Polícia de Moçambique confirma tortura de garimpeiros
Lusa | cp
26 de julho de 2017
A polícia de Moçambique confirmou que membros da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), unidade antimotim, torturaram garimpeiros numa mina de rubis.
Publicidade
Imagens nas redes sociais mostravam a polícia moçambicana a torturar garimpeiros das minas de rubis em Namanhumbir, Montepuez, na província nortenha de Cabo Delgado, como noticiou a DW África.
A polícia confirma a tortura. "Os agentes envolvidos já foram identificados. O local dos fatos é efetivamente Namanhumbir, em Cabo Delgado", afirmou o porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Inácio Dina, citado esta quarta-feira (26.07) pela comunicação social moçambicana.
Civis espancam civis
Inácio Dina comentava, em conferência de imprensa, imagens de vídeo que circulam nas redes sociais em Moçambique, mostrando homens com fardamento da UIR a obrigar pessoas vestidas a civil a agredirem com bastões e paus outras pessoas amarradas a árvores.
Vários órgãos de comunicação social em Moçambique referem que as cenas se deram na mina de Namanhumbir, situada a cerca de dois mil quilómetros de Maputo, onde a Montepuez Ruby Minging extrai esmeraldas e rubis, o que a empresa nega.
A Montepuez Ruby Mining é detida pela multinacional Gemfields e pela Mwiriti Limitada, cujo acionista maioritário é Raimundo Pachinuapa, um general e militante histórico da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido no poder, ao qual se juntou ainda antes do início da luta contra o colonialismo português, em 1964.
Investigações ainda não concluídas
Enfatizando que os episódios de tortura aconteceram na mina de Namanhumbir, distrito de Montepuez, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, o porta-voz do comando-geral da PRM afirmou que a corporação prossegue a investigação em torno do caso.
"A equipa que foi constituída para investigação continua no terreno, está a ouvir os agentes e quando estiver disponível o relatório conclusivo, iremos partilhar os resultados", adiantou Inácio Dina, sem fornecer mais pormenores sobre o assunto.
Rubis rendem milhões de dólares
Em entrevista ao semanário Canal de Moçambique, moradores de Namanhumbir contaram que, além de membros da UIR, agentes de uma empresa de segurança privada também têm cometido abusos, incluindo violações, contra residentes e garimpeiros.
O diretor-geral da Montepuez Ruby Mining negou, em declarações ao Canal de Moçambique, que membros da UIR estejam a vigiar a mina da empresa em Namanhumbir, rejeitando igualmente que o vídeo sobre tortura tenha sido filmado no local.
"A empresa tem uma boa relação com a comunidade e não tolera maus tratos", afirmou Gopal Kumar.
De acordo com Gopal Kumar, entre junho de 2016 e junho de 2017, a Montepuez Ruby Mining arrecadou 90 milhões de dólares com a venda de rubis.
Os filhos perdidos de Chimanimani
Todos os dias há jovens a subir. São eles que alimentam os garimpeiros em Chimanimani, a reserva natural que separa Moçambique do Zimbabué. Quando descem, trazem pepitas de ouro nos bolsos.
Foto: DW/M.Barroso
O ouro de Chimanimani
Em 2006, conta-se, a produção diária em Chimanimani era de 5g por garimpeiro por dia. Hoje, queixam-se, não passa de 3g por garimpeiro por dia.
Foto: DW/M.Barroso
Preciosidades em notas sem valor
É em notas de milhões de dólares zimbabueanos que se transporta o ouro por aqui. Papel não é seguro, porque, quando molha, rasga. A nota é mais fiável: dobra-se uma e outra vez, dobra-se umas quantas vezes e prende-se com um fio de ráfia. E as notas do Zimbabué há muito que não valem os milhões que prometem na figura.
Foto: DW/M.Barroso
Matzundzo, o régulo
Toda a zona que se estende até ao mercado do ouro de Baco Ramambo se encontra sob a autoridade do régulo Matzundzo.
Foto: DW/M.Barroso
Ao almoço, uma pausa
Mateus tem 24 anos. Há três ganha a vida a carregar produtos em Chimanimani. Para conseguir chegar a Baco Ramambo, é preciso fumar, conta. Para ter "power".
Foto: DW/M.Barroso
Para lá dos montes
Por aqui, todos dizem que o caminho até ao mercado demora "duas horas de relógio". Na realidade, o percurso toma dias. Pausas são luxo raro.
Foto: DW/M.Barroso
Quem passa, leva ensopadas as calças
Em Chimanimani, os rios não têm pontes. Os rapazes seguem em frente, água dentro, sem grandes paragens, sem hesitações, vestidos, calçados, a mercadoria a balançar nas cabeças.
Foto: DW/M.Barroso
Neto, o negocianteNeto, o negociante
António Neto Coco com a sua balança de ouro. Desde que foi agredido por bandidos, tem regularmente três rapazes a vender produtos na zona do mercado de Baco Ramambo.
Foto: DW/M.Barroso
Vida sob camuflagem
Muitos em Chimanimani vêm do Zimbabué. Por 600 meticais, nem 14 euros, compram identidade moçambicana. Assim, se forem descobertos com ouro, evitam ser deportados para o país do lado, um país sem futuro.
Foto: DW/M.Barroso
Entre o fumo
Carregadores e garimpeiros moram em cavernas. Aqui cozinham, aqui se aquecem com lenha do mato e aqui dormem. A fuligem que sobe do lume pinta as paredes da rocha, crava-se nos pulmões, queima os olhos.
Foto: DW/M.Barroso
Natureza em erosão
Desde que os fiscais do parque sobem ao planalto para escurraçar os infratores da lei, os garimpeiros dispersam ao longo de vários rios. Assim, a vegetação ribeirinha é destruída, a erosão dos solos espalha-se e os sedimentos são transportados pela corrente, causando turvação das águas.
Foto: DW/M.Barroso
Baco Ramambo, o mercado
Em dias de chuva como hoje, cada um se refugia na sua caverna e o mercado de Baco Ramambo adquire um ar triste. Das negociatas que aqui se fazem em dias bons não há sinal.
Foto: DW/M.Barroso
A camarata do mercado...
Poucos são os que se aventuram a pernoitar na zona de Baco Ramambo com medo dos fiscais. Ainda assim, esta camarata serve de abrigo aos que por aqui ficam.
Foto: DW/M.Barroso
... e a cozinha
O rádio que traz música na caverna da cozinha de Baco Ramambo foi vendido num dia húmido como o de hoje. Em dias assim, só os carregadores faturam, já que poucos garimpeiros ousam entrar nos riachos – nestas condições impiedosas, a água provoca febres.
Foto: DW/M.Barroso
Chimanimani - um El Dorado
É aos americanos, aos sul-africanos e aos libaneses que carregadores e garimpeiros vendem o seu ouro. São eles que fazem as verdadeiras fortunas vindas de Baco Ramambo.