Por que é tão difícil denunciar a corrupção em Moçambique?
Leonel Matias (Maputo)
26 de fevereiro de 2020
Livro revela características da imprensa moçambicana que impedem que jornalistas tenham força para denunciar casos de corrupção. São “multiplicadores dos discursos de outras entidades”, diz pesquisador
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Difícil acesso às fontes de informação, censura e autocensura são alguns dos principais obstáculos para a cobertura de assuntos relacionados à corrupção em Moçambique, mas essas não são as únicas dificuldades enfrentadas pelos média.
O presidente do Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação e diretor-executivo do MISA-Moçambique, Ernesto Nhanale, analisou a relação dos média moçambicanos com as denúncias de corrupção no país. O resultado do trabalho está no livro “A cobertura dos média sobre a corrupção em Moçambique: Um contrapoder abalado?”, que será lançado esta quarta-feira (26.02), em Maputo.
O investigador Ernesto Nhanale - considera que há abertura legal para o exercício da profissão, mas há “atos de coerção contra as liberdades de imprensa” quando os temas das reportagens se referem à corrupção.
“Infelizmente assistimos a casos de violência contra jornalistas, casos de censura direta e até mecanismos de autocensura”, explica.
Por que é tão difícil denunciar a corrupção em Moçambique?
A mordaça invisível
Um dos imensos desafios para os jornalistas moçambicanos é a autocensura. O fenómeno é ainda pouco percebido pelo público, mas significa uma das amarras mais difíceis de serem rompidas quando se trata de denunciar casos de corrupção.
Nhanale explica que a autocensura resulta da pouca autonomia dos jornalistas em relação às fontes de informação. O pesquisador observa que pessoas em posições de poder em Moçambique conseguem desencadear mecanismos que repulsem os jornalistas a publicarem certas matérias.
“Quando a profissão não oferece um certo tipo de estabilidade aos profissionais, eles ficam vulneráveis. Outro elemento tem a ver com a segurança”, explica.
Segundo Nhanale, não há uma agenda interna dos média para a realização de reportagens de investigação. Poucos recursos materiais de qualidade, o domínio das fontes sobre as redações e a fragilidade no processo de apuramento da informação seriam obstáculos diários a serem superados pelo jornalismo em Moçambique, segundo o autor.
“A tratar-se desse tipo de matérias, sempre há um fechamento. É importante criar condições para que se monitore o governo.”
Repetidores de denúncias
Ernesto Nhanale admite que grande parte dos casos de corrupção julgados recentemente resulta de denúncias feitas pela imprensa, sobretudo a independente. Por outro lado, ele considera que podia ser feito mais.
O pesquisador acha que que, ao reportarem sobre corrupção, “os média fazem-no não pela sua capacidade de definirem a corrupção como um assunto de interesse e que deve ser investigado, mas como multiplicadores dos espaços de publicitação dos discursos e resultados de investigação realizados por outras entidades”.
Algumas vozes têm defendido a criação de um Ministério de Informação, mas Nhanale prega a completa independência dos veículos de comunicação.
“Cada órgão tem que definir a sua agenda através das regras do profissionalismo e da responsabilidade desses media em relação à sociedade. Ninguém mais tem que entrar e dizer o que um media tem que publicar e deixar de publicar”, defende.
Nelson Mandela: Uma vida pela liberdade
Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Mandela. Carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), foi símbolo da nova África do Sul, de paz e tolerância. No dia 18/7/2018 teria cumprido 100 anos.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
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O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
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Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
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Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
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Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
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Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
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Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
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Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
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Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
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Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
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Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.
Foto: dapd
Funeral de Nelson Mandela
A 5 de dezembro de 2013, "Madiba" morreu em Joanesburgo. Dez dias mais tarde, teve lugar a cerimónia de despedida de Mandela na localidade de Qunu onde passou a sua juventude. Velas iluminaram um perfil do líder sul-africano. O luto foi universal: nos EUA, o então Presidente Barack Obama mandou hastear as bandeiras a meio mastro. Em 18 de julho de 2018, teria festejado o seu 100° aniversário.