População jovem estimula investimentos turcos em África
6 de outubro de 2024Desde o lançamento da sua Política de Iniciativa Africana em 1998, a Turquia tem como objetivo reforçar os laços comerciais, diplomáticos e de segurança com o continente. Nas últimas duas décadas, a Turquia aumentou o número das suas embaixadas em África de 12 em 2002 para 44 em 2022.
A crescente influência da Turquia no continente reflete-se no aumento do volume de comércio, que passou de 4,85 mil milhões de euros em 2003 para mais de 41 mil milhões de euros em 2022, antes de cair para 37 mil milhões de euros no ano passado.
O que os investidores turcos consideram mais apelativo é a população jovem de África e a crescente procura de bens, que prometem grandes benefícios económicos. Mas as iniciativas da Turquia têm de competir com projectos lançados pela China, Rússia e países árabes da região do Golfo Pérsico que procuram aumentar a sua influência em África.
Erdogan na Somália
Em 2011, o Presidente Recep Tayyip Erdogan, que na altura ainda era primeiro-ministro, foi o primeiro líder político não africano a visitar a Somália em duas décadas. A sua visita impulsionou o envolvimento de Ancara na Somália e em África como um todo.
A capital da Somália, Mogadíscio, passou a albergar a maior base militar da Turquia no estrangeiro, tendo sido assinados vários acordos bilaterais nos últimos meses, incluindo uma cooperação mais estreita em matéria de defesa e segurança, bem como um acordo para a exploração de campos petrolíferos ao largo da costa da Somália.
Por mais ambiciosa que a estratégia turca possa parecer, o país tem falhado persistentemente em atingir os seus objectivos de volume de comércio com África de 50 mil milhões de euros anuais. Em 2021, Erdogan chegou a anunciar que o comércio de 75 mil milhões de euros era agora o objetivo para o comércio com África, sem dar um prazo para atingir o objetivo.
Com quem fazer comércio
O investigador do Centro de Estudos Africanos da Universidade de Basileia, Ufuk Tepebas, afirma que não chega apenas estabelecer objetivos, "é necessário definir bem o potencial dos países e diversificar os parceiros comerciais".
Até agora, a Turquia só assinou acordos de comércio livre com quatro países africanos: Tunísia, Egito, Marrocos e Maurícia. A Somália e o Sudão continuam a receber principalmente ajuda turca ao desenvolvimento, enquanto a cooperação bilateral se centra sobretudo nos estreitos laços religiosos e históricos da Turquia com os dois países.
Por isso, Tepebas apela a Ancara para que "analise corretamente" a escolha dos seus parceiros comerciais. "O potencial da Somália e do Sudão em termos de comércio é muito fraco. Se tivessem preferido apoiar a Etiópia, a Tanzânia e o Quénia, provavelmente obteriam maiores retornos comerciais", explica.
A Turquia está também a afirmar-se como um parceiro de segurança fundamental para várias nações africanas. O Parlamento turco aprovou recentemente uma legislação que prevê o destacamento das suas forças armadas para a Somália durante dois anos, num esforço para melhorar a segurança interna contra o terrorismo.
Parceiro no setor de segurança
De acordo com dados publicados pelo instituto sueco de investigação sobre a paz, o SIPRI, a Turquia tornou-se o quarto maior fornecedor de armas à África Subsaariana, devido à venda de helicópteros de combate à Nigéria e de aviões de treino, bem como de drones não tripulados TB2 Bayraktar, a vários Estados africanos.
Para além de vender armas a África, a Turquia também lançou investimentos civis maciços neste continente. De acordo com o Ministro do Comércio, Ömer Bolat, foram concluídos 1.864 projetos nas últimas décadas, com investimentos turcos no total de 85 mil milhões de euros
No entanto,Tepebas diz que as empresas turcas têm dificuldade em competir com as empresas chinesas, nomeadamente em garantir o financiamento necessário para os grandes projetos. "O Estado chinês apoia diretamente as suas empresas através do Exim Bank. As empresas turcas não conseguem obter o mesmo apoio dos seus bancos e, mesmo que o consigam, os montantes não são comparáveis", disse.
Só em 2023, os investimentos chineses em África atingiram um total de 280 mil milhões de euros. Em comparação, o investimento da Turquia até à data foi de cerca de 10 mil milhões de euros.