Polícia de Moçambique aponta o dedo a homens armados e dissidentes do maior partido da oposição por ataque contra mini-autocarro que matou duas pessoas na província de Manica, centro do país.
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A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica, através do chefe do departamento das Relações Públicas, atribuiu o ataque contra um "chapa" a homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e seus dissidentes, não fazendo diferença entre os dois.
O ataque, que aconteceu esta quarta-feira (06.11), na região de Pinanganga, numa estrada terraplanada no interior do distrito de Gondola, província de Manica, no centro do país, causou dois mortos e três feridos graves.
"Confirmamos a ocorrência. Homens armados da RENAMO no distrito de Gondola, localidade de Pinanganga, efetuaram disparos contra uma viatura de transporte semicoletivo", afirmou Mário Arnaça, chefe das Relações Públicas no Comando Provincial da PRM em Manica.
Arnaça disse não haver diferença entre o partido RENAMO, liderado por Ossufo Momade, e a auto-proclamada junta militar liderada pelo general Mariano Nhongo, pelo que responsabiliza ambas as partes: "Todos são homens armados da RENAMO, no teatro das manobras não há distinção".
"Vivem nas suas bases e a polícia tem conhecimentos disso, já ativou as suas linhas operativas com vista a neutralizar esses autores para serem responsabilizados daquilo que protagonizaram em Pinanganga", acrescentou.
RENAMO rejeita acusações
Em declarações à agência de notícias Lusa, José Manteigas, porta-voz da RENAMO, reiterou o afastamento do partido em relação aos ataques, garantindo que o partido "está comprometido com a paz".
PRM responsabiliza RENAMO por ataque em Gondola
"Os homens armados da RENAMO estão acantonados na Gorongosa, à espera da reintegração", precisou. "Se as Forças de Defesa e Segurança são incapazes de debelar este grupo [da autoproclamada Junta Militar da Renamo], então não culpem a RENAMO pelos ataques", acrescentou José Manteigas, insistindo que a "Renamo está comprometida com o acordo de paz e tem agido de boa fé para o preservar".
Um passageiro morreu crivado de balas quando o veículo foi "metralhado" por um grupo armado, durante a emboscada, contaram várias testemunhas entrevistadas naquela região. A viatura foi depois incendiada numa estrada de argila, cerca de 60 quilómetros a nordeste de Chimoio, capital de Manica.
Uma mulher também terá morrido atingida por balas quando foi surpreendida na sua quinta, contaram testemunhas à DW África. A polícia, no entanto, confirma apenas uma morte, segundo a Lusa.
Transportes coletivos: Um perigo em Chimoio
Desde o "chapa" ao "my love", passando pelo autocarro: andar de transportes em Chimoio, província de Manica, centro de Moçambique, significa correr riscos. Viaturas em péssimo estado e falta de fiscalização são rotina.
Foto: DW/B. Jequete
Latas em trânsito
É uma visão comum nas ruas da cidade de Chimoio: os dedos das mãos não chegam para contar as viaturas de transporte de passageiros que deveriam estar fora de circulação há muitas inspeções atrás. Mas os residentes não têm grande escolha e vêem-se forçados a andar em mini-autocarros como o da imagem - conhecidos por "chapas" - com portas que não fecham bem, pneus em mau estado e luzes avariadas.
Foto: DW/B. Jequete
Sentar é arriscado
No interior dos veículos, o cenário é idêntico. Os assentos em grande parte dos chapas já viram melhores dias. Além do desconforto, a situação chega a colocar os passageiros em risco: há mini-autocarros em que vão sentados em ferros, mesmo em viagens mais longas. E subir e descer dos transportes é muitas vezes sinónimo de chegar ao destino com a roupa rasgada devido às más condições dos bancos.
Foto: DW/B. Jequete
Famoso...e empoeirado
Além do risco de acidentes, há também ameaças à saúde dos passageiros. Em muitos chapas, as janelas deixaram de ser de vidro há vários quilómetros. A fita-cola usada para "remediar" não é suficiente para travar a poeira e a poluição. E as viagens são feitas a respirar este ar impuro.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos também nos transportes públicos
Os autocarros geridos pela autarquia também precisam de manutenção. O material escolhido para substituir este vidro foi a fita-cola, que serve também para remendar tejadilhos. Andar de autocarro público em época de chuva pode significar chegar molhado ao destino. E os passageiros questionam o trabalho de inspeção das autoridades, numa altura em que aumenta o licenciamento de viaturas obsoletas.
Foto: DW/B. Jequete
Uma frota degradada
Na paragem de transportes urbanos que fazem a rota Cidade-Bairro 5 e vice-versa, nenhum carro está em condições para o efeito. E todos passaram e passam de seis em seis meses a inspeção de viaturas e circulam sob o olhar dos agentes reguladores de trânsito. Alguns passageiros preferem andar a pé em vez de correrem riscos a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Verificar condições antes de arrancar
Os passageiros que continuam a arriscar viajar nos chapas degradados verificam as condições dos veículos antes de subirem a bordo. Se não oferecerem condições mínimas - especialmente no caso dos assentos - desistem e esperam pela próxima viatura.
Foto: DW/B. Jequete
Viagens de risco nos "my love"
Por falta de transportes em algumas rotas na cidade e na província, as viaturas de caixa aberta também fazem transporte de passageiros - uma atividade ilegal. Os chamados "my love" foram concebidos para o transporte de mercadorias. Não há qualquer tipo de segurança para as pessoas a bordo.
Foto: DW/B. Jequete
Sem condições? Sem problema
Engane-se quem pensa que não há fiscalização. Nenhuma viatura que faz o serviço de transporte de passageiros escapa às rondas dos agentes reguladores de trânsito. Mas a polícia fecha os olhos às más condições dos veículos e deixa passar os chapas, gerando muitas críticas entre a população, que questiona os critérios das autoridades. Em vez de sanções, só há extorsão, dizem os residentes.
Foto: DW/B. Jequete
Remendos para todos os gostos
São inúmeras as soluções encontradas pelos proprietários para manterem os chapas em funcionamento: se os fechos já não funcionam, usam-se cordas, arames ou correntes - mas há casos em que as portas caem nas vias, impedindo a circulação. Se o veículo já não tem ignição, faz-se uma ligação direta, contrata-se alguém para empurrar ou estaciona-se numa rampa - colocando os passageiros em risco.
Foto: DW/B. Jequete
Novos autocarros são gota no oceano
O Ministério dos Transportes acaba de alocar para a província de Manica dez autocarros para o transporte público. Destes, apenas três vão para Chimoio, uma cidade com 33 bairros e mais de 300 mil habitantes.
Foto: DW/B. Jequete
Ministro promete mais
O Ministro dos Transportes, Carlos Mesquita, viaja com o governador de Manica, à direita, e o presidente da autarquia de Chimoio, à esquerda, momentos depois de fazer a entrega dos autocarros às empresas privadas que gerem os transportes. Mas não há lugares para todos nesta viatura com capacidade para 88 passageiros. O ministro promete mais autocarros para a província de Manica.
Foto: DW/B. Jequete
À espera de novas viaturas e novas regras
Além de mais veículos, o Governo promete outras medidas para regular o setor. Até lá, os "my love", os chapas e os (poucos) autocarros - mesmo degradados - são a solução possível para os residentes de Chimoio e da província de Manica.