Polícia procura suspeito de assassinar edil de Nampula
Sitoi Lutxeque (Nampula) | Lusa
5 de outubro de 2017
A Polícia de Moçambique já tem uma descrição clara do suspeito de assassinar o presidente do Conselho Municipal de Nampula. Mahamudo Amurane, do MDM, foi morto com três tiros, na quarta-feira, por um desconhecido.
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A Polícia da República de Moçambique (PRM) tem em curso uma operação para deter o suspeito. "Há indicações claras feitas pelas testemunhas oculares de que os disparos teriam sido feitos por um indivíduo com características devidamente descritas. A polícia está na posse dessas descrições e temos testemunhas importantes", disse à agência de notícias Lusa Inácio Dina, porta-voz da PRM.
O comandante provincial da PRM em Nampula, Zacarias Zandamela, não quis avançar quaisquer detalhes, mas garantiu que a Polícia está a trabalhar na investigação e oportunamente vai pronunciar-se sobre o assassinato do edil. Para já, não são conhecidas eventuais motivações do crime.
Assassinado no Dia da Paz
Mahamudo Amurane foi baleado junto à sua residência particular, no bairro de Namutequeliua, arredores da cidade de Nampula, a menos de 400 metros de uma esquadra policial, numa altura em que o país celebrava os 25 anos da assinatura dos Acordos Gerais da Paz.
O segurança do edil disse à DW África que teria sido dispensado pelo próprio Amurane por volta das 14:00, depois das cerimónias oficiais.
Polícia procura suspeito de assassinar edil de Nampula
Amurane estava na farmácia que geria, no rés-do-chão da sua residência particular, quando um homem entrou e disparou, disse à agência de notícias Lusa Saide Ali, vereador que estava junto do membro da comissão política do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) no momento em que foi alvejado.
Mahamudo Amurane, de 44 anos, não resistiu aos ferimentos e acabou por perder a vida no Hospital Central de Nampula. "Nós recebemos, por volta das 18:45, o corpo do presidente do Município. Entrou na reanimação, mas já foi confirmado o óbito", disse a diretora clínica da maior unidade sanitária do norte do país, Bainabo Sahal. A autópsia médico-legal será realizada esta quinta-feira (05.10).
Nampula de luto
O assassinato do edil abalou os cidadãos de Nampula e um pouco por todo o país. O MDM em Nampula reagiu à morte de Mahamudo Amurane, que já havia anunciado o abandono do MDM e a recandidatura, nas eleições de outubro de 2018, fora daquele partido, na sequência do mau relacionamento com o partido.
"Nós, como MDM, estamos enlutados, perdemos um quadro sénior do partido, membro da Comissão Política Nacional", disse à DW África Luciano Tarieque, delegado do MDM em Nampula, que exige justiça e pede à polícia que investigue e responsabilize os culpados.
O MDM, terceira força partidária do país, convocou uma sessão extraordinária da comissão política para esta quinta-feira (05.10), na cidade da Beira.
Mahamudo Amurane era casado e pai de dois filhos. A família reside atualmente em Portugal. Antes de ser presidente do Conselho Municipal tinha sido consultor financeiro da UNICEF e assessor financeiro da direção provincial de Educação e Cultura de Sofala.
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.