Poluição corta a respiração à África Ocidental
25 de agosto de 2019"Estes gases de escape fazem-te sentir como se estivesses a inalar drogas", diz Johannes, jornalista em Cotonou, a capital do Benin. Johannes sofre de asma: "Basta-me parar num semáforo durante cinco minutos e respirar um pouco de gases de escape que tenho logo um ataque de asma", diz e acrescenta que para as pessoas que sofrem de doenças respiratórias ou crónicas é especialmente difícil viver em Cotonou.
Algo secundado pelo investigador Peter Knippertz, do Instituto de Meteorologia e Investigação Climática de Karlsruhe. Juntamente com cientistas de 16 instituições em África e na Europa, Knippertz investigou o grau de poluição atmosférica na África Ocidental e as suas causas. "A concentração de partículas poluentes está acima dos valores admitidos pela Organização Mundial da Saúde", conclui o investigador.
Para o estudo foram criadas estações de medição em Cotonou e Abidjan, a capital da Costa do Marfim. Também aqui a população sofre de má qualidade do ar. Ruth Estelle estuda recursos humanos e comunicação em Abidjan. A jovem de 21 anos acredita que a poluição tem várias causas: "Primeiro de tudo, há os táxis, o trânsito. Mas também o lixo, jogado em qualquer lugar, contribui para a poluição do ar".
Até bebés estão expostos a graus elevados de poluição
Outra fonte de poluição raramente considerada são as fogueiras onde as pessoas cozinham. E estas são particularmente perigosas, diz Peter Knippertz. Os investigadores contavam com uma carga elevadas de partículas tóxicas nas divisões onde estão as fogueiras. Mas foram surpreendidos com o grau de poluição. A situação é alarmante porque cozinhar é uma atividade diária, diz Knippertz. Além disso, as crianças muitas vezes brincam perto das lareiras.
"É assustador ver que mesmo bebés estão expostos desde os seus primeiros dias a cargas poluentes substanciais. O que é particularmente grave devido ao clima húmido da costa. Se os combustíveis não estiverem devidamente secos, a poluição por fumo ainda é maior", disse Knippertz à DW.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de três mil milhões de pessoas em todo o mundo cozinham e aquecem a casa com lareiras abertas e fogões simples que queimam lenha, esterco animal, resíduos vegetais ou carvão. 7,8 milhões de pessoas morrem prematuramente de doenças causadas direta ou indiretamente pela poluição atmosférica resultante da utilização destes combustíveis para cozinhar.
"Mais de 50% das mortes prematuras por pneumonia em crianças menores de cinco anos são causadas por partículas inaladas pela poluição do ar doméstico", escreve a OMS num relatório recente sobre a poluição do ar na África.
Mais poluição, menos chuva
Apesar dos dados da OMS e de sua própria pesquisa, que durou cinco anos, Peter Knippertz acha que ainda faltam muitos dados concretos sobrea a situação em África. O estudo interdisciplinar foi o primeiro do género a ser levado a cabo. E não investigou apenas o contato direto entre pessoas e poluentes, mas também a interação entre a poluição atmosférica e o clima. As partículas na atmosfera alteram a composição das nuvens, o que, por sua vez, afeta a radiação solar e, como resultado, a temperatura. Uma análise de tendência indicou que a elevada concentração de partículas poluentes no ar pode reduzir a queda de chuvas. "Seria péssimo para as pessoas que, além dos problemas de saúde causados pelos poluentes, passassem a ter menos chuva", diz o meteorologista. E acrescenta que urge mais investigação neste domínio.
A poluição do ar na costa sul da África Ocidental não se deve apenas a fatores locais. Os cientistas em torno de Knippertz recorreram a aviões para medir a chamada poluição de fundo da região: "Descobrimos que o forte vento de monção que sopra do sul através do Atlântico tropical na direção da África Ocidental traz consigo uma carga considerável de partículas de fuligem dos incêndios na África Central". Estas partículas são produzidas por queimadas.
Já a poluição atmosférica por gases tóxicos no sul da África Ocidental é ainda mais baixa do que na Europa, segundo Knippertz. O que se deve principalmente ao simples facto de haver muito menos automóveis em África.
É possível melhorar a situação
Os gases de escape dos automóveis ainda assim são um problema para as pessoas na África Ocidental. Cynthia, que trabalha como secretária em Cotonou, concorda: "Isto deixa-nos doentes. Leva a constipações, tosses e dificuldade de respirar." Cynthia já teme o fim das férias de Verão. "Vai voltar a haver mais motos, mais carros nas ruas. As nossas crianças estão expostas aos gases, que são um risco para a saúde."
Mesmo que a concentração de gás no ar na África Ocidental esteja abaixo dos valores-limite, os fumos do tráfego são problemáticos. Isto porque, ao contrário do que acontece na Europa, os combustíveis são mal filtrados e contêm mais enxofre, que é um perigo para a saúde. Knippertz diz que isso é facilmente remediável através de uma filtragem.
Como medida adicional, propõe também mudar os combustíveis nas cozinhas. É urgente começar a cozinhar com gás ou eletricidade, afirma o investigador. E acrescenta que estas melhorias podem ser implementadas com relativa rapidez a nível local. Mas é igualmente importante acabar com as queimadas na África Central, remata.