ONG critica falta de transparência da empresa com licença para extrair areias pesadas em Jangamo e Inharrime, sul de Moçambique. Para iniciar atividades, ainda terá de realizar um estudo sobre os impactos ambientais.
Publicidade
A empresa privada moçambicana Matilda Minerais limitada detém 80% das areias pesadas de Jangamo. Prevê explorar 4,4 biliões de toneladas, numa área correspondente a 417 quilómetros quadrados, de acordo com uma pesquisa divulgada em 2017 pela empresa.
Helena Adriano Guilengue, presidente da Plataforma da Sociedade Civil de Jangamo, disse à DW que esta empresa tem ocultado informações à população local.
"Até hoje a comunidade não tem uma informação clara por isso a nossa inquietação deve-se ao facto de os processos em si não estarem claros. Estamos a prever uma tristeza para aquelas comunidades", afirma.
Residentes sem perspetivas
Matias Gove, residente de Jangamo, revela que a empresa ainda não tem condições para trabalhar. Mas acha que seria melhor estar já em funcionamento para dar mais oportunidades aos residentes locais.
"Se estivesse em condições de trabalhar, já estaria na altura quando a empresa se implantou, significa que alguma coisa não está certa e seria benéfico se funcionasse", considera a residente.
Cerca de nove comunidades estão abrangidas pelo projeto da exploração de areias pesadas de Jangamo e Inharrime. Mas a população local queixa-se da falta de serviços básicos.
Teresa Zimba, membro da Cooperativa de Likako em Jangamo, conta que há "dificuldades de vias de acesso, energia principalmente, hospital, água e escola secundária."
Belarmino Guirungo, jovem de Jangamo, lamenta o comportamento negativo da empresa por não conseguir empregar os jovens locais. "Isso é negativo porque nós, os jovens, teríamos chance de concorrer e seria muito bem-vindo para o desenvolvimento do distrito de Jangamo", diz.
Sem pernas para andar
Contactados pela DW, o governo provincial de Inhambane e a empresa Matilda Minerais limitada recusaram-se a comentar o assunto.
Zinto Cubane, oficial de pesquisa na empresa de advocacia Kuwuka, explica que, para o início das atividades, a Matilda Minerais limitada ainda terá de apresentar um estudo sobre os impactos ambientais que serão causados pela exploração das areias pesadas em Jangamo.
"Segundo a empresa, ainda estão no estudo de pré-viabilidade e definição de âmbito, depois vão ser feitos os termos de referências para a realização do estudo do impacto ambiental propriamente dito", afirma Cubane.
Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia
A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.
Foto: DW/M. Mueia
Concessionária chinesa
A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.
Foto: DW/M. Mueia
Moradores têm que deixar suas terras
A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terras rejeitadas
No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.
Foto: DW/M. Mueia
"Recuso-me a ceder o meu espaço"
Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: "Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que 'o futuro não é confiável', por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência".
Foto: DW/M. Mueia
Sem energia elétrica
Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.
Foto: DW/M. Mueia
Acesso às ilhas
A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).
Foto: DW/M. Mueia
Barcos de carga
As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.
Foto: DW/M. Mueia
Transporte de passageiros
Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.