Polícia lançou gás lacrimogéneo e agrediu manifestantes que protestavam contra o Governo em Harare. Autoridades proibiram o protesto, mas manifestantes defendem o direito constitucional de se manifestar.
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Centenas de pessoas desafiaram a proibição e foram esta sexta-feira (16.08) para as ruas de Harare protestar contra a administração do Presidente Emmerson Mnangagwa.
A polícia travou os protestos, lançando gás lacrimogéneo e usando canhões de água para dispersar os manifestantes. Perseguiu ainda os opositores com cassetetes e prendeu várias pessoas. Uma mulher foi socorrida por uma ambulância da Cruz Vermelha.
O protesto em Harare foi convocado pelo maior partido da oposição, o Movimento para a Mudança Democrática (MDC, na sigla em inglês), que acusa o Presidente Mnangagwa de conduzir o país para um caminho de grave instabilidade económica: a inflação atingiu os 175% e faltam produtos básicos. Segundo o Programa Alimentar Mundial, pelo menos metade da população está em risco de fome.
Da esperança à desilusão
Depois de Mnangagwa substituir Robert Mugabe, afastado da Presidência em novembro de 2017, muitos zimbabueanos esperaram um "virar de página" no país.
Mas, segundos os críticos, a esperança deu lugar à desilusão e ao medo - não só por causa da crise económica, mas também pela forma como as autoridades zimbabueanas têm reprimido vozes dissonantes.
Em janeiro, várias pessoas morreram e centenas ficaram feridas em manifestações contra o aumento do preço dos combustíveis, reprimidas violentamente pelas forças de segurança. Antes da manifestação desta sexta-feira, seis ativistas foram raptados em suas casas, durante a noite, e espancados por homens armados, segundo uma coligação de grupos de defesa dos direitos humanos.
A Amnistia Internacional (AI) acusou, na quinta-feira, o Executivo de Mnangagwa de "usar algumas das táticas brutais observadas durante a governação de Robert Mugabe".
"Em vez de ouvir as preocupações dos manifestantes sobre a economia, as autoridades têm usado tortura e raptos para silenciar os opositores e instalar um clima de medo", afirmou Muleya Mwananyanda, diretora regional adjunta da AI para a África Austral.
"Passámos da frigideira para a fogueira"
O protesto de sexta-feira foi proibido pelo Governo de Mnangagwa. O MDC contestou a decisão, mas a Justiça zimbabueana acabou por dar razão ao Executivo.
Ainda assim, a oposição espera que outras manifestações antigovernamentais se sigam: "A Constituição garante o direito à manifestação. Mas este regime fascista negou e proibiu este direito ao povo do Zimbabué", afirmou Tendai Biti, vice-presidente do MDC.
"Passámos da frigideira para a fogueira depois do golpe de novembro de 2017. […] Não aceitamos as ações deste regime, as ações do Sr. Mnangagwa."
Esta sexta-feira, a polícia impediu o acesso aos escritórios do MDC em Harare e montou barricadas para deter os manifestantes. Revistou ainda automóveis e autocarros à procura de armas. De acordo com a agência de notícias Reuters, muitas lojas ficaram fechadas e os poucos empregados que apareceram para trabalhar foram aconselhados a ir para casa.
Na véspera do protesto, a polícia andou com megafones por algumas ruas de Harare, avisando os habitantes para não participarem nos protestos: "Não participem, senão vão apodrecer na prisão", anunciou a polícia.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.