Moçambique: Polícia detém suspeitos de tráfico de pessoas
Leonel Matias (Maputo)
1 de dezembro de 2017
15 crianças estavam entre as 22 pessoas que seriam transportadas esta semana para a África do Sul. ONG fala em "crime organizado" e pede maior empenho das autoridades contra o tráfico humano no país.
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Em Moçambique, a polícia anunciou, esta sexta-feira (01.12), em Maputo, que abortou uma tentativa de tráfico de seres humanos, incluindo crianças, para a África do Sul. O caso ocorreu na última quarta-feira (29.11.). Os dois suspeitos de tráfico encontram-se detidos, enquanto se procede a abertura dos respetivos autos de acusação.
O grupo, constituído por 22 pessoas, incluindo 15 crianças com idades entre os cinco e 12 anos, estava a ser transportado para o país vizinho pelos dois presumíveis traficantes. As crianças foram entregues aos seus familiares, segundo informou o porta-voz da polícia na província de Maputo, Fernando Manhiça.
O porta-voz disse que o grupo era transportado numa viatura que foi interceptada pela polícia de guarda fronteira na região da Ponta de Ouro, no sul do país.
"Ao ser fiscalizada constatamos que estavam lá 22 pessoas que não tinham nenhum documento que lhes habilitava a atravessar a fronteira. E nisso suspeitamos logo que se tratava de tráfico de pessoas", afirmou.
Crime organizado
Os presumíveis traficantes alegam que as crianças iam ter com os seus país na África do Sul. Entretanto, a diretora Executiva da Rede de Comunicadores Amigos da Criança, Célia Claudina, esclarece que a legislação moçambicana apenas permite transportar crianças se houver "uma credencial dos pais".
Célia Claudina descreveu à DW África o estado em que se encontravam as crianças quando foram resgatadas. "Elas foram encontradas numa situação em que tinham receio de contato com as pessoas. É o sinal mais claro de que estavam a ser transportadas de forma indevida e irregular", acrescentou.
Para a diretora da Rede de Comunicadores Amigos da Criança, este caso faz parte de uma rede de crime organizado. "Há sinal de que este tipo de práticas é frequente no nosso país, mas são casos que não foram devidamente investigados e, por conta de fugas de informação, quando a polícia foi informada infelizmente já não encontraram os indícios que levariam a conclusão de que se estava perante um caso de tráfico de crianças".
Moçambique:Resgate das crianças - MP3-Mono
Pobreza favorece o crime
De acordo com o porta-voz da polícia, "há indivíduos que atravessam a fronteira na busca de melhores condições de vida, outros vêm da África do Sul para Moçambique". Fernando Manhiça fez um apelo à população, pedindo a todos que ajudem a "divulgar qualquer tipo de ilicitude com vista a colmatarmos este tipo de situações".
Os casos de tráfico de pessoas ocorrem em diversas comunidades do país. As vítimas são aliciadas com melhores condições de trabalho e de vida, mas muitas vezes são usadas para realizarem trabalhos não remunerados, para prostituirem-se ou ainda para contraírem matrimónios forçados.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
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Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.