Passa este domingo (10.11) um ano da inauguração da ponte Maputo-Katembe, um dos maiores empreendimentos em Moçambique. Cidadãos ouvidos pela DW aplaudem investimento "que mudou muita coisa", apesar das portagens altas.
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É a maior ponte suspensa de África. Liga a capital moçambicana, Maputo, à região da Katembe, do outro lado da baía, numa extensão de três quilómetros.
A infraestrutura faz parte de um projeto que incluiu a construção de estradas asfaltadas até a Ponta de Ouro, uma estância turística localizada junto à fronteira com a África do Sul.
Foi a concretização de um velho sonho para ligar por via rodoviária , a capital egípcia, Cairo, no norte do continente e a cidade sul Africana do Cabo, no extremo sul. As autoridades moçambicanas consideram que esta ponte é "um símbolo da unidade nacional e da superação de adversidades e das diferenças".
A construção da ponte suscitou críticas por causa dos valores envolvidos e da sua pertinência, numa altura em que Moçambique atravessava uma crise económica sem precedentes.
"Mudou muita coisa"
Um ano depois da sua inauguração, a DW África foi a Katembe e quis saber se o projeto "valeu a pena", tendo em conta os elevados valores envolvidos para o padrão de investimentos do país.
"Valeu a pena termos a ponte. Pela facilidade do próprio acesso à outra margem, mudou muita coisa. Mudou também a questão do acesso a alguns produtos de primeira necessidade, agora até os preços também são acessíveis", responde Ancha Sifa Ussufo, que vive há 10 anos no bairro Kamissava, na Katembe.
Ponte Maputo-Katembe faz um ano: "Valeu a pena"
O desenvolvimento do distrito, acrescenta, também mudou muito. "Há muita construção. Agora já fazemos as obras dos nossos sonhos porque tudo está acessível", elogia a moradora.
No bairro Guachene, Manecas Alberto Pedro, proprietário de uma loja de reparação e venda de acessórios de telemóveis, também afirma que "a ponte facilita tudo. Você consegue sair bem cedo e chegar ao destino na hora certa". Como a ponte também facilita o transporte, "os comerciantes conseguem trazer muitos alimentos com um preço não muito elevado", diz.
Manecas Pedro recorda as longas filas de espera que os residentes da Katembe tinham antes de atravessar a baía de barco e o desconforto que representava para os turistas que chegavam ao local depois de uma longa viajem.
Portagens elevadas
No entanto, o morador lamenta as tarifas praticadas nas portagens, que considera incomportáveis, apesar da sua recente revisão em baixa.
Para a Confederação das Associações Económicas, que representa o setor privado, a expectativa é que o projecto contribua para dinamizar a economia.
O responsável do Pelouro da Cultura e Turismo, Rui Monteiro, disse que vários projetos estão já em curso nomeadamente na Reserva Especial de Maputo, um parque nacional mais conhecido como reserva de elefantes.
"Claro que valeu a pena. Houve um incremento no desenvolvimento de áreas de turismo que sem a ponte não poderia ter acontecido. E também a estrada até às praias da Ponta de Ouro obviamente trouxe um movimento muito grande para o destino turístico", conclui.
O primeiro aniversário da ponte Maputo-Katembe coincide com a celebração dos 132 anos da cidade de Maputo. Entre outros eventos está planeada uma corrida pedestre, que pela primeira vez vai atravessar a ponte.
A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Ponte que liga Maputo a Katembe foi inaugurada no sábado, 10 de novembro de 2018. Tem cerca de três quilómetros de extensão. Muitas famílias foram realojadas para dar espaço a este projeto no sul de Moçambique.
Foto: DW/R. da Silva
Do lado de Maputo
Esta parte da ponte passa por cima da zona onde se localizam muitas fábricas na baixa da capital, mais descaído para a parte ocidental. Ao fundo, vê-se o porto de Maputo. A ponte que liga Maputo a Katembe foi inaugurada no sábado, 10 de novembro de 2018. Tem cerca de três quilómetros de extensão e será a maior ponte suspensa de África.
Foto: DW/R. da Silva
Até 1.200 meticais para circular na ponte
Esta é a entrada da ponte do lado da Katembe. Com a conclusão das obras, as viaturas deixarão de pagar entre quatro e doze euros pela travessia da baía de Maputo. Já a portagem da ponte custa entre 40 meticais (57 cêntimos) e 1.200 meticais (17,30 euros), anunciou a Maputo-Sul, empresa que gere a infraestrutura.
Foto: DW/R. da Silva
Portagem na Katembe
Esta é a inevitável portagem do lado da Katembe. Quem sai de Maputo, encontra esta barreira para pagar pela circulação na ponte e na estrada. Os automobilistas já se queixam dos preços das portagens. A Maputo-Sul, citada pelo jornal O País, desvaloriza as queixas. Fala em falta de informação e desconhecimento do real valor da obra.
Foto: DW/R. da Silva
Obras demoradas
Deste lado da Katembe, veem-se camiões que transportam materiais para o acabamento das obras. A construção da ponte teve início em 2014 e a conclusão do empreendimento sofreu vários adiamentos desde dezembro. Segundo o Governo, os atrasos resultaram de dificuldades na retirada de famílias que viviam nas proximidades da infraestrutura.
Foto: DW/R. da Silva
O pomo da discórdia
A zona que interceta com a Avenida 24 de Julho foi um dos pontos em que as obras sofreram atrasos. Foi aqui, onde passa uma rampa que dá acesso à ponte, que ocorreu uma das principais discórdias, entre os vendedores do mercado Nwakakana, a empresa Maputo-Sul e o município de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Famílias indemnizadas facilitam construção atempada
As famílias que viviam neste local, maioritariamente refugiadas da guerra civil em Moçambique, foram transferidas para dar lugar à construção desta secção da ponte. Aqui, as obras não atrasaram porque as famílias rapidamente foram indemnizadas e realocadas para a região de Pessene, na Moamba, ocidente da província de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Transporte precário
Esta embarcação transporta as viaturas que atravessam a baía de Maputo. Tem sido tortuoso para os automobilistas que vivem ou fazem negócios do lado da Katembe, pois quando esta embarcação avaria, a alternativa é um percurso de quase 100 km.
Foto: DW/R. da Silva
Cais de Maputo
O cais de acesso às embarcações que fazem a travessia da baía é um local que não oferece muita segurança, pois não existem barreias de segurança ou limites para as movimentações. O mesmo para viaturas, devido à precariedade da sua estrutura.
Foto: DW/R. da Silva
Cais da Katembe
Do outro lado, na Katembe, os problemas são os mesmos. A estrutura é precária, por isso, o Governo interditou a travessia na embarcação de camiões de grande tonelagem.
Foto: DW/R. da Silva
Vista da Katembe para Maputo
Esta é a parte da Katembe onde a ponte atravessa. Também nesta zona (no lado esquerdo da imagem), algumas famílias tiveram de ser retiradas para dar lugar à construção da gigantesca ponte. O desenho e a construção foram responsabilidade da China Road and Bridge Corporation (CRBC), uma das maiores empresas de construção da China. O controlo de qualidade foi feito pela empresa alemã Gauff.
Foto: DW/R. da Silva
A maior de África
Esta é a parte da ponte que nos leva à cidade de Maputo, concretamente na EN-1 e na avenida 24 de Julho. Na imagem, veem-se as obras para fazer alguns acertos neste troço. Daqui pode contemplar-se a extensão da ponte.
Foto: DW/R. da Silva
Ponte que desagua do lado da Katembe
Uma obra de grande engenharia que custou aos cofres do estado cerca de 600 milhões de euros. Veem-se na imagem as curvas as subidas e as descidas que dão outra beleza a esta mega estrutura.