Polícia dispersa manifestantes com violência em Harare
Privilege Musvanhiri / Glória Sousa / AP4 de agosto de 2016
A polícia do Zimbabué reprimiu com violência uma manifestação pacífica contra o Presidente Robert Mugabe, esta quarta-feira (03.08), na capital do país. Várias pessoas ficaram feridas.
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Centenas de manifestantes protestaram contra o plano do Governo de introduzir uma divisa nacional, esta quarta-feira, em frente ao ministério das Finanças, na capital Harare.
Depois da hiperinflação que destruiu a economia em 2008-2009, o dólar norte-americano foi adotado como moeda corrente. Mas perante a atual falta de dólares, o Governo pretende fazer regressar a moeda nacional a partir de outubro. O plano não agrada aos manifestantes.
"Eu não quero esse “lenço de papel” que vão introduzir. Estou bem com o dólar norte-americano. Não queremos voltar aos dias de pobreza e fome, nem pensar. Estamos fartos," disse uma mulher.
"A moeda foi rejeitada, é uma experiência anti-democrática, vai contra a economia e a fiscalidade, que vai significar tirar dinheiro às pessoas e dar-lhes um papel que não tem qualquer valor econômico," reclamou um outro zimbabueano.
"Vamos voltar a 2008, quando não tínhamos nada nas prateleiras. O Governo tem de ter um plano," exigiu outra manifestante.
Repressão violenta
Os manifestantes exigiam a saída do Presidente Robert Mugabe. Muitos levavam a bandeira nacional à volta do pescoço, carregavam cruzes de madeira e desempregados licenciados usavam os seus uniformes de graduação.
Acusavam Mugabe e o partido no poder, ZANU-PF, de falharem na gestão da economia do país. Temem que o retorno da moeda nacional represente o regresso da hiperinflação.
Um grupo entregou uma petição ao Ministério das Finanças pedindo a revogação da medida e seguiu em direção ao Parlamento.
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Foi nessa altura que a polícia dispersou os manifestantes à bastonada, com canhões de água e gás lacrimogéneo. Alguns responderam atirando pedras à polícia. Pelo menos três jornalistas foram agredidos e ficaram sem o equipamento.
A advogada Fadzai Mahere, que desafiou as autoridades sobre a introdução da moeda nacional, entende que o Governo deve abandonar o plano.
"Não há base legal para a introdução das notas. A nossa Constituição obriga qualquer autoridade administrativa a cumprir a lei. Não podem esperar ter a nossa confiança, quando agem fora da lei. É a mesma coisa que estarem a pedir para jogarmos um jogo que não tem regras e eles têm o poder todo," criticou.
A ex-vice-Presidente Joice Mujuru, afastada por Mugabe em 2014, também se opôs à medida e pediu a análise do Tribunal Constitucional.
O Zimbabué tem sido palco de vários protestos anti-governamentais nos últimos meses. A crise económica agravou-se este ano e o Governo tem tido dificuldades em pagar aos funcionários públicos.
Protestos no Zimbabué podem trazer mudanças?
Há cada vez mais zimbabueanos a protestar nas redes sociais e a ir para as ruas. Conhecido em tempos como o celeiro de África, o país enfrenta agora graves problemas económicos. Os manifestantes pedem uma nova liderança.
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
Contra a fome
Centenas de mulheres saíram às ruas de Bulawayo, a segunda maior cidade do Zimbabué, a 16 de julho. Levavam na mão tachos e panelas em que batiam com colheres de pau para denunciar as dificuldades económicas e fome no país. "Estamos a aquecer ainda mais a panela que já está a ferver. Vamos aquecer a panela até que Mugabe saia", cantavam as mulheres da campanha #BeatThePot (#BateOTacho).
Foto: Getty Images/AFP/Z. Auntony
O pastor e a bandeira
Em abril de 2016, o pastor Evan Mawarire lançou a campanha #ThisFlag (#EstaBandeira) nas redes sociais, exigindo ao Presidente Robert Mugabe que agisse contra a corrupção no Governo. Mawarire convocou para 6 de julho uma paralisação nacional contra as dificuldades económicas - a maioria dos zimbabueanos ficou em casa; na capital, a maior parte das empresas e os bancos estrangeiros não abriram.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T.Mukwazhi
Protestos dos taxistas
A 4 de julho, taxistas e condutores de transportes semi-coletivos de passageiros protestaram contra os abusos da polícia. Muitos jovens não conseguem encontrar emprego e, por isso, ganham a vida a transportar passageiros. Mas os motoristas queixam-se dos vários bloqueios policiais na estrada, que, segundo eles, servem para os agentes extorquirem dinheiro a quem por ali passa.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
"Mugabe tem de sair"
Sobe a pressão para o Presidente Mugabe abandonar o cargo, devido à grave crise económica que o país atravessa. Há cada vez mais zimbabueanos descontentes com a alta taxa de desemprego, a corrupção no Governo e a falta de dinheiro, que faz com que as pessoas tenham de esperar horas a fio nos bancos para fazer um levantamento - e só podem levantar 50 dólares por dia (45 euros) na caixa automática.
Foto: Getty Images/AFP/J. Njikizana
Mugabe não quer sair
Robert Mugabe tem mandado as forças de segurança abafar as vozes críticas desde que está no poder, há 36 anos. E continua a não querer deixar a Presidência, apesar de aumentarem os pedidos para que se demita face à crise económica. Mugabe mantém tensas relações com o Ocidente, e os seus aliados asiáticos, como a China e Singapura, não estão dispostos a oferecer a ajuda que o país necessita.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Uma economia estilhaçada
Os cofres do Zimbabué estão virtualmente vazios. Os preços dos produtos aumentaram com a seca no país e a economia ficou ainda mais fragilizada. Do Ocidente chega pouca ajuda, depois das sanções à liderança política do país devido a fraude eleitoral e violações dos direitos humanos.
Foto: AFP/Getty Images
Instituições financeiras relutantes
O Zimbabué não consegue obter nenhum empréstimo no estrangeiro e tenta devolver os 1,8 mil milhões de dólares em atraso ao Fundo Monetário Internacional, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Mundial, para conseguir desbloquear novos financiamentos. Para isso, o Executivo de Mugabe terá de resolver os problemas relacionados com a governação e transparência e levar a cabo reformas económicas.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Lo Scalzo
Sem fim à vista
Hoje em dia, o Zimbabué já não é o celeiro de África, como foi considerado em tempos. A seca prolongou-se e as colheitas foram más. Agora, são esperados novos protestos. Na última campanha eleitoral, Mugabe prometeu dois milhões de empregos aos jovens licenciados. A promessa continua por cumprir.