao final do ano. A capa da quinta edição do semanário está contudo disponível na sua página no facebook.
Com uma tiragem de cinco mil exemplares, o Correio do Sul tem redação central em Benguela, sul de Angola, e correspondentes nos principais centros urbanos, nomeadamente nas regiões de Luanda, Huambo, Huíla e Namibe.