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Polícia angolana reprime mais de 200 estudantes

Lusa
26 de outubro de 2019

Estudantes e ativistas manifestavam-se contra a pretensão do Governo de cobrar propinas no ensino superior regular a partir de 2020. A manifestação "Propina Não" juntou mais de duas centenas de jovens em Luanda.

Protest in Luanda
Protestos em Luanda contra desemprego (Foto de Arquivo)Foto: DW/L. Ndomba

A polícia angolana dispersou neste sábado (26.10) com bombas de gás lacrimogéneo mais de 200 estudantes e ativistas que se manifestavam, em Luanda, contra a pretensão do Governo de cobrar propinas no ensino superior regular, a partir de 2020.

A manifestação "Propina Not" ou "Propina Não" juntou no Largo das Heroínas mais de duas centenas de jovens, que empunhados de cartazes repudiavam a intenção do Governo angolano em passar a cobrar propinas no ensino universitário.

"Os pobres não devem pagar pela má gestão dos recursos públicos do país", "não temos dinheiro para pagar as propinas", "não fomos nós quem saqueou o país" e "diga não à elitização do ensino superior", lia-se nos cartazes dos manifestantes.

Depois de marcharem um quilómetro e sob acompanhamento da polícia nacional, os manifestantes "insurgirem-se contra os efetivos" da corporação, precisamente no largo 1º de Maio, centro de Luanda, por alegadamente ter "invertido o percurso da marcha".

Momentos de tensão

Huambo: Défices no sistema de ensino

04:23

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A situação deu origem a momentos de tensão entre manifestantes e efetivos da polícia, cenário que motivou a paralisação do trânsito por mais de 15 minutos quando se tentava um consenso sobre o percurso da marcha.

Além da polícia de ordem pública e de trânsito, a brigada canina e a polícia antimotim também reforçaram o cordão de segurança no local. 

Os manifestantes tencionavam marchar até o Instituto Nacional de Luta contra a Sida, enquanto a polícia direcionava-os para a avenida Deolinda Rodrigues, até ao cemitério da Santa Ana, o que alterou os ânimos dos manifestantes e em reação a polícia dispersou-os lançado bombas de gás lacrimogéneo.

"Pisa propinas" e "nós queremos estudar" eram as palavras de ordem durante a marcha dispersada pela polícia, onde o estudante Abílio Alfredo marcou presença para manifestar o seu descontentamento.

"Estamos a manifestar porque o Estado angolano está a implementar a cobrança de propinas no ensino gratuito quando sabemos que em várias partes do mundo a propina é gratuita no ensino superior", disse o estudante de 21 anos. 

Adelina Kipaca, estudante de 23 anos, questionou as motivações do Governo angolano em pretender cobrar propinas no ensino superior, recordando que a "maior parte dos jovens estão desempregados e os pais não têm condições para suportar despesas".

"Por isso é que me identifiquei com a causa e estou aqui a me manifestar", afirmou.

Mais jovens sem estudar

Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin

Por seu lado, Ariclenes Gouveia também respondeu afirmativamente ao apelo do Movimento Estudantil Propina Não, defendendo que a medida vai concorrer para o "aumento de mais jovens fora do sistema de ensino". 

"Quando infelizmente temos informação que poderão ser cobradas propinas a partir de 2020 e como cidadão não posso permitir que isso aconteça", questionou.

Mesmo pressionados pela polícia, Salomão Panzo, em representação do "Movimento Estudantil Propina Não" apresentou aos jornalistas o manifesto da marcha recomendando ao Governo angolano para "não avançar com a medida". 

"A primeira razão é a crise financeira que até agora não tem soluções concretas, porque acabou por abalar o setor económico causando desemprego. O desemprego aumentou, quer dizer que os dois anos de governação de João Lourenço não contribuíram para a melhoria da situação económica", afirmou.

Segundo o manifestante, a crise económica que o país atravessa tem origem na "má gestão dos recursos públicos e não pode ser coberta com os bolsos dos pobres. O que quer dizer que os pobres não podem pagar pela má gestão dos recursos que Angola possui".

Desta feita, acrescentou ainda, o Movimento Estudantil recomenda o Estado angolano e aos seus parceiros "para que encontrem outras fontes para financiar o ensino público regular e não nos bolsos dos pobres".