Após vitória da oposição no país vizinho, moçambicanos veem cidadãos malawianos como heróis. “O Exército e a justiça malawiana mostraram estarem ao serviço do Estado e não de um partido”, opina entrevistado.
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Não é comum dirigentes e partidos da oposição vencerem eleições em África. Talvez por isso a vitória do opositor Lazarus Chakwera no Malawi esteja a dar o que falar em Moçambique. As eleições malawianas foram repetidas no dia 23 de junho devido a fraudes eleitorais.
A vitória de Chakwera domina as conversas em Quelimane, na província moçambicana da Zambézia. Na África Austral, os malawianos estão a ser vistos como "heróis democráticos". Para o analista político Lourindo Verde, essas eleições foram uma lição que deve ser assimilada e vista da forma correta.
"Essa transição do Malawi, que não seja vista como um problema para outros países. Nós somos vizinhos do Malawi, é uma oportunidade para vermos como a governação será feita com um governo da oposição”, opina.
As presidenciais no Malawi foram históricas. O Tribunal Constitucional anulou o escrutínio do ano passado e determinou a realização de novas eleições. O primeiro pleito foi vencido pelo Presidente em exercício, Peter Mutharika, por três pontos percentuais a mais do que Chakwera. A repetição das eleições mudou tudo. Chakwera venceu com 58,57% dos votos.
Um sinal a Moçambique?
O historiador Bruno Mendiate considera os malawianos heróis porque eles teriam conseguido lutar por uma causa e deu certo. "O Exército malawiano mostrou estar ao serviço do Estado e não ao serviço de um partido. A outra coisa interessante foi também como a justiça esteve do lado do Estado e não do partido, não se preocupou com quem está no poder. O que aconteceu no Malawi pode ser a alavanca para a transparência em África, pode ser um incentivo para o despertar da consciência dos próprios africanos", explica Mendiate.
Antes de Chakwera vencer as eleições no Malawi, Umaro Sissoco Embaló (rival do candidato do partido no poder na Guiné-Bissau) tomou posse como Presidente da República. O analista político Ricardo Raboco fala numa "nova era".
"É uma lição para vários partidos da oposição, ao nível do continente e da região. Quanto maior for a união dos partidos da oposição, mais chances têm de vencer as eleições", calcula.
Será que é uma lição também para a oposição em Moçambique? O analista Carlos Victorino Abdala destaca que a FRELIMO está há quase 50 anos no poder. "Há avanços, todos estamos a perceber, mas a consistência não está boa. Mesmo as eleições, da forma como ocorreram aqui em Moçambique... Eu pergunto as pessoas: Aquilo foram verdadeiramente eleições livres, justas e transparentes? As pessoas riem-se e eu me pergunto, riem-se de quê? Isso não é novidade”, opina.
Abdala ressalta que se há algo que as eleições na Guiné-Bissau e no Malawi mostram é que, a qualquer momento, tudo pode mudar: "A política pode ter outro passo de abordagem".
Moçambique: As novas estradas do Niassa
Com a reabilitação das duas principais estradas do Niassa, a N13 e N14, vitais para o desenvolvimento da província, a ligação da região com o resto de Moçambique e países vizinhos torna-se mais rápida e segura.
Foto: DW/M. David
Mãos à obra
A província de Niassa, a mais extensa de Moçambique, é potencialmente rica em agropecuária, turismo, conservação, extração mineira, entre outras atividades. No entanto, o estado das vias de acesso constitui o principal entrave no desenvolvimento económico da província. Mas esse cenário já começou a mudar com as obras de reabilitação de várias vias.
Foto: DW/M. David
Estrada N13
Finalmente arrancou a construção da N13, estrada nacional que liga as províncias de Nampula e Zambézia, através da via do Cuamba. Também tem ligação com o vizinho Malawi, passando pelo distrito de Mandimba. A reabilitação está dividida em três partes: nas ligações de Lichinga-Massangulo, Massangulo-Muita e Muita-Cuamba. Estes são troços mais complexos devido às pontes que devem ser construídas.
Foto: DW/M. David
De Moçambique ao Malawi
Devido a relação de proximidade entre os dois povos, a estrada Mandimba-Malawi foi igualmente contemplada pelo projeto de asfaltagem. Neste momento, a estrada esta totalmente planada, faltando apenas o seu revestimento para permitir uma ligação mais efetiva entre os dois países vizinhos. O antigo troço dificultava a circulação de pessoas e bens praticamente em todas as épocas do ano.
Foto: DW/M. David
Estrada Montepuez-Balama
As obras de reabilitação e asfaltagem de cerca de 130 km de estradas decorrem a todo gás para que este troço esteja pronto até fevereiro de 2020. Trata-se de uma via que liga a cidade de Montepeuez, em Cabo Delgado, até Balama, no Niassa. O objetivo é assegurar a ligação entre as duas províncias nortenhas, sobretudo do Niassa ao porto de Pemba, dinamizando as trocas comerciais.
Foto: DW/M. David
Limite entre o Niassa e Cabo Delgado
Marrupa é o distrito do Niassa que faz fronteira com a província de Cabo Delgado através do distrito de Balama, separadao pelo rio Ruança. Do lado do Niassa a estrada está totalmente asfaltada. Mas o mesmo não se pode dizer sobre a estrada em Balama, como mostra a foto.
Foto: DW/M. David
Vias alternativas com problemas
No intuito de acelerar as obras de reabilitação da estrada N13 sem criar grandes transtornos na mobilidade das pessoas e bens, as empresas encarregues do projeto de asfaltagem criaram desvios através de vias alternativas. Mas estas vias não estão em condições de transitabilidade e dificultam, principalmente, a circulação de viaturas de grande porte.
Foto: DW/M. David
Travessia mais segura
A ponte inaugurada em dezembro de 2018 pelo Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, sobre o rio Lunho, no distrito turístico do Lago Niassa, é um alívio para a população local. Antes todos atravessavam o rio através de pirogas com risco de serem atacados por crocodilos. A ponte liga as zonas de Chuanga e Messumba, no distrito do Lago.
Foto: DW/M. David
Estrada N14 reabilitada
Com 455 km, a N14 liga a província do Niassa com a vizinha Cabo Delgado. Trata-se de uma estrada totalmente asfaltada e sinalizada e já aliviou muitos niassenses que passam por aquela via diariamente. A estrada conta com duas faixas de rodagem.
Foto: DW/M. David
"Desenvolvimento acelerado"
A reabilitação das estradas no Niassa já anima a população local. Euclides Tavares, que mora na capital provincial, acredita que estas obras poderão trazer um "desenvolvimento acelerado" para a região. "Acho que o Niassa vai mudar, porque o a província só está mais atrasada devido à degradação das estradas", diz o residente, que comemora o fim das obras na N14 - que liga Lichinga a Cabo Delgado.
Foto: DW/M. David
Impacto no futuro
Maria Orlando, também residente no Niassa, também comemora a conclusão das obras em algumas estradas. Para ela, estas vias "estão a trazer uma nova cara ao Niassa" e os seus impactos poderão se refletir no futuro da vida dos niassenses.