Grupo preso na Tanzânia queria unir-se a terroristas
Reuters
20 de novembro de 2020
Inspetor-geral da Polícia da Tanzânia disse que jovens detidos saíram de cidades do noroeste do país vizinho a Moçambique. Simon Sirro informou que ataque em aldeia tanzaniana em outubro contou com ajuda de moradores.
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A polícia da Tanzânia informou esta quinta-feira (19.11) que prendeu um grupo de pessoas suspeitas de "planear juntar-se a militantes islamistas” em Moçambique.
A notícia de que os responsáveis pelos ataques em Cabo Delgado estão transitando pela fronteira norte de Moçambique foi confirmada pela primeira vez em outubro, quando cerca de 300 homens armados levaram a cabo um ataque a uma aldeia no sul Tanzânia.
"Prendemos pessoas vindas de Kigoma e Mwanza", disse o inspetor-geral da polícia tanzaniana, Simon Sirro, a repórteres, sem revelar o nome de uma terceira localidade. As duas cidades reveladas na declaração publicada pela agência Reuters ficam no noroeste da Tanzânia, às margens do lago Vitória e próximas às fronteiras com Ruanda e Burundi.
"Eles disseram que iam para Moçambique. Eles querem juntar-se a esse grupo [radical islâmico]. O objetivo desse grupo é mau. Eles deviam parar este comportamento insano. Se não pararem, vão acabar mortos ou enfrentar medidas legais", disse Sirro.
O chefe da polícia não especificou o número de detidos, mas salientou que "muitos tanzanianos, muitos jovens" foram levados sob custódia.
Sirro disse que a polícia tinha descoberto que algumas moradores locais estavam envolvidas no ataque de outubro, ajudando homens armados a identificarem as casas que incendiaram. Segundo o inspetor-geral da polícia tanzaniana, algumas das pessoas que ajudaram no ataque também foram detidas.
O chamado "Estado Islâmico” reivindicou o ataque de outubro numa mensagem num dos seus canais do Telegramas em 15 de outubro. O grupo radical islâmico disse que seus combatentes atacaram um quartel do exército na aldeia um dia antes, causando mortes e tomando armas e munições.
O desterro forçado dos deslocados em Cabo Delgado
São mais de 450 mil no norte de Moçambique. O terrorismo cortou-lhes as raízes e tomou-lhes o chão. Os deslocados internos procuram vingar noutras paragens. E Pemba tem sido lugar de eleição. Sobreviverão na nova terra?
Foto: Privat
A dor da perda e da impotência
Um olhar que diz mais do que mil palavras, a imagem poderia ser "sem legenda". Foi depois de um ataque à aldeia "Criação", Muidumbe, a primeira investida terrorista ao distrito, em novembro de 2019. Os insurgentes começaram os seus ataques em Cabo Delgado em outubro de 2017.
Foto: Privat
Histórias de vida reduzidas a cinzas
Desde então, a matança e destruição passaram a ser visitas assíduas da região. Como ninguém quer ser anfitrião, os aldeões fugiram. Em finais de outubro, Muidumbe e outros distritos sangraram de novo e a população fugiu. Muidumbe está praticamente nas mãos dos terroristas, tal como Mocímboa da Praia, desde agosto.
Foto: Privat
Quase todos os caminhos vão dar a Pemba
O único desejo destes residentes de Mueda é conseguir um canto no camião para chegar à capital provincial de Cabo Delgado. Mas a disputa entre pessoas e os seus próprios pertences ameaça deixar alguém para trás. Desde meados de outubro, Pemba recebeu cerca de 12 mil deslocados. Inicialmente, recebia à volta de mil deslocados por dia.
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Quando o mato passa a ser melhor que o lar
Para muitos em Cabo Delgado, ter um teto deixou de ser sinónimo de segurança. Conseguir manter a vida, mesmo sem casa, passou agora a ser a meta. Os bichos passaram a ser mais cordiais que os irmãos terroristas, as estrelas melhores que o teto e os arbustos melhores que as paredes. Famílias procuram refúgio nas matas, onde caminham por dias dominados pelo medo, sem comida e sem norte.
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Um abraço amigo em Pemba
Estes deslocados chegam de Quissanga. Mas também chegam à praia de Paquitequete, Pemba, deslocados vindos de vários lugares. Todos tentam escapar ao terror. Muitos fixam-se aqui, onde recebem apoio de ONGs, associações, indivíduos e do Governo. Há até quem abra as portas da sua casa para os receber, mesmo não os conhecendo.
Foto: Privat
Crise humanitária faz brotar solidariedade infinita
A falta de quase tudo faz despertar solidariedade que chega de todo o lado. Para quem está longe, uma angariação de fundos e bens materiais é a opção. Já cuidar dos deslocados na praia de Paquitequete, atendendo-os nas suas necessidades, é o que faz quem está no terreno. Na praia, há jovens que chegam de madrugada para dar amor a quem precisa.
Foto: Privat
Uma fuga rodeada de perigos
O medo é tanto que nem a sobrelotação parece intimidar os deslocados internos. No começo de novembro, mais de 40 pessoas morreram a tentar chegar a Pemba num naufrágio entre as ilhas do Ibo e Matemo.
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Pemba a rebentar pelas costuras
O "boom" de deslocados é tão grande que o sistema de serviços básicos para a população, como água e saneamento, está no limite. Antes desta nova vaga de deslocados, a capital de Cabo Delgado tinha 204 mil habitantes. Agora, tem mais de 300 mil.
Foto: DW/E. Silvestre
Começar nova vida noutro chão
O Governo criou um comité de gestão para esta crise humanitária. Afirma que está a criar novas aldeias, centros de reassentamento, infrastruturas e a parcelar terras para acomodar os deslocados. Embora esteja garantida a segurança, as suas raízes estão noutro chão.
Foto: Privat
Que futuro?
Por enquanto não há resposta. Mas há deslocados que se vão "desenrascando" para sobreviver. Muitos dizem que não querem viver de mão estendida. Por exemplo, quem tem barco vai à pesca ou trasporta mercadorias. Outros entretêm-se a jogar futebol. Vão cuidando das suas vidas. Mas para os que não têm alternativas, que são a maioria, correrão riscos de entrar para o mundo do crime?