Polícia angolana substitui esquadra por escola e tortura manifestantes
13 de outubro de 2014Os atropelos à lei por parte da Polícia não serão tolerados, garantem os manifestantes. No total cerca de 20 manifestantes foram detidos, mas depois a maioria foi libertada. A DW África entrevistou um dos agredidos pela Polícia, o ativista Nito Alves.
DW África: Conte-nos como tudo aconteceu...
Nito Alves(NA): Dia 11, no sábado passado, nós, auto-denominado Movimento Revolucionário, sociedade civil, jovens ativistas cívicos, tínhamos marcado uma manifestação contra a Lei da Nacionalidade. Quando eram 13 horas, eu, Manuel Nito Alves, Adolfo Campos, Alex Cabalala, Hermenegildo Costa e outros colegas meus da sociedade civil fomos até ao Largo da Independência criar o processo da manifestação. Não caiu nada bem por parte dessa gente que detém o poder, falo da pessoa de Francisco Notícia, comandante da divisão da Maianga. Prendeu-nos, eu e outros colegas fomos torturados e até agora estamos machucados. Eu estou com o braço fraturado, o Adolfo Campos também está magoado. E não é nada bom num status quo democrático e de direito, na pessoa de José Eduardo dos Santos que faz bons discursos, que fala em construir um Estado com democracia, e aparece com esse comportamento de vândalos, como o Governo. Esse é o diálogo com a juventude que ele quer? Nós somos filhos deste Estado, somos angolanos, queremos construir o status quo completamente democrático. Não temos princípios de vandalismo, temos princípios éticos e educativos para formar uma Angola democrática e justa.
DW África: Vocês foram levados para a esquadra? Em que circunstâncias aconteceu essa violência, no estádio, onde foi?
NA: A tortura começou a beira da estrada, defronte ao estádio 1º de Maio, mas depois puseram-me na escola primária, no Largo da Independência, onde fomos torturados pela Polícia Nacional, homens da PIR, da investigação criminal, homens da contra-inteligência, SINFO, e homens ligados ao MPLA, milícias, homens à paisana. Não foi nada bom o que a Polícia fez conosco.
DW África: Foram levados a esquadra nalgum momento?
NA: Não fomos levados a esquadra, fomos levados ao estádio de futebol. Ficamos lá abandonados das 14 horas e só nos soltaram às 20 horas. Não tínhamos dinheiro para pagar o taxi, não tínhamos como sair dali, estávamos machucados. Apareceram pessoas de boa fé, que não conhecemos e conseguiram acolher-nos e levaram-nos até ao hospital, a clinica do Prenda, aqui todos negaram dar-nos assistência. Mas conseguimos ir até a Clinica de Alvalade onde estamos a fazer os tratamentos médicos.
DW África: Prentedem processar a Polícia por não vos ter levado a esquadra e pela violência, o que pretendem fazer?
NA: Como se diz sempre, "queixar o porco ao javali", mas vamos seguir os parâmetros legais, que é a lei. Vamos abrir um processo-crime contra o comandante Notícia e contra o governo provincial de Luanda, porque o governo provincial é que tem de informar a Polícia que vai haver uma manifestação para nos protegerem.
DW África: No meio disso tudo desparareceu o manifestante Elias Batama, confirma?
NA: Essa informação esteve a circular nas redes sociais, mas o nosso irmão encontrava-se detido, estava na esquadra da Ilha, mas já está do nosso lado. Há seis pessoas presas, não desapareceu mais ninguém, mas continuam presos e estão machucados. Peço a Polícia, revolucionários e defensores dos direitos humanos que ajudem os nossos manos a terem assistência médica lá no lugar onde se encontram.
DW África: Então, não houve nehum processo aberto na Polícia?
NA: Não há um processo concretamente aberto, mas estão a acusar-nos de instigarem a desordem, vandalismo na esfera pública, na cidade de Luanda. Mas temos a plena consciência de que temos dois advogados que vão conseguir resolver esse caso, porque questões judiciais os advogados da Associação Mãos Livres e advogados independentes sabem como conseguir resolver esses casos.
DW África: A vossa manifestação teve autorização das autoridades de Luanda?
NA: Segundo o artigo 47 da Constituição da República de Angola, a manifestação não é autorizada, dá-se a conhecer ao governo provincial e este é que protege os manifestantes.