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Porque as elites africanas buscam tratamento médico fora?

Privilege Musvanhiri
5 de agosto de 2025

Mortes recentes dos ex-presidentes da Nigéria, Muhammadu Buhari, e da Zâmbia, Edgar Lungu, em hospitais fora dos seus países, reacenderam debate sobre se líderes africanos confiam nos sistemas de saúde dos seus países.

Em toda África, muitos profissionais de saúde recebem salários cronicamente baixos e têm de lidar com hospitais mal equipados
Em toda África, muitos profissionais de saúde recebem salários cronicamente baixos e têm de lidar com hospitais mal equipadosFoto: DANIEL IRUNGU/EPA

Apesar de a escolha de onde cuidar da saúde ser pessoal, o facto de muitos líderes políticos se tratarem no estrangeiro chama a atenção para a situação dos hospitais locais. Afinal, é da sua responsabilidade garantir bons sistemas de saúde para a população.

A Nigéria é o país mais populoso de África e uma das maiores economias do continente. O seu ex-presidente, Muhammadu Buhari, perdeu a vida no dia 13 de julho numa clínica em Londres.

Buhari governou a Nigéria entre 2015 e 2023. Mas, à DW, Jamila Atiku, investigadora em saúde pública na Nigéria, afirma que o sistema de saúde no país continua precário.

"O maior problema são as infraestruturas. Não há medicamentos nem equipamento médico funcional," afirma.

O ministro da Saúde da Nigéria, Iziaq Adekunle Salako, reconhece o problema. Para ele, há algumas melhorias "em termos de financiamento do setor".

"Mas também devo dizer que não existe nenhum sistema de saúde no mundo que seja 100% perfeito," acrescenta.

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Baixo investimento

Porém, em muitos países africanos, a situação é caótica. Há baixo investimento em saúde pública. O ativista zimbabueano, Chamunorwa Mashoko, diz que uma das razões é a excessiva dependência da ajuda externa.

"Mais de 32 dos 54 países africanos não destinam orçamentos significativos à saúde. Isso acontece porque dependem demais da ajuda dos doadores," considera.

Mashoko alerta que essa ajuda tem limites.

"O financiamento estrangeiro tem apenas fins diplomáticos. Quem nos ajuda não vive os nossos desafios," defende o ativista.

À espera de infraestruturas

Em 2001, os países da União Africana prometeram investir 15% dos seus orçamentos em saúde. Mas, mais de 20 anos depois, só o Ruanda, o Botswana e Cabo Verde cumpriram essa meta.

Enquanto isso, milhares de africanos continuam a viajar para países como a Índia em busca de tratamento. Só os nigerianos gastam cerca de mil milhões de dólares por ano em viagens para cuidados médicos.

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Mas o ministro da Saúde da Nigéria, Iziaq Adekunle Salako, promete mais hospitais no país nos próximos dois anos.

"Queremos garantir que, até 2027, pelo menos 17 mil unidades de saúde primária estejam a funcionar na Nigéria," promete.

Papel da sociedade

No entanto, o ativista zimbabueano Chamunorwa Mashoko defende que as soluções para a saúde não devem estar apenas nos governos. A comunidade tem também uma palavra a dizer.

"As comunidades precisam de se unir e criar sistemas de saúde que funcionem para elas. Se dependerem dos líderes políticos, a situação não vai mudar," alerta.

A saúde é um direito de todos. E garantir esse direito começa com investimento, mais formação para o pessoal técnico e médico, compromisso e vontade política. Para que, no futuro, ninguém precise sair do seu país para cuidar da própria vida.

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