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Angola: Um morto em funeral de músico "Nagrelha"

22 de novembro de 2022

A polícia angolana dispersou com gás lacrimogéneo um tumulto perto do cemitério de Sant'Ana, onde foi sepultado o músico kudurista "Nagrelha". Um jovem morreu e 33 pessoas ficaram feridas. Houve ainda 18 detenções.

Foto: B. Ndomba/DW

Luanda parou para prestar tributo ao "Nagrelha dos Lambas".

Milhares de pessoas foram assistir ao funeral do músico mais popular de Angola, que ficou marcado por tumultos. A polícia dispersou com gás lacrimogéneo e balas de borracha muitos populares, que pretendiam quebrar o cordão de segurança para entrar no cemitério de Sant'Ana.

A população respondeu com pedras e garrafas à ação policial. A DW constatou vários feridos.

Um morto e 33 feridos

Segundo dados da polícia de Luanda, há registo da morte de um menor de idade e 33 feridos, incluindo 16 agentes. A vítima mortal, adiantou a polícia à agência de notícias Lusa, será um adolescente de 13 ou 14 anos, que morreu asfixiado. Pelo menos 18 cidadãos foram detidos por vandalismo e pilhagem em algumas lojas da circunscrição do cemitério. 

Em comunicado, a polícia afirma que, "face à tentativa de invasão do cemitério, as forças policiais foram obrigadas a dispersar a multidão desordeira". Em declarações à Televisão Pública de Angola, o diretor de operações do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, Lázaro Conceição, garantiu que os agentes usaram a "força mínima".

João Gaspar um dos participantes no funeral, criticou a atuação da polícia: "A polícia dececionou toda a gente. Não sabe trabalhar. Não tinha razão de ter pânico. As pessoas estavam emocionadas porque é o 'Nagrelha'. O Estado tinha que reservar lugar para a população".

Durante a manifestação, registaram-se também danos materiais, nomeadamente em quatro viaturas da polícia e cinco autocarros vandalizados, uma motorizada carbonizada e numa esquadra móvel, bem como o roubo de botijas de gás e grades de cerveja em quantidade não determinada.

Morreu "uma referência"

Crianças, adultos e idosos encheram a Avenida Deolinda Rodrigues para acompanhar de perto o funeral da figura emblemática da música angolana, integrante do grupo "Os Lambas", que revolucionou o estilo musical Kuduro.

"Nana", como é carinhosamente chamado pelos fãs, nasceu no Sambizanga, um distrito de Luanda com fama de zona de criminalidade. A sua ascensão à ribalta musical influenciou muitos jovens a cantarem e dançarem o Kuduro, um estilo de música urbana ainda marginalizado.

Milhares de angolanos participaram no funeral de "Nagrelha", dezenas ficaram feridosFoto: B. Ndomba/DW

João Mário, um dos fãs do músico, diz que a história de superação de "Nagrelha" influenciou muitos jovens a trocarem a delinquência pela música. 

"Para mim, 'Nagrelha' é um pai, é um ícone do Kuduro, é uma pessoa que motivou muita juventude. 'Nagrelha' é a lenda que nunca morre", afirmou.

Fãs pedem estátua

Os fãs do "Estado Maior do Kuduro" pedem agora ao Governo que coloque em Luanda uma estátua do músico, tido como o "Michael Jackson" de Angola. 

"Pica-Pau", um dos seguidores, lembra que o artista é uma referência da juventude angolana. "Temos que condecorá-lo. Queremos uma estátua no Sambizanga ou em qualquer parte de Angola", apelou.

Fãs pedem uma estátua para o "Estado Maior do Kuduro"Foto: B. Ndomba/DW

Nagrelha morreu aos 36 anos, vítima de cancro no pulmão. 

Durante o cortejo fúnebre, os fãs cantaram os grandes sucessos do músico. Os toques de dança do estilo Kuduro não faltaram durante a marcha.

Lourenço Inácio, com o nome artístico "Sete Cores", lembra 'Nagrelha' como um mestre: "É por ele que me tornei cantor e estou a dar o meu contributo na música angolana. Sinto por termos essa perda no Kuduro. 'Estado Maior do Kuduro', nosso 'Nagrelha', que a sua alma descanse em paz".

Artigo atualizado às 19:25 (CET) de 22 de novembro de 2022.

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