Em Moçambique, denúncias dão conta do alegado envolvimento de polícias com a facilitação do tráfico de drogas e a extorsão. O Comando da PRM investiga os relatos e tem cautela: “Não podemos assumir se existe ou não”.
Publicidade
Integrantes do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) e da Polícia da República de Moçambique (PRM) estão a ser acusados de colaborarem com uma rede de traficantes de drogas em Quelimane, capital da Zambézia.
O Comando Provincial da PRM esta a investigar a denúncia feita por jovens que estiveram detidos por alguns dias numa das unidades policiais na capital da Zambézia. O grupo diz que alguns agentes do SERNIC e da PRM os policiais exigem parte do dinheiro do tráfico em troca de protecção.
Um dos denunciantes diz que um dia foi surpreendido por membros da PRM no seu quarto. "Eles pediram para eu não me agitar e para que os levasse para a pessoa que vende as drogas. Quando os levei, ficou um agente [da SERNIC] lá dentro. Ele viu uma pessoa esconder a droga, mas quando os outros [polícias] entraram, não falou nada. Deixou os [polícias] fazerem a vasculha e mesmo sabendo que a droga foi escondida, não disse nada para os outros”, disse um dos denunciantes.
Entre os crimes cometidos pelos policiais estaria também a extorsão. "Eles levaram dinheiro da minha carteira e um telefone. Eram 2 mil meticais [o equivalente a 20 euros]”.
O chefe do Departamento das Relações Públicas do Comando Provincial da Policia da Republica de Moçambique, Miguel Caetano, disse à DW África que os crimes denunciados estão a ser investigados. Caetano confirmou há denuncias de envolvimento de membros da SERNIC e da PRM envolvidos na rede de tráfico de drogas - ou mesmo a facilitar o tráfico.
"É um trabalho que já estamos a levar a cabo no processo de investigação. Serão [adotadas] medidas criminais e disciplinares, processos crimes internos serão abertos. Isso poderá culminar com algumas medidas sancionatórias. Nós não podemos assumir se existe ou não. É um processo que vamos levar a cabo no âmbito da investigação”, comentou.
O Núcleo de Combate às Drogas na Zambézia identifica que o tráfico está mais intenso na província. O diretor da organização, Silvério dos Anjos, diz que a Zambézia regista aumento de apreensões de drogas nos últimos meses.
"Há progressivamente a tendência de consumo de drogas pesadas - é o caso da cocaína, haxixe - quando antes a Cannabis sativa era mais recorrente. Nas nossas cidades, já podemos ver que há tendência de penetração de drogas pesadas”, conclui.
Quelimane: Os mecânicos da capital do ciclismo de Moçambique
A bicicleta é o meio de transporte de eleição em Quelimane, capital da província da Zambézia. No centro, multiplicam-se oficinas e mecânicos prontos para prestar os seus serviços quando há uma avaria.
Foto: DW/M. Mueia
Modelos para todos os gostos
Na capital do ciclismo há dezenas de lojas, a maioria de cidadãos chineses, indianos e nigerianos, dedicadas à venda de bicicletas novas e usadas. Em cada um dos estabelecimentos, há no mínimo 500 veículos de todos os feitios e para todas as idades. O preço de uma bicicleta em segunda mão varia entre os 5 mil e os 10 mil meticais, cerca de 140 euros. Os estudantes são os principais compradores.
Foto: DW/M. Mueia
Estratégia de mercado
As oficinas do Mercado Central foram instaladas em locais estratégicos, como o próprio recinto do mercado e a avenida 25 de Junho. É aqui que muitos clientes procuram os serviços de reparação. Os preços variam em função do trabalho: reparar uma roda de bicicleta, por exemplo, pode custar 70 meticais - cerca de um euro. A manutenção completa de uma bicicleta nova ronda os 300 meticais.
Foto: DW/M. Mueia
Carga horária pesada
Muitos mecânicos têm de caminhar entre 10 a 15 quilómetros da zona de residência até ao mercado, onde se encontram as oficinas. O horário de trabalho não é fácil: as oficinas abrem de madrugada, entre as 4h00 e as 4h30, e fecham por volta das 17h30. Enquanto alguns regressam finalmente a casa, após um longo dia de trabalho, outros frequentam as aulas do regime noturno.
Foto: DW/M. Mueia
De bicicletas a motas
Fora do mercado central da cidade de Quelimane também há muitas oficinas. Muitos mecânicos oferecem serviço duplo: reparam não só bicicletas, mas também motorizadas. O arranjo de motas é mais rentável, duma vez que se trata de uma "máquina" mais complexa que uma bicicleta.
Foto: DW/M. Mueia
Clientes satisfeitos
Aiena Azevedo é uma das clientes assíduas destas oficinas. Hoje, traz novos pneus para substituir as rodas da sua motorizada. Nunca teve queixas sobre a qualidade dos serviços prestados pelos mecânicos no mercado central de Quelimane. Não se importa de pagar mais pela confiança: nunca deixaria a sua mota nas mãos de mecânicos fora do mercado.
Foto: DW/M. Mueia
Negócio gera negócio
A poucos metros das oficinas, há todo o tipo de peças para bicicletas e motorizadas à disposição de mecânicos e clientes. Em caso de danos maiores nos veículos, é preciso substituir várias componentes e o preço do arranjo aumenta.
Foto: DW/M. Mueia
Aprender o ofício
Todos os dias, as oficinas de Quelimane recebem novos aprendizes de mecânico de bicicletas. É o caso de Lucas Alilo Luís (à direita) que há seis meses trabalha com o mestre Fernando Mariano (à esquerda), os dois naturais de Inhassunge e residentes em Icidhua. Lucas não concluiu a 10ª classe por falta de condições e decidiu juntar-se aos mecânicos do centro.
Foto: DW/M. Mueia
Mecânicos a mais
O mecânico Lucas Casimiro, de 21 anos, do bairro Icidhua, queixa-se da falta de clientes. Diz que não há movimento devido ao excesso de mecânicos de bicicletas na cidade. A ausência de preços fixos também é um problema, na opinião de Lucas Casimiro: cada trabalhador estipula o seu valor e os clientes vão aos mecânicos de baixo custo.
Foto: DW/M. Mueia
Da agronomia à reparação de bicicletas
Em Quelimane, há quem tenha abandonado a sua profissão para se dedicar a este trabalho. Lerio Carlos, de 22 anos, formou-se em Agronomia. Há um ano, decidiu juntar-se aos mecânicos de bicicletas, por falta de emprego na sua área. Afirma que já está adaptado à nova realidade e que gosta do trabalho. Ganha cerca de 200 meticais (cerca de 3 euros) por dia.
Foto: DW/M. Mueia
Pagamento? Só no final!
É uma regra cumprida por todos nas oficinas: clientes e patrões concordam que o pagamento só se faz depois da conclusão do trabalho. Desta forma, evitam-se eventuais falhas na concertação da bicicleta.
Foto: DW/M. Mueia
Fruta para o almoço
Pelas oficinas, a alimentação não é a ideal. Baixon Casquero é um dos mecânicos de renome em Quelimane. Tal como muitos colegas, não tem tempo para ir a casa à hora do almoço. Ao meio-dia, faz uma pausa no arranjo de bicicletas e come duas mangas cozidas. Para variar, nalguns dias compra bolinhos. Nos dias em que ganha mais dinheiro, compra uma refeição preparada numa das barracas do mercado.
Foto: DW/M. Mueia
Profissionais realizados
Muitos mecânicos são jovens e chefes de família. À DW Àfrica, dizem sentir-se bem a exercer esta atividade. Ganham o suficiente para pagar as contas em casa, alimentar a família e comprar material para que os filhos possam ir à escola.