Populares revoltados paralisaram as máquinas da mineradora Kenmare na província de Nampula, que se estaria a preparar para destruir vários cemitérios. Residentes dizem não ter sido informados e pedem agora um novo plano.
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A população pediu à empresa irlandesa Kenmare para parar as máquinas assim que se apercebeu que a nova zona de exploração da mineradora implicaria a destruição de três cemitérios. Um deles fica em Pilivili, distrito de Moma, e os outros numa região que dá acesso à localidade.
Marracuene Abacar, coordenador do Comité de Gestão de Recursos Naturais de Topuito, uma organização não-governamental, diz que a insatisfação da população é grande. Um dos cemitérios, na comunidade de Tipane, é "enorme", segundo Abacar. "Outras gerações não conheceram outro senão o mesmo, desde a era dos nossos antepassados", conta.
A Kenmare opera em Topuito, no distrito de Larde, há cerca de 12 anos, mas prevê agora expandir a área de exploração para a região de Pilivili. Os residentes dizem que, durante as consultas comunitárias no início do ano, não foram informados que, para expandir a área de exploração, teriam de ser destruídos cemitérios.
Trabalhos paralisados há duas semanas
Quando começaram a ver marcos nos cemitérios para a movimentação das máquinas, pediram de imediato à Kenmare para parar as obras. E a empresa concordou. Os trabalhos estão paralisados há duas semanas.
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"Nós solicitámos à empresa para esclarecer as razões de abranger os cemitérios, uma vez que nunca nos teriam dito da sua abrangência. A empresa confessou a verdade, que não sabiam que os consultores que fizeram o estudo de viabilidade teriam abrangido cemitérios, e prometeram-nos que conversariam com os consultores para colocarem de fora os cemitérios", conta o coordenador do Comité de Gestão de Recursos Naturais de Topuito.
Há também ouutro problema: vários residentes pedem para ser reassentados, segundo Marracuene Abacar. "Verifica-se que nesse traçado que sairá de Namalope a Pilivili, de 23 quilómetros de cumprimento e cem metros de largura, a máquina de compactação que vai passando nas comunidades mais próximas de Topuito-sede e Tipane logo na primeira fase já criou danos através do movimento vibratório. Assemelha-se a um terramoto e destrói eletrodomésticos. As comunidades paralisaram as máquinas para exigir um novo reassentamento", explica.
Governo diz estar atento
O diretor provincial dos Recursos Minerais e Energia de Nampula, Olavo Deniasse, garante que está atento aos problemas da população. Deniasse adianta que decorrem negociações entre as comunidades, a empresa e as autoridades.
"Nós reconhecemos que, de facto, um dos sítios em que eventualmente vai passar será um sítio sagrado e não se tinha discutido no plano estratégico nessa altura, para a passagem [das máquinas], mas vamos estar atentos às conversas e negociações", promete. "Interessa-nos que a empresa trabalhe, mas não nos interessa que trabalhe prejudicando as comunidades. Acreditamos que vai ser encontrado um ponto último para os trabalhos poderem continuar", afirma.
A DW África tentou ouvir a empresa Kenmare, através da responsável da área social, mas não foi possível obter uma reação.
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A Kenmare é uma das multinacionais que explora minérios no distrito de Larde, outrora Moma. Apesar da crise, a sua produção nunca parou. No entanto, a população queixa-se da falta de oportunidades e infraestruturas.
Foto: DW/S. Lutxeque
Mititicoma: um bairro de reassentamento
Com o início da sua atividade, a multinacional irlandesa Kenmare viu-se obrigada a reassentar milhares de famílias. Mititicoma é um dos populosos bairros de reassentamento, onde vivem mais de cinco dos cerca de 27 mil habitantes de toda a localidade de Topuito. Nos dias de hoje, cada casa destas pode custar dois milhões de meticais (cerca de 28 mil euros) mas, na altura, o preço foi inferior.
Foto: DW/S. Lutxeque
Negócios e melhoria de vida
Em Topuito, no distrito de Larde, emergem novas infraestruturas socioeconómicas. Muitos comerciantes que hoje vivem com pequenos "luxos", iniciaram a atividade com um pequeno financiamento da Kenmare que, na altura, não passava dos 200 mil meticais (cerca de 2900 euros) por cada pessoa.
Foto: DW/S. Lutxeque
À beira da falência
Amade Francisco, de 25 anos, é natural de Topuito, onde ainda vive. Encontrou no comércio uma forma de combater o desemprego. Mas, neste período de crise financeira do país, tem receio de ir à falência. "Iniciei o negócio em 2014, através de um empréstimo na Kenmare no valor de 120 mil meticais (cerca de 1745 euros). Já os reembolsei porque [antes] havia muita clientela, agora não".
Foto: DW/S. Lutxeque
Nativos excluídos
O desemprego está a afetar milhares de cidadãos de Topuito. As principais "vítimas", diz Saíde Ussene, são os jovens nativos e ele é um exemplo. Afirma que já tentou, mas sem sucesso, arranjar emprego na Kenmare, pois eles "preferem os cidadãos de Maputo aos nativos". "E nós onde vamos trabalhar se não temos dinheiro para subornar?", questiona o jovem moto-taxista.
Foto: DW/S. Lutxeque
Trocar a pesca pela agricultura
Ainda assim, continua a haver quem potencie o seu próprio emprego. Chiquinho Nampakhiriwa é um dos jovens que aguardava pela sorte de trabalhar na mineradora. Dedicava-se à pesca, mas decidiu trocar o anzol pela enxada e trabalhar na terra. Hoje fornece vegetais e legumes à Kenmare, apesar de ser em pouca quantidade. Também foi a empresa que o financiou incialmente.
Foto: DW/S. Lutxeque
Casamentos prematuros e pobreza
Fátima Ismael tem 17 anos e já é mãe. Vive no bairro de Nalokho, em Topuito e, devido à pobreza, viu-se forçada a ignorar os apelos do governo acerca dos casamentos prematuros. "Casei-me cedo porque não tinha condições [financeiras e materiais] de continuar a estudar. Mas estou feliz com o meu esposo", disse.
Foto: DW/S. Lutxeque
Falta de infraestruturas
Apesar da abundância de recursos minerais, Topuito continua, dez anos após o início da atividade deste tipo de empresas, com um rosto pacato e empobrecido. Existem muitos bairros, dentro da localidade, que têm falta de várias coisas, entre elas infraestruturas socioeconómicas. O bairro de Nalokho é exemplo disso.
Foto: DW/S. Lutxeque
Maus acessos
Entre as preocupações dos residentes do distrito de Larde está a degradação das vias de acesso e a falta da ponte sobre o rio Larde. As estradas que dão acesso à localidade de Topuito, como é visível na imagem, estão em más condições.
Foto: DW/S. Lutxeque
Kenmare minimiza problemas
Regina Macuacua é responsável da área social da Kenmare. Segundo esta responsável, a vida [da população] melhorou significativamente com a chegada da multinacional. "Hoje muitos residentes têm casas melhoradas, carros, há corrente elétrica. Continuamos a prover água e financiamos projetos", afirmou à DW, sem revelar os ganhos dos últimos dois anos.
Foto: DW/S. Lutxeque
Oscilação de preços no mercado
Sabe-se que a internacional irlandesa Kenmare, que explora e comercializa zircão, rutilo, ilmenite, entre outros produtos mineiros, conheceu alguns momentos de "pouca glória" com a oscilação dos preços no mercado internacional, desde 2009.