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Polémicas marcam recenseamento da população em Angola

28 de setembro de 2024

O Censo Geral da População arrancou a 19 de setembro, mas o processo está a ser marcado por protestos de técnicos que denunciam falta de condições. Ministro da tutela garante que constrangimentos estão ultrapassados.

Pessoas vendem bens alimentares em Luanda, Angola, em setembro de 2024
Recenseamento da população em Angola começou no dia 19 de setembroFoto: Borralho Ndomba/DW

Onde estão os "inquiridores" do Censo 2024? É a pergunta que muitos angolanos fazem dias depois do arranque oficial do Censo Geral da População em todo o território angolano. Cerca de 70 mil agentes de campos foram formados para a contagem dos habitantes em Angola, mas os elementos das equipas não têm sido vistos pelas ruas de diferentes bairros, municípios e comunas do país.

Domingos Vieira, um dos munícipes da cidade do Lubango, na província da Huíla, ainda não foi recenseado. Os seus vizinhos também estão na mesma condição. Vieira disse à DW que o processo na sua província está a ser "um fiasco".

"Acredito que o censo está a ser mal programado, mal executado, do meu ponto de vista. O Governo deve rever bem esta situação porque o que se fala nos média não é o que estamos a ver. Eu vivo aqui no bairro da Mapunda e até agora não fomos visitados pelos recenseadores", relata. "A gente pergunta: será que somos mesmo angolanos? Até agora não fui contado", acrescenta.

Queixas de irregularidades

Em Luanda, o professor História António, morador do distrito do Kikolo, município de Cacuaco, afirma que as irregularidades verificadas no processo resultam da "incompetência governativa".

Celestino Epalanga: "Na igreja perguntei e ninguém se levantou para dizer que já se tinha recenseado"Foto: B. Ndomba/DW

História António denuncia que alguns recenseadores aprovados nos exames do INE estão a ser excluídos injustamente e trocados por indivíduos que não terão participado da formação.

"Alguns membros dos Comité de Ação do Partido (CAP) do MPLA, sobretudo em Cacuaco, é que estão a comandar as listas. Estão a invalidar as listas provenientes do INE e validar as listas provenientes dos CAP. Portanto, ao nível do nosso município, sobretudo na minha comunidade, não noto nenhum movimento de recenseadores", salienta.

As denúncias de exclusão também chegaram ao padre Celestino Epalanga, secretário-geral da Comissão de Justiça e Paz da Comissão Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST). Em declarações à Rádio Ecclesia, contou que recebe denúncias de várias partes do país.

"Também recebi denúncias da Lunda Norte, onde também é a mesmíssima coisa. Na Huíla e em muitos sítios, aqui em Cacuaco… Na igreja perguntei e ninguém se levantou para dizer que já se tinha recenseado. Também nunca vi ninguém", sublinha.

Nas redes sociais têm circulado vídeos de recenseadores que exigem melhores condições de trabalho. "Sem comida, não censo" gritam os agentes de campo que também se queixam da falta de uniformes.

Francisco Pereira Furtado, ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, é o coordenador do Censo 2024Foto: Borralho Ndomba/DW

Falando recentemente à imprensa no Moxico, o ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Pereira Furtado, coordenador do Censo 2024, garantiu que os constrangimentos estão superados e pediu a colaboração da população.

"Constatámos, sim, algumas insuficiências, nomeadamente com os tablets, muitos deles não configurados, mas este processo já foi concluído", frisou.

"Constatámos também a problemática de alguma insuficiência nos uniformes de identificação dos recenseadores e também de alguma insuficiência de dados nas contas bancárias dos recenseadores, o que está a dificultar o processo de receção dos seus subsídios dos recenseadores", informou ainda.

O general Furtado garante que, apesar do atraso, o prazo da realização do Censo não será prolongado. "Não haverá prorrogação, porque temos que obedecer às normas internacionais. O Censo está estabelecido em coordenação com as Nações Unidas para ser realizado em 30 dias". advertiu.

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