Migração e negócios na agenda da Cimeira Alemanha-África
Daniel Pelz | ni
8 de fevereiro de 2017
A Alemanha está representada ao mais alto nível na segunda Cimeira Económica Alemanha-África que decorre no Quénia. Berlim quer aumentar o investimento em África também com o objetivo de travar a migração ilegal.
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Quatro ministérios alemães estão representados na Cimeira Económica Alemanha-África, um evento de três dias que arrancou esta quarta-feira (08.02) na capital queniana. Estão em Nairobi os ministros dos Negócios Estrangeiros e do Desenvolvimento, Sigmar Gabriel e Gerd Müller, respetivamente, enquanto os ministérios da Economia e Finanças enviaram secretários parlamentares.
Do lado africano há também representantes de alto nível: o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyata, que abriu a cimeira, e cinco ministros africanos.
Continente de oportunidades
O ministro do Desenvolvimento da Alemanha fez um anúncio claro há poucas semanas: a economia alemã deve investir mais em África. Um continente cheio de oportunidades, sublinhou Gerd Müller numa entrevista à televisão pública alemã ZDF.
E são muitas as razões pelas quais o empenho económico em África é tão importante para a política alemã.Por um lado, há muitos refugiados africanos na Alemanha. E o próprio Governo alemão já reconheceu que as condições de vida em África têm de ser melhoradas, como forma de evitar que os africanos sejam obrigados a migrar para a Europa.
"Se o problema em África não for resolvido, eles virão para cá, mais cedo ou mais tarde", disse recentemente o ministro Gerd Müller.
Relativamente às relações entre as partes, importa referir que apenas 1000 empresas alemãs estão operacionais no continente africano, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento. Cerca de dois terços dos investimentos são na África do Sul. O comércio exterior alemão com o continente africano representa entre 2% a 3%, um valor muito baixo.
Heinz-Walter Große é presidente da Iniciativa da Economia Alemã para a África Subsaariana (SAFRI) e um dos organizadores da cimeira. Ele avalia o percurso da cooperação entre as duas partes: "Acho que nos últimos doze meses o continente africano registou grandes desenvolvimentos, o que despertou o interesse de empresas alemãs."
Porém, o presidente da SAFRI sublinha que "existem diferenças de região para região e de país para país, mas o comércio bilateral aumentou bastante. E os dados sobre o desenvolvimento também mostram isso. Em 2015 o comércio com África aumentou para quase 26 mil milhões de euros.
Instabilidade desencoraja investimentos
No entanto, muitos empresários evitam investir em África. A maioria receia a instabilidade em alguns países. Os elevados índices de corrupção também são um obstáculo ao investimento. Por isso, as associações económicas pressionam o Governo para que lhes deem mais garantias, para evitar potenciais riscos de investimento.
08.02.17. Cimeira Alemanha-África no Quénia - MP3-Mono
Também o ministro do Desenvolvimento, Gerd Müller, sugere um instrumento que tenha em conta esse aspeto no seu "Plano Marshal para África".
A especialista em desenvolvimento da Fundação Conhecimento e Política (SWP) de Berlim, Elvira Schmieg, sugere que alguns incentivos devem ser analisados: "Se, por exemplo, forem discutidos os créditos fiscais ou as garantias de créditos no contexto do Plano Marshall, então isso já poderá ser uma ajuda."
Elvira Schimieg considera que "a longo prazo será fundamental a forma como as condições se irão desenvolver em África". E a especialista conclui: "E com os nossos instrumentos de desenvolvimento de negócios só podemos trabalhar de forma muito limitada."
Racista e cruel, a história colonial da Alemanha
A exposição no Museu Histórico Alemão, em Berlim, é a primeira grande exibição que explora os capítulos do domínio colonial da Alemanha. Uma história da ambição falhada de uma superpotência.
Foto: public domain
A cara do colonialismo
Com o chanceler Otto von Bismarck, o Império Colonial Alemão estabeleceu-se nos territórios da atual Namíbia, Camarões, Togo e em algumas partes da Tanzânia e do Quénia. O imperador Guilherme II, coroado em 1888, tentou expandir os domínios coloniais. O imperador alemão queria um "lugar ao sol", como disse mais tarde, em 1897, o chanceler Bernhard von Bülow.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DW
Colónias alemãs
Foram conquistados territórios no Pacífico (Nova Guiné, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Salomão e Samoa) e na China (Tsingtao). A Conferência de Bruxelas em 1890 determinou que o imperador germânico iria obter os reinos do Ruanda e Burundi, ligando-os à África Oriental Alemã. No final do século XIX, as conquistas coloniais alemãs estavam praticamente completas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdades
A população branca nas colónias era uma minoria, raramente representava mais de 1% da população. Uma minoria privilegiada, contudo. Em 1914, cerca de 25 mil alemães viviam nas colónias, menos de metade no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia). Os 13 milhões de nativos das colónias alemãs eram vistos como subordinados, sem recurso ao sistema legal.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século XX
O genocídio contra os povos Herero e Nama no Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia) é o mais grave crime na história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes Herero fugiram para o deserto, onde as tropas alemãs bloquearam sistematicamente o acesso à água. Estima-se que morreram mais de 60 mil Hereros.
Foto: public domain
A culpa alemã
Apenas cerca de 16 mil Hereros sobreviveram ao extermínio. Foram depois detidos em campos de concentração, onde muitos acabaram por falecer. O número exato de vítimas continua por apurar e é ponto de controvérsia. Quanto tempo terão sobrevivido os Hereros depois de fugirem para o deserto? Eles perderam todos os seus bens, os seus meios de subsistência e as perspetivas de futuro.
Foto: public domain
Reformas em 1907
Depois das guerras coloniais, a administração das colónias alemãs foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida. Bernhard Dernburg, um empreendedor de sucesso (na imagem, transportado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas coloniais da Alemanha.
Foto: picture alliance/akg-images
A ciência e as colónias
Com as reformas de Dernburg foram criadas instituições científicas e técnicas para lidarem com assuntos coloniais. Assim estabeleceram-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África Oriental para investigar a transmissão da doença do sono. A imagem demonstra amostras coletadas nessa expedição.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Uma das maiores guerras coloniais
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos rebelaram-se contra o poder na África Oriental Alemã. Cerca de 100 mil locais morreram na Revolta de Maji-Maji. Apesar de raramente discutido, este continua a ser um importante capítulo da história da Tanzânia.
Foto: Downluke
A perda das colónias
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha assinou o tratado de paz de Versalhes, em 1919, que previa que o país renunciava a soberania sobre as colónias. Cartazes como este demonstram o medo dos alemães de, como consequência, perderem poder económico e viverem na pobreza e na miséria no seu país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições coloniais do "Terceiro Reich"
As aspirações coloniais voltaram a surgir com o nazismo e não apenas em relação à colonização da Europa Central e Oriental, através do genocídio e limpeza étnica. O regime nazi pretendia também recuperar as colónias perdidas em África, como demonstra este mapa escolar de 1938. Os territórios eram vistos como fonte de recursos para a Alemanha.
Foto: DW/J. Hitz
Processo espinhoso
As negociações para uma declaração conjunta do genocídio dos povos Herero e Nama entraram numa fase difícil. Enquanto a Alemanha trava quanto a compensações financeiras, há também deficiências nas estruturas políticas internas da Namíbia. Representantes Herero apresentaram, recentemente, uma queixa à ONU contra a sua exclusão nas negociações em curso.