A importância da segunda dose da vacina contra a cólera
Arcénio Sebastião (Beira)
17 de julho de 2019
Decorre na cidade da Beira, centro de Moçambique, a segunda campanha de vacinação contra a cólera, depois de vários casos da doença a seguir ao ciclone Idai. Autoridades alertam para a importância da segunda dose.
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A campanha começou na segunda-feira (15.07.) e termina na sexta. Complementa a primeira realizada em abril, depois de se registarem vários casos da doença após a passagem do ciclone Idai.
Nesta segunda fase, o objetivo é imunizar 850 mil pessoas que vivem na cidades da Beira e Dondo e nos distritos de Nhamatanda, Buzi, Cheringoma e Mwanza. Nos primeiros dias, muitas pessoas compareceram às brigadas de vacinação fixas e móveis para tomar a vacina.
Importância da segunda dose
O diretor-geral adjunto do Instituto Nacional de Saúde, Eduardo Samugudo, alerta que a segunda dose é importante porque prolonga a imunidade: "Todos os indivíduos que receberão as duas doses - que receberam em abril e vão receber a segunda agora - terão uma imunidade de até cinco anos".
Tendo em conta que a época chuvosa se aproxima, Samudugo apela à adesão em massa a esta segunda fase.
"A época chuvosa aumenta o risco de doenças transmitidas, doenças diarreicas, particularmente a cólera. [Tomar] esta segunda dose da vacina é urgente", afirma.
O diretor provincial de Saúde, Chico Farmela, reforça o apelo à população para tomar a segunda dose: "A responsabilidade de adesão a esta campanha é de todos. É importante que cada um se vacine contra esta doença".
Segundo estatísticas do Governo, a primeira dose teve uma cobertura de 98%.
A importância da segunda dose da vacina contra a cólera
Medidas complementares
Frederico Brito, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), adverte, no entanto, que só a vacina não chega. "A vacina contra a cólera é uma medida complementar de um conjunto de outras medidas que devem continuar a ser levadas a cabo, como o reforço no acesso à água potável e do saneamento, para que o fator principal de risco para a ocorrência dessas doenças seja eliminado", adverte.
Esta campanha de vacinação chega num momento em que já não são registados muitos casos de cólera na província de Sofala. Após a passagem do ciclone Idai e as consequentes inundações, foram diagnosticados mais de 700 casos da doença, com oito óbitos.
Zambézia: Centros para vítimas de inundações sob pressão
Milhares de desalojados pelas cheias e pelo ciclone na Zambézia, centro de Moçambique, vivem em centros de acomodação. A DW África constatou que faltam tendas e que os médicos estão preocupados com a saúde da população.
Foto: DW/M. Mueia
Visitas de rotina
Cerca de 20 médicos e especialistas deslocaram-se este sábado (30.03) aos centros de acomodação de Dhugudiua e Namitangurine - este último, onde há um maior aglomerado populacional refugiado das cheias na Zambézia. Os profissionais de saúde juntaram-se numa ação solidária para minimizar os problemas da população. A campanha é rotineira, para controlar eventuais surtos.
Foto: DW/M. Mueia
Problemas de saúde
Doenças respiratórias, malária e diarreias afetam muitas das vítimas das inundações refugiadas nos centros de acomodação de Namitangurine e Dhugudiua, distrito de Nicoadala. No centro de Dhugudiua, criado este mês, em média, são atendidos 30 pacientes por dia. A maioria apresenta estes problemas de saúde, segundo autoridades sanitárias.
Foto: DW/M. Mueia
Uma tenda para dez pessoas
Segundo as autoridades comunitárias dos centros de reassentamento, uma tenda abriga dez pessoas. A insuficiência de tendas agravou-se nas últimas semanas e as cheias na sequência do ciclone Idai colocaram ainda mais pressão sobre as instalações. O centro de Namitangurine recebe desalojados das inundações desde 2012. Acolhe atualmente mais de mil famílias.
Foto: DW/M. Mueia
Casas e bens destruídos
No centro de Dhugudiua, a cerca de 45 quilómetros da cidade de Quelimane, vivem cerca de 80 famílias, acomodadas em tendas. São, na maioria, crianças e mulheres que foram transferidas da zona de Musselo, depois de verem as suas palhotas e bens destruídos pela força das águas no início deste mês.
Foto: DW/M. Mueia
Infraestruturas de lona
Além de servirem de moradia para as vítimas das inundações, algumas das tendas nos centros de reassentamento funcionam como unidades sanitárias permanentes e outros serviços sociais.
Foto: DW/M. Mueia
Cozinha para todos
Os desalojados no centro de reassentamento em Dhugudiua partilham a mesma cozinha para confeccionar alimentos. No chão, os conjuntos de três pedrinhas separadas por 10 centímetros são fogões a lenha improvisados.
Foto: DW/M. Mueia
Falta proteína
Há comida suficiente, mas a alimentação não é a ideal no centro de Dhugudiua. Os desalojados dizem que recebem farinha, arroz e outros donativos de diferentes organizações e doadores singulares, mas não há peixe e o feijão não chega para todos os agregados familiares. O caril é feito quase sempre à base de verduras.
Foto: DW/M. Mueia
Mil litros de água
O abastecimento de água para tomar banho e lavar roupa e loiça é garantido por um tanque móvel de mil litros instalado no local.
Foto: DW/M. Mueia
Controlar as condições de higiene
No distrito de Nicoadala, há cerca de 20 ativistas destacados exclusivamente para controlar a higiene nos centros de acomodação. A missão é vigiar o tratamento da água utilizada pelas famílias, a limpeza das tendas e sensibilizar os moradores do centro para as boas práticas de higiene para evitar surtos de cólera e malária.
Foto: DW/M. Mueia
Uma vida de desespero
Apesar do apoio que recebem nos centros de reassentamento, muitas famílias dizem-se desesperadas: não têm como começar a reconstruir as suas habitações e regressar à vida normal. A maioria dos homens não tem emprego. Muitos viviam da carpintaria e da serralharia nos locais onde viviam e, aqui, não têm onde ir para pedir financiamento. As mulheres choram a perda das suas machambas.
Foto: DW/M. Mueia
À espera de terras
Nos centros de reassentamento, os desalojados aguardam a distribuição de terrenos. Muitos não perdem a esperança de serem colocados em zonas mais seguras, em áreas menos propensas a cheias, tal como prometeram as autoridades provinciais da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
Voluntários satisfeitos
Os médicos que se deslocaram aos centros de reassentamento nesta missão voluntária mostram-se satisfeitos pela adesão popular aos serviços prestados, principalmente de testes voluntários de HIV e malária. Os profissionais de saúde atenderam ainda pacientes com várias queixas,desde dores nas articulações a dores de barriga, e prestaram serviços de oftalmologia.