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Funcionários do Estado acusados de colaborar com terrorismo

Arcénio Sebastião (Beira)
24 de junho de 2022

Na província moçambicana de Sofala, foram detidos cinco funcionários dos serviços de migração, suspeitos de facilitarem o tráfico de droga, associado ao terrorismo, que assola Cabo Delgado desde 2017.

Alfeu Sitoi, porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal na província de Sofala, confirma detenções de funcionários públicosFoto: Arcénio Sebastião/DW

Segundo o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), há "fortes indícios" de os cinco detidos estarem ligados a cinco cidadãos estrangeiros, presos na terça-feira, acusados de envolvimento em terrorismo.

Os cinco detidos foram identificados como funcionários do Serviço Provincial de Migração em Sofala, estando afetos a diferentes setores de tramitação de documentos de entrada e saída no país. 

O porta-voz do SERNIC na província, Alfeu Sitoi, confirmou que os funcionários são suspeitos de facilitarem a entrada de estrangeiros e foram detidos na sequência de um mandado de captura em conexão com a detenção dos outros cinco cidadãos.

"Confirmamos que há, sim, funcionários detidos envolvidos neste caso. Cinco funcionários da migração encontram-se sob custódia e há indícios de envolvimento no caso dos cidadãos estrangeiros, apresentados na terça-feira", esclareceu Sitoi.

Esquema de financiamento de terrorismo em Cabo Delgado?  

Na terça-feira, a polícia moçambicana deteve na Beira quatro homens e uma mulher, suspeitos de recrutarem pessoas para o tráfico de drogas, que servirá como fonte de financiamento para o terrorismo no norte do país. 

Em sua posse tinham catanas, drogas e documentos suspeitos, que foram apreendidos pela polícia. Foi também confiscada uma viatura ligeira com equipamento de comunicação de origem duvidosa.

Catanas, drogas e documentos suspeitos apreendidos pela políciaFoto: Arcénio Sebastião/DW

O Serviço Nacional de Investigação Criminal assegura que estão em curso investigações que podem culminar na detenção de mais funcionários do Estado ligados à tramitação de documentos, tanto nos Serviços de Migração, como na Direção Nacional de Identificação Civil e Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados. 

Corrupção de funcionários públicos

O analista político Wilker Dias, ouvido pela DW África, olha com preocupação para a notícia da detenção dos funcionários do Serviço Provincial de Migração em Sofala. "Só pelo facto de termos moçambicanos envolvidos, semeia-se aquela teoria de que somos nós mesmos que acabamos abrindo as portas para o chamado 'crime organizado'", afirma. 

Wilker Dias alerta que, a ser provada a ligação de funcionários do Estado ao financiamento do terrorismo, é preciso estancar o problema pela raiz: "A corrupção é um dos fatores que tem atrasado o desenvolvimento do Estado. Se temos funcionários de migração ou funcionários das Forças Armadas envolvidos, estes esquemas podem levar à fragilização da segurança, porque eles são o garante do controlo da segurança a nível nacional."

Os ataques dos insurgentes na província de Cabo Delgado já levaram à morte de 4.000 pessoas desde 2017. Estima-se que a violência provocou 784 mil deslocados internos.

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