Só nos últimos três meses, quatro mulheres foram mortas na província moçambicana da Zambézia, acusadas de feitiçaria. Polícia garante que está a fazer tudo o possível para pôr fim aos assassinatos.
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A polícia na província da Zambézia, no centro de Moçambique, diz que são jovens que estão a assassinar as mulheres, por suspeita de feitiçaria. Os jovens acusam-nas de os enfeitiçarem para não progredirem na carreira e dizem que elas estão a afastar a população da ilha de Inhassunge para outras zonas.
Polícia da Zambézia preocupada com "caça às feiticeiras"
"Só este ano tivemos quatro casos, com principal incidência no distrito de Inhassunge, em que as vítimas foram anciões com idades compreendidas entre os 50 aos 70 anos de idade, acusados de prática de feitiçaria", refere Miguel Caetano, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) na Zambézia (na foto). "Realmente, isso preocupa as autoridades".
Este não é um fenómeno novo na região. No passado, já houve outros casos de assassinatos com recurso a catanas. As vítimas são sempre mulheres.
Como travar onda de assassinatos?
O líder comunitário Elias Ovuza também está preocupado: "Eu sou da terceira idade e tenho medo de, mais tarde, os meus filhos me dizerem que sou feiticeiro", afirma. "Para diminuir esse tipo de crime, é preciso que nos sentemos com os jovens e os aconselhemos".
A fuga da população não tem nada a ver com feitiços, sublinham vários habitantes entrevistados pela DW África. De acordo com Abílio Borge, residente em Inhassunge, as más condições de vida na linha é o que tem causado o êxodo.
"O coqueiro, que era uma das principais fontes de renda, está a desaparecer", diz Borge.
"O serviço lá era a venda de coco. As pessoas sobreviviam por causa disso, agora já não existe nada", acrescenta a residente Angelina José.
A polícia garante estar a fazer tudo o possível para travar os assassinatos das mulheres. Segundo o porta-voz da PRM na Zambézia, Miguel Caetano, o trabalho com a comunidade local é fundamental: "É um trabalho que a polícia, em coordenação com as estruturas comunitárias, está a desencadear com vista a reverter este cenário", conclui.
Idosos abandonados em Inhambane
Maltratados, acusados de feitiçaria e sem apoio. Em Moçambique, muitos idosos são rejeitados pelos familiares, vivem sem abrigo e passam a maior parte do dia nas ruas a pedir esmola. Governo diz que faltam fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Viver na rua sem abrigo e comida
Isabel Bato vive há cinco anos nas ruas da cidade de Maxixe, na província de Inhambane. Os familiares rejeitaram-na, alegando que estava a enfeitiçar os filhos e netos para que não tivessem sucesso nos seus trabalhos e negócios. Sem apoio do Governo, a idosa vive pedindo esmola nas lojas dos comerciantes locais.
Foto: DW/L. da Conceição
Caminhar sem destino
Como muitas pessoas da terceira idade, Jortina João caminha pelas ruas do distrito de Morrumbene a pedir ajuda às pessoas. É "caminhar sem ter destino e descanso", diz. Se ficar sentada, ninguém a apoiará com alimentação e roupas, sublinha.
Foto: DW/L. da Conceição
Pedir ajuda
Nos mercados, lojas e mercearias, os idosos pedem ajuda todos os dias para conseguir algo para comer, mas nem todos satisfazem os seus pedidos. Abandonada pela família, Joana de Vaz precisa de sair para pedir ajuda, mas nem sempre sai satisfeita. "Às vezes, recebo dois quilos de arroz, um pouco de óleo, mas muitas pessoas não são solidárias", conta.
Foto: DW/L. da Conceição
Olhar de fome
Tal como outras idosas no interior da província de Inhambane, Joana Wacitela passa fome devido à seca que assola esta região de Moçambique. A colheita não foi boa na sua machamba: "Estou a passar mal de fome, estou a pedir ajuda". Segundo o governo provincial, o apoio não chega a todos os idosos devido à falta de fundos.
Foto: DW/L. da Conceição
Poucos idosos recebem apoio
A Associação dos Aposentados de Moçambique (APOSEMO), o Instituto Nacional de Ação Social (INAS) e a Associação Gupuanana em Inhambane confirmam que os apoios direcionados aos idosos não chegam a todos. Em Inhambane, nem metade das pessoas da terceira idade beneficia dos programas sociais básicos. Estas pessoas são cada vez mais excluídas.
Foto: DW/L. da Conceição
Cesta básica com poucos produtos
O artigo 5º da Lei 03/2014, aprovada pelo Parlamento moçambicano, estabelece que cabe às famílias, à comunidade, à sociedade e ao Estado assegurar o direito à alimentação da pessoa idosa. Em Moçambique, algumas pessoas da terceira idade recebem uma cesta básica, mas com pouquíssimos produtos, como óleo, açúcar, arroz e sal.
Foto: DW/L. da Conceição
Amizade para sempre
Apesar de tantas dificuldades, os idosos gostam de fazer novas amizades enquanto a vida lhes permite. Sitoe Manuel e Ernesto José enfrentam juntos os problemas e reclamam do pouco apoio que recebem do INAS. "Mesmo com dificuldades, temos que ter fé e recordar os bons momentos que passámos. A amizade faz bem a uma pessoa", dizem.
Foto: DW/L. da Conceição
Sem alternativas
Japao Boane perdeu o emprego de motorista por causa da sua idade. Sem ter outra alternativa para se sustentar, decidiu abrir uma pequena banca em frente à sua residência para vender pequenos produtos, como rebuçados e bolachas. Ele diz sentir-se excluído da sociedade.
Foto: DW/L. da Conceição
Investir em pequenos negócios
Joana Chaquir luta todos os dias para sobreviver. Os filhos não lhe dão nenhum apoio. Ela decidiu começar um negócio para vender caldo e alface no mercado distrital de Morrumbene, em Inhambane. Com o que vende, consegue comprar um copo de arroz, meio litro de óleo e arroz.
Foto: DW/L. da Conceição
A perder as forças para trabalhar
Hawa Leka recebe um subsídio de 300 meticais fornecido pelo INAS. Com o dinheiro, começou a vender camarão e peixe seco em Inhambane. Ela afirma que está a perder as forças a cada dia que passa e não sabe o que será do seu futuro, caso não consiga mais trabalhar.
Foto: DW/L. da Conceição
Idosos assassinados pelos familiares
Araujo Nhanice, líder comunitário do povoado de Guicico, no distrito de Morrumbene, não recebe apoio do Governo e não sabe porquê. Ele alerta que, na sua comunidade, os casos de assassinato de idosos prosseguem e que os principais autores são familiares das vítimas.
Foto: DW/L. da Conceição
Esperança em dias melhores
Embora passem muitas dificuldades no dia-a-dia, os idosos de Inhambane ainda têm esperança de que melhores momentos virão. O rosto, no entanto, não esconde as marcas do sofrimento.