Manifestantes e jornalista da DW que transmitia em direto protesto contra proibição do uso de cabelo crespo nas escolas foram detidos. Em nota, Sindicato dos Jornalistas Angolanos repudiou veementemente ação da polícia.
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A marcha contra a proibição do uso do cabelo crespo em algumas escolas de Luanda, prevista para acontecer este sábado (08.10), foi impedida pela polícia. O jornalista da DW e 14 manifestantes foram detidos e levados pela esquadra policial.
No fim desta tarde, porém, tanto o jornalista Borralho Ndomba como os demais detidos foram postos em liberdade.
Entre os cidadãos que pretendiam realizar a marcha estavam estudantes, encarregados de educação e alguns professores insatisfeitos com a proibição do uso dos cabelos crespos.
Um professor presente na marcha disse que considera racista a imposição das autoridades. "Nosso cabelo é nossa identidade cultural", disse ele, com um cartaz nas mãos onde se lia a mensagem "meu cabelo, minha identidade. Cabelo 'black' importa".
Detenções
Segundo o Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), cerca de 14 estudantes foram detidos quando tentavam marchar em Luanda. Em declarações à DW, o presidente do MEA, Francisco Teixeira criticou a violência policial contra vários manifestantes.
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"Estamos tristes e insatisfeitos com a postura da polícia. Eram apenas crianças que queriam manifestar, não percebo porque a tamanha brutalidade", disse.
O correspondente da DW África, Borralho Ndomba, que fazia uma transmissão em direto no local, também foi levado pela polícia e ficou detido por cerca de uma hora.
"Ao tentar questionar a razão do impedimento, forçaram-me a subir no carro, onde fui colocado com mais três estudantes", disse. O jornalista relata que foi obrigado a interromper as entrevistas e a filmagem e que teve a sua carteira e o telefone apreendidos.
Numa nota de repúdio no fim da tarde deste sábado, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) condenou veementemente a ação da polícia angolana, exigindo explicações sobre as sucessivas detenções de jornalistas no exercício da profissão.
"Este sábado foi o jornalista e correspondente da Voz da Alemanha, Borralho Ndomba, que se viu obrigado a interromper a transmissão que fazia da manifestação de estudantes e foi levada para a esquadra debaixo dos assentos do automóvel", lê-se na nota
"O SJA condena de modo veemente o abuso da autoridade dos efectivos da Polícia Nacional, presentes no Cemitério da Santana, e gostaria de saber se os jornalistas precisam de autorização, à luz da Constituição da República e da Lei de Imprensa, para cobrir quaisquer manifestações", escrevem.
Medo dos "cabeludos"
Dig Paihama, um dos jovens que pretendia participar na marcha, afirma que a repressão demonstra que as autoridades estão com medo dos angolanos "cabeludos".
"Na verdade, eles têm medo. De acordo com a Constituição, nós não violamos nada. E nada nos impede manifestar", desabafou.
A proibição do cabelo crespo é motivada pela educação ocidental, diz Paihama. "Esqueceram que somos africanos e temos uma identidade", disse o jovem angolano que incentiva os filhos usarem o cabelo crespo.
O tema da proibição do uso do cabelo crespo nas escolas em Luanda voltou a baila na últimas semanas, após uma mãe ter denunciado a proibição da entrada do seu filho num dos colégios de Luanda pela mesma razão. Também uma estudante do ensino médio foi retirada da turma por não pentear o cabelo. O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) diz que já recebeu diversas denúncias.
O conceito do que é belo em África é diverso e está em constante mudança. Máscaras centenárias mostram que muito do que foi tido como belo é hoje questionado – não apenas em África.
Foto: Dirndl à l´Africaine
Orgulho de ser negro
Colonialistas europeus pensavam que os africanos não era civilizados e, além disso, feios. Os africanos reagiram a essa arrogância. Enquanto alguns adotaram a moda e o estilo das elites urbanas europeias, outros se ativeram aos ideiais tradicionais de beleza. Na América do Norte e na África do Sul, desenvolveu-se o grito de protesto "Black is beautiful" (Ser negro é lindo, em inglês).
Foto: Getty Images/Hulton Archive
Cabelos sensíveis
Penteados são, geralmente, não apenas mera expressão de um estilo pessoal, mas também indicam a idade, origem e status de uma pessoa. De todos os tipos de cabelo, o africano é o mais sensível. Facilmente, ele fica seco e sem vida. Hoje em dia, tornou-se novamente popular deixar o cabelo natural, sem recorrer a cabelos sintéticos ou perucas.
Foto: DW/H. Fischer
Cremes de branqueamento
Óleos, cremes e maquiagem são para muitos africanos garantia de uma pele bonita e saudável. Cremes de branqueamento são populares em vários países. Mais de 75% das mulheres nigerianas clareiam a própria pele com cremes especiais. Em toda África, campanhas alertam para a presença de químicos fortes na composição dos cosméticos, que podem causar danos à pele.
Foto: DW/H. Fischer
Moda de protesto
Durante o período colonial, muitos congoleses queriam mostrar que poderiam ser como os europeus. A mera imitação da Moda de Paris evoluiu para um estilo único. Entre os anos 1970 e 1980, os chamados "Sapeurs", os homens extraordinariamente bem vestidos do Congo, passaram a usar as marcas de luxo ocidentais.
Foto: Getty Images/AFP/Junior D. Kannah
O que dita a moda na Tanzânia
Essa escultura também é parte da mostra "Africa's Top Models" em Hamburgo. Para o grupo étnico Maconde, na Tanzânia, um ideal de beleza feminino são os lábios grandes. Na boca é feito um orifício onde é colocado um alargador, que é trocado ao longo do tempo por outros maiores. Alargadores são também usados nas orelhas em alguns locais no Ocidente. Será que eles vão se tornar a próxima tendência?
Foto: DW/H. Fischer
Estilo à moda antiga
Pele avermelhada, cabelos trançados extravagantes e olhos semicerrados. Esta máscara de mais de 100 anos representa uma mulher bonita da etnia Chokwe, na República Democrática do Congo. Muitos povos africanos traduzem desde séculos o ambiente ao seu redor em forma de máscaras e figuras. Os artistas Chokwe faziam as máscaras inspirados em modelos, que eram proibidas de ver o resultado final.
Foto: DW/H. Fischer
Joias como objetos de proteção
Ouro, prata, pérolas, pedras preciosas, cobre, coral, couro e marfim são acessórios de beleza não apenas em África. Mas no continente africano elas carregam uma simbologia. As joias servem como proteção contra maldições e também como talimãs da sorte. Em algumas regiões, pessoas consideradas belas usam joias especiais para se proteger da inveja alheia.
Foto: DW/H. Fischer
Beleza como expressão de bons costumes
Na língua do grupo étnico Ibibio, da Nigéria, a palavra "mfon" significa "belo" e "moralmente bom". "Idiok" quer dizer "odioso" e "moralmente ruim". Os ancestrais da boa moral eram representados por belas máscaras: elas são simétricas, a cor da pele é clara, a testa é alta e as feições são delicadas. As máscaras de ancestrais imorais têm narizes tortos e são desfiguradas.
Foto: DW/H. Fischer
A verdadeira beleza vem de dentro
"Um rosto bonito e um belo vestido não constituem um belo caráter", diz um provérbio congolês. Em muitas culturas africanas, o pensamento é de que os que agem moralmente também são belos. Um comportamento reservado e a bondade altruísta são considerados em muitos lugares, especialmente na Índia, como expressão da "beleza interna".
Foto: DW/H. Fischer
A África é chique!
Não é apenas o Ocidente que exporta o seu conceito de beleza para o mundo. Designers africanos também conquistam as passarelas. Tecidos africanos e cortes tradicionais são populares em outros continentes. Ideais de beleza antigos, como os penteados trançados, são muito populares na Europa e Estados Unidos.