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Política externa angolana quer agradar a gregos e troianos

Carla Fernandes / LUSA1 de agosto de 2014

Angola faz uma gestão "inteligente e estratégica" da ajuda externa, diz investigadora. Apesar dos fortes investimentos da China no petróleo e infraestruturas, Luanda tenta evitar uma relação de dependência.

Foto: DW/Renate Krieger

Entre acusações de corrupção e repressão de manifestações, a classe dirigente angolana tem feito uma gestão "inteligente e estratégica da ajuda dos vários países", afirma Ana Cristina Alves, investigadora sénior no Instituto de Relações Internacionais da África do Sul.

A maior parte dos países africanos tem dificuldades em coordenar as ajudas internacionais que recebem e acabam por mergulhar em relações de dependência extrema, lembra a investigadora portuguesa. Não é o caso de Angola. Considerando a relação com a China, por exemplo, que tem investido muito no país na área petrolífera e de infraestruturas, os dirigentes angolanos tentam evitar não criar essa relação de dependência e mantêm a porta aberta aos investimentos e ajudas de outros países.

Após o fim da guerra civil angolana, em 2002, Luanda e Pequim estabeleceram uma parceria estratégica. Segundo Ana Cristina Alves, um fator decisivo para a aproximação dos dois países foi o facto de a China, ao contrário do Ocidente, não pedir a Angola que obedecesse a critérios de transparência, prestação de contas e democratização em troca dos empréstimos para a reconstrução das infraestruturas.

Porém, Angola continuou a tentar consolidar outras parcerias, afirma a investigadora portuguesa. "Não o fez só com outros parceiros do Sul, incluindo o Brasil e a Índia. Voltou também a apostar no relacionamento com os países desenvolvidos do Norte."

Angola aprendera a lição. "O país já enfrentara alguns traumas na sua História, nomeadamente quando a Rússia o abandonou de um dia para o outro em1992", na altura das primeiras eleições multipartidárias angolanas. Por isso, desta vez, "Luanda tentou não se tornar demasiado dependente do relacionamento com a China."

A China é o maior comprador de petróleo angolanoFoto: AP

Petróleo

Angola escolhe a dedo os seus parceiros, olhando para os benefícios que deles pode tirar, refere Ana Cristina Alves. "Angola está a servir os seus próprios interesses. A sua política não serve interesses económicos ou políticos de outras potências. Tem uma política externa bastante independente e que se pauta pela manutenção de uma carteira de parceiros bastante diversificada, com uma grande margem de manobra e em que pode jogar uns parceiros contra os outros."

Em fevereiro de 2014, a petrolífera angolana Sonangol anunciou que a China continua a ser o maior comprador de petróleo angolano, com 45 por cento do total de exportações em 2013. A seguir à China o segundo maior cliente do petróleo angolano, com 12 por cento do total das exportações foi a Índia, seguindo-se Taiwan. Segundo Anabela Fonseca, administradora da petrolífera angolana, os Estados Unidos da América, em tempos um dos maiores clientes do petróleo de Angola, ocupam agora o quarto lugar.

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A carteira de clientes e parceiros de Angola é diversa e não é estática.

Garante de legitimidade

Mas as relações e parcerias não económicas são também uma área onde investir, diz Ana Cristina Alves.

"Também é importante para o partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), manter um relacionamento com democracias consolidadas, porque estas lhe conferem alguma legitimidade", afirma a investigadora. Esse relacionamento é particularmente importante numa altura em que, no país, "já começam a existir alguns levantamentos sociais", que criticam as ações do Governo, sublinha Ana Cristina Alves. Assim, Angola "também tem feito alguns esforços no sentido de seguir alguns dos standards que são apanágio destes países."

Angola e Moçambique

De acordo com a investigadora portuguesa do Instituto de Relações Internacionais da África do Sul, Angola é uma exceção no continente africano, porque "é um país que não gosta de receber ajuda e privilegia o apoio técnico".

Neste campo, Moçambique, por exemplo, estava até há pouco tempo numa posição diferente: "Moçambique era um país com grande necessidade de ajudas externas, sem grandes contrapartidas a oferecer aos parceiros e o investimento chinês era mínimo."

No entanto, o cenário está a mudar. Agora, em Moçambique, começa-se a notar muitos dos traços que caraterizam o relacionamento de Angola com a China. Para isso foi decisivo o facto de Moçambique começar a explorar o seu carvão e descobrir gás natural e petróleo.

A China também está interessada tirar proveito do recente boom da construção na capital moçambicana, MaputoFoto: DW/J. Beck
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