Reprimidos protestos na RDC
18 de agosto de 2016Na quarta-feira 17 de agosto, as forças de ordem congolesas carregaram sobre centenas de manifestantes, naquele que foi o último dia de luto nacional em memória do massacre de dezenas de civis por rebeldes ugandeses no fim de semana.
A polícia e os militares congoleses reprimiram com gás lacrimogéneo e tiros para o ar os manifestantes que, em Beni, no leste da República Democrática do Congo, protestavam contra a falta de segurança na província de Kivu Norte.
Nos protestos foram queimadas várias bandeiras da força partidária presidencial, o Partido do Povo para a Reconstrução e a Democracia, assim como uma efígie do presidente congolês, Joseph Kabila. Pelo menos seis manifestantes foram detidos, segundo informações da agência de notícias francesa France Presse.
Dor e muitas lágrimas
Dezenas de familiares começaram, entretanto, a enterrar as vítimas do ataque atribuído aos rebeldes ugandeses das Forças Democráticas Aliadas (ADF), no sábado, 14 de agosto. O sentimento na região é de tristeza, como se percebe pelas palavras de Theodore Masaka, presidente da câmara de Butembo. “Viemos a Beni para apresentar as nossas condolências ao presidente da câmara pelas pessoas que perderam a vida, mas também aos populares desta cidade e de todo o país”.
Tanto Beni como os arredores têm sido palco de uma série de massacres que já mataram mais de 650 pessoas desde outubro de 2014. A última matança aconteceu na noite de sábado para domingo, com 51 civis mortos em bairros a norte de Beni, perto do parque de Virunga, refúgio de rebeldes ugandeses das Forças Democráticas Aliadas. Numa visita relâmpago a Beni na terça-feira (16/08), o primeiro-ministro congolês Augustin Matata foi vaiado pela multidão que pediu a sua demissão.
Quem são os autores do massacre?
O governo congolês e a missão da Organização das Nações Unidas no país atribuem os ataques aos rebeldes ugandeses. Esta versão é posta em causa por especialistas e testemunhas locais que culpam os soldados nacionais. Segundo vários relatos de populares, os atacantes usam fardas do exército regular. Por esse motivo, as Forças Armadas tomaram a decisão de alterar os uniformes das brigadas locais, como explica o general Marcel Mangu: “Não é a roupa das Forças Armadas da República Democrática do Congo que vai mudar, é a cor das fardas dos soldados que operam na Região de Kivu do Norte”.