Mais uma manifestação proibida pela polícia guineense
Lusa | ar
7 de dezembro de 2017
Polícia da Guiné-Bissau proibiu a realização de uma marcha de partidos de oposição que contestam o Presidente guineense, alegando o cumprimento de ordens da Procuradoria-Geral da República.
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Segundo uma fonte da corporação contactada pela agência de notícias Lusa,, a marcha convocada para esta quinta-feira (07.12.) por 18 partidos, não pode ter lugar na sequência da ordem emitida pelo novo Procurador-Geral guineense, Bacari Biai, segundo a qual, a Constituição do país "não prevê a realização de manifestações a qualquer momento".
Numa nota emitida no dia 02 de dezembro, o Procurador guineense, citando a Constituição do país, ressalvou que "os cortejos e desfiles de cidadãos só são permitidos aos domingos e feriados" e aos sábados "a partir das 13 horas e em dias uteis só depois das 19 horas".
Alguns dirigentes e ativistas de partidos ainda tentaram juntar-se na localidade de Chapa de Bissau, a três quilómetros do centro da capital, de onde partiria a marcha, mas rapidamente foram mandados dispersar pela polícia.O jornalista Assana Sambu, do jornal "O Democrata", indicou à Lusa ter sido impedido pela polícia de registar as imagens, sob o pretexto de não ter autorização do Ministério do Interior.
Medida "ilegal"
Dois líderes partidários presentes no local, Agnelo Regalla e Nuno Nabian, disseram aos jornalistas que a medida da polícia "é ilegal" e que o Presidente guineense, José Mário Vaz, e o "seu Governo serão responsabilizados perante a comunidade internacional". "Eles que entendam que, de certeza absoluta, serão objeto de sanções pela comunidade internacional", sublinhou Agnelo Regalla, líder do partido União para Mudança (UM).Nuno Nabian, candidato derrotado na segunda volta das últimas eleições presidenciais e atual líder do partido Assembleia do Povo Unido- Partido Social Democrata (APU-PDGB), afirmou que a "democracia está ameaçada" na Guiné-Bissau, mas que os partidos da oposição "não vão baixar os braços".
O coletivo de partidos que fazem oposição ao Presidente guineense anunciou que vai realizar marchas em Bissau entre hoje e sexta-feira (07/08.12.), bem como nos próximos dias 14 e 15.
Os dois dirigentes que se encontravam na Chapa de Bissau anunciaram que vão indicar aos cidadãos quais as medidas a serem tomadas "para continuar a luta contra a ditadura" ainda que não pretendam "colocar em causa a paz" no país.
Na quarta-feira (06.12.), momentos antes de embarcar para uma visita de 24 horas ao Senegal, o Presidente guineense, José Mário Vaz, afirmou que a solução para os problemas da Guiné-Bissau "deve ser encontrada pelos cidadãos" do país.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.